* Por Edna Domingos
Eu construí a minha carreira sempre querendo aprender um pouco de tudo, bastante maravilhada com todas as alternativas que um departamento de marketing poderia me proporcionar. Eu tinha a alma do que chamam hoje de “profissional slash”.
Para quem não sabe o que significa, é aquela profissional que faz isso, isso também e mais isso aqui. Mas, nessa trajetória, me encontrei em um dilema que entendo ser cada vez mais comum para pessoas que trabalham em empresas com um plano de carreira linear: ser especialista em algo ou ser uma líder de pessoas?
Não são todas as empresas que trabalham com o modelo de carreira em Y. Esse modelo contempla profissionais que têm perfil de gerenciar pessoas e também que têm habilidades específicas para se tornarem especialistas em uma área técnica, por exemplo. Aqui, os salários para gerente e especialista estão no mesmo nível.
Porém, ainda vemos no mercado a disparidade de salários e reconhecimento de cargos de liderança quando comparados a cargos de especialistas. Muitas vezes, tornando “natural” o caminho de gestão de pessoas para quem não leva nenhum jeito para o cargo. Neste cenário, a empresa não leva em conta as aptidões pessoais e os interesses de cada profissional.
Quando me dei conta desse movimento, tentei levantar o máximo de informações possíveis sobre o que era necessário para ser uma boa gestora e o que era preciso para ser uma boa especialista. E hoje, divido com vocês as minhas conclusões baseadas em todos esses anos de atuação no mercado:
Perfil líder de pessoas:
– em primeiríssimo lugar, tem que gostar de gente e de desenvolver pessoas;
– saber ser ouvinte;
– tem que estar sempre olhando para processos, pessoas e fazer o movimento acontecer da forma mais harmônica possível para entrega do resultado;
– promover a cultura da empresa;
– ter visão global do negócio.
Perfil especialista:
– foco e muito estudo em assuntos específicos;
– ter bastante conhecimento prático ou técnico;
– trazer possibilidades de discussão;
– ter capacidade e gostar de solucionar problemas, principalmente, os complexos que exigem inovação;
– ter visão de inovação de processo.
Durante o processo das conclusões acima, me deparei, também, com alguns outros obstáculos que dificultaram bastante a minha decisão: a falta de representatividade de mulheres em cargos de gestão e a representatividade ainda menor em cargos de especialistas – o que atrapalha, e muito, a nossa ambição de carreira.
Nós, mulheres, temos muito mais dificuldade quando o assunto é ascensão de carreira. Alguns boicotes, muitas vezes velados, que geram insegurança sobre a nossa capacidade profissional é um exemplo básico do nosso dia a dia em empresas. Além das nossas experiências pessoais, muitas pesquisas mostram que a mulher só se candidata a cargo com posições hierárquicas mais altas se ela realmente tem todos ou mais requisitos pedidos pela vaga, enquanto o número de homens que se candidata com menos requisitos preenchidos é maior.
Essa sensação de que temos que entregar mais para sermos valorizadas igualmente é muito real e injusta.
O que procurei durante toda a minha carreira e tento trazer para minha equipe, principalmente para as mulheres com quem trabalho, é que ter visões distintas, independente do gênero, sobre um mesmo tema e situação, ajuda a encontrar caminhos que sejam mais sustentáveis a longo prazo. Mulheres possuem características únicas, assim como os homens. Por isso, acima de tudo, uma equipe com diversidade é o que sempre traz os melhores resultados.
É muito importante buscar empresas que adotam essa forma de crescimento profissional, onde, de fato, especialistas entendam que possuem as mesmas opções que a liderança de pessoas. Onde exista um movimento igualitário para que profissionais tomem decisões de maneira tranquila. Por fim, acredito ser fundamental termos mais momentos de discussão acerca de desigualdade de gênero e de carreira para gerar impacto na sociedade. Para que as próximas gerações vivam em uma sociedade mais justa e encontrem um ambiente corporativo mais produtivo.
Se você ainda não decidiu qual caminho seguir ou nunca parou para pensar nisso e foi apenas sendo levada para onde sua carreira estava indo, eu vou compartilhar o que eu fiz na prática para tomar a minha decisão, o que considero ter feito toda a diferença:
– Para chegar em uma decisão, entendo ser muito importante fazer o que se gosta. Conseguir se observar como profissional e entender os pontos fortes e com o que nós realmente nos identificamos mais.
– Conversar com profissionais especialistas e líderes de pessoas e entender qual a exigência dos cargos, o que foi feito para chegarem até essa posição e como se prepararam.
– Eu fiz testes para entender se eu tinha perfil gerencial e entendo que isso me deu mais clareza.
– Outro ponto muito importante nessa decisão foi poder ser líder de um projeto. Participei de um projeto desde sua concepção, entrega final e análise de resultados. Pude acompanhar e direcionar o trabalho de pessoas de perfis diversos, dei e recebi feedbacks. Estive perto de pessoas, participando da construção do projeto e monitorando as entregas no prazo. Foi o ponto que precisava para me decidir.
– E apesar de todos os obstáculos, lutar pelo o que eu queria, mostrar meu valor enquanto mulher e, principalmente, enquanto profissional.
Acredito que se você chegou até aqui, já deve ter percebido qual foi a minha decisão, certo?
Atuo há mais de 15 anos em departamentos de Marketing, com visão generalista. Atuei tanto em empresas com foco no mercado B2B quanto B2C (varejo, indústria, agência de publicidade, aviação executiva). Atualmente, sou coordenadora de marketing em uma empresa de tecnologia.
Edna Domingos é Coordenadora de Marketing na Take – startup membro do Cubo Itaú, líder em soluções conversacionais para aproximação de marcas e consumidores. Com mais de 15 anos de experiência em Marketing e Comunicação, tendo atuado nos mercados B2C e B2B, Edna já passou por empresas dos segmentos de varejo, indústria, agências de publicidade, tecnologia/TI e aviação executiva. Ricardo Eletro, Líder Aviação, Minasmáquinas e Vallourec são algumas das empresas em que já trabalhou. Formada em Comunicação com ênfase em Publicidade pela UNIBH e com MBA em Marketing pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).