*Por Ana Debiazi
Ultimamente tem-se ouvido muito sobre novas startups – um aumento de 20 vezes delas nos últimos oito anos, pelo que aponta a Abstartups (Associação Brasileira de Startups). Com esse avanço, abre-se espaço para as venture builders: organizações que constroem startups usando recursos próprios, ‘rompendo’ os modelos tradicionais, como venture capital, aceleradoras e incubadoras. No linguajar popular, são conhecidas como “fábricas de startups”, em um modelo que compartilha recursos, como infraestrutura, marketing, jurídico, contábil, entre outros.
Ser uma venture builder tem suas dores e amores. O modelo atual é o 4.0, uma proposta mão na massa, de desenvolver as startups de forma coempreendedora, agindo de maneira semelhante a uma sociedade, empreendendo lado a lado com seus fundadores. O papel da venture builder é entregar à startup, o capital intelectual e todo o trabalho da equipe, com visão de mercado, expertise operacional e modelo de verticalização do negócio. Uma etapa que facilita o trâmite é buscar e conectar-se com quem está ligado ao seu core business – isso facilita o desenvolvimento ao longo do processo.
Uma startup tem diversas fases que precisa passar para chegar ao sucesso. No estágio do MVP (produto viável mínimo), é preciso começar a pegar mais pesado, direcionar os esforços no desenvolvimento do produto, olhando para estratégia. Em geral, nesse momento a empresa não tem ainda recursos financeiros para contratar pessoas, estruturar departamento financeiro, jurídico, contábil, de marketing. Seus fundadores precisam desempenhar todos os papéis ao mesmo tempo e não conseguem se dedicar como deveriam ao seu produto em si.
Ao mesmo tempo, ele precisa se lançar ao mercado para começar a operacionalizar. Nesse instante, o papel da venture builder é fundamental, colocando a governança em prática e ajudando a startup a entrar em operação e fazer com que o empreendedor se dedique ao negócio, produto e estratégia.
As aceleradoras e incubadoras não devem ser deixadas de lado. Embora possuam uma atuação mais distante do empreendedor, é mais direcionadora, mensurando indicadores de sucesso, como o faturamento. Elas mitigam seu risco pela diversificação, têm um alto rigor na questão dos investimentos e atuam através de mentorias frequentes – como se fossem influenciadoras da startup. Já as ventures builders atuam com uma interação recorrente, uma forma de trabalhar mais próxima e seus indicadores são mais voltados para o qualitativo.
Quais seriam as vantagens para quem investe em startups? Como é o retorno financeiro? Através da valorização do capital que é investido nesse negócio. Como comentei, o formato é parecido com o de sociedade, existem cotas que a venture builder possui daquele negócio, e conforme vai havendo retorno financeiro (leva em média 5 anos), a startup assume a totalidade do controle, pegando a parte da investidora a ela, retornando assim o capital investido e agora valorizado.
O retorno e a valorização estão atrelados ao momento em que a startup se encontra. Dinheiro nem sempre é a solução. Investidores às vezes são mais fáceis de encontrar. Tem rolado uma movimentação maior no mercado em relação às pessoas investindo em pequenas empresas, como investidores anjo, fundos de investimentos, venture builders.
O que precisa ficar em evidência é a capacidade de entrega de resultados para atrair esse capital, mostrar a viabilidade do negócio. O fundador precisa ter uma visão direcionada em resultado. Nesse momento o papel de co-empreendedor se torna fundamental, para mostrar que é necessário estrutura, governança, pessoas, boa gestão, para captar clientes, ganhar share, estruturar uma base e então alcançar o retorno financeiro. Isso é atrativo para o mercado de capitais.
Na minha visão, o principal dilema do ecossistema das startups é esse. Não é que falta capital para investir em negócios inovadores, mas pessoas que demonstrem a capacidade de entrega de resultados para atrair esse capital – e é esse o papel.
*Ana Debiazi é CEO da Leonora Ventures.