* Por Luiz Vagner Raghi
Recentemente o professor de comportamento organizacional na Graduate School of Business, da Universidade de Stanford, Jeffrey Pfeffer, publicou um livro cujo tema central gira em torno de que os locais de trabalho estão matando as pessoas. A mídia internacional divulgou artigos alusivos a esta obra e, após a consulta a alguns, fiquei inspirado a escrever e reproduzo a seguir um entendimento sobre a saúde mental e a produtividade, esclarecendo que minha formação de opinião é baseada na ciência e também na minha vivência que é nada mais, nada menos, que a experimentação da ciência.
Começo pela equação da produtividade, a seguir representada:
Tecnologia: Aplicação de hardware e software + Conhecimento: Inerente ao ser humano + Bem-estar: Ambiente de trabalho (Open space & Open mind)= Melhora do desempenho e da produtividade
Obs: Foco no que a empresa pode gerenciar.
Explicando a equação da produtividade, a tecnologia envolve a aplicação de hardwares e softwares em qualquer processo de geração de produtos ou serviços.
O conhecimento, por sua vez, representa um campo de estudo profissional específico, que está sendo tratado pelo mercado como hard skills .
O bem-estar quando se aborda o open space refere-se aos aspectos físicos dos locais de trabalho e quando se aborda o open mind refere-se aos aspectos psíquicos que o mercado trata como soft skills .
Abordarei nesta série de artigos o open mind apenas.
Só podemos falar de open mind se conhecermos um pouco sobre o cérebro humano e funcionamento de alguns de seus órgãos, apesar de que, cientistas afirmam que conhecemos apenas em torno de 1% do que ainda viremos a conhecer sobre o mesmo.
O cérebro humano é milhares de vezes mais potente do que o melhor computador existente, possui 100 bilhões de neurônios, registra todos os fatos que presenciamos (através do que vemos/sentimos), e é utilizado somente em até 10% da sua capacidade. Ele controla o corpo por meio de impulsos eletroquímicos.
O cérebro é alimentado pela eletricidade extraída do oxigênio que respiramos e pela química que é fabricada pelo corpo e/ou extraída dos alimentos ingeridos.
O Lado esquerdo é o acadêmico racional (números, lógica) e o Lado direito é o criativo inovador (intuição, ritmo, música). Os dois lados se comunicam e já existem cientistas contestando esta divisão, com experiências ainda em caráter inicial.
A mente humana é a chave do sucesso do Ser Humano, onde ficam armazenados os fatos que presenciamos, nossa memória. O ser humano é a representação fiel de sua mente! A mente alimenta-se dos pensamentos sendo de fundamental importância adquirir hábitos de leitura e estudos saudáveis.
Plasticidade cerebral – Propriedade do cérebro que consiste em um sistema adaptativo dinâmico que molda o cérebro, aumentando sua capacidade conforme nós o exigimos. É como fazer o upgrade do computador. A ginástica cerebral contribui para a plasticidade cerebral.
Nosso senso de ser vai além do nosso corpo físico, envolve as pessoas e coisas à nossa volta, conforme a frequência de uso e contato.
Amigdala – Memória emocional do conjunto cérebro/mente, armazena fatos condizentes, que presenciamos (bons ou ruins), durante nossa existência, sendo que muitos são originários da infância quando ocorre a principal formação valores.
Neurônios inibidores associam o que está armazenado na memória emocional a situações vivenciadas no momento para orientar nossa postura!
O sequestro de amigdala ocorre quando acontecimentos desagradáveis vivenciados no momento, podem encontrar ou não situações semelhantes armazenadas na amídala e provoca o estresse, que é uma reação com emoção forte e desequilibra o organismo do ser humano. O estresse trava a mente das pessoas e inibe o aprendizado e a criatividade.
Consequências físicas do estresse – Diminui a irrigação do sangue no cérebro, prejudica seu funcionamento e dificulta o acesso às informações na memória, diminui suas funções, aumentando a função do instinto animal. A produtividade é baixa podendo ser nula.
A gestão cartesiana e o ser humano
A gestão da empresa é cartesiana, definida por um pensamento lógico, linear; funciona como um regime cartorial.
A tecnologia é bem utilizada pelas organizações, mas a utilização do potencial do cérebro humano ainda carece de muito aprendizado.
O ser humano pode ser um fator limitante ou um diferencial competitivo.
Para ser o principal diferencial competitivo na organização, durável e difícil de ser imitado, dependemos de educação e conscientização.
– A exacerbada pressão no ambiente de trabalho poda a criatividade e precisa ceder espaço para a conscientização.
– A organização contemporânea depende da criatividade para manter-se competitiva.
– A criatividade é uma faculdade do ser humano, quando possui sensação de pertencimento e bem-estar no ambiente de trabalho.
Penso que são dois os desafios que estão presentes na gestão contemporânea:
– Conciliar a gestão cartesiana com o ser humano.
– Desenvolver o bem-estar nos ambientes de trabalho, por meio do Open space e do Open mind.
Outros estudiosos podem emitir opiniões com outros vieses e é este o processo de formação de opinião que deve fluir na sociedade, que aqui na Universidade Presbiteriana Mackenzie conhecemos por Aprendizagem Transformadora: você tem acesso a um conteúdo, experimenta este conteúdo, avalia e incorpora na sua forma de ser (ou não).
Ressalto que, para as pessoas que acreditam que a máquina/tecnologia irá substituir o homem, sugiro pesquisar Miguel Nicolelis – neurocientista brasileiro que afirma que o cérebro funciona no modelo de processamento distribuído (adaptativo) e não como um sistema linear (computador).
Recomendo fortemente que todos os administradores e gestores apoderem-se destes conhecimentos para facilitar suas posturas nos diversos papéis que representam no dia a dia, na vida pessoal e profissional.
Aos profissionais de recursos humanos especialmente, pois precisam adotar e estimular a aplicação de diversos conceitos relacionados aos aspectos psíquicos e que veremos nesta série de artigos, contribuindo para ambientes de melhor bem-estar.
Concluo que os profissionais de recursos humanos, administradores e gestores precisam entender prioritariamente de gente, para depois entenderem de outros campos de conhecimento, pois na medida em que a tecnologia evolui, ficamos mais dependentes do ser humano para criar novidades e isto a máquina não faz.
* Luiz Vagner Raghi é graduado em Administração de Empresas. Pós-graduado em Administração de Recursos Humanos. Mestre acadêmico em Administração – Gestão de Pessoas e Organizações. Atua como Professor Universitário em cursos de Graduação e Pós-graduação na Universidade Presbiteriana Mackenzie.