* Por Dagoberto Hajjar
No ano passado, eu entrevistei 100 presidentes de empresas, nacionais e multinacionais, para identificar a percepção do principal executivo da empresa com relação à tecnologia e os serviços prestados pelo departamento de TI (Tecnologia da Informação). As respostas foram bastante homogêneas e vou tomar a liberdade de citar uma das entrevistas que foi a mais emblemática.
O presidente disse que “quanto mais tecnologia, melhor a linha de produção. Portanto, tecnologia significa melhores produtos, mais eficiência e produtividade, melhor preço para os produtos, mais agilidade em colocar novos produtos no mercado e mais competitividade para a empresa”.
O presidente continuou. “Quanto a TI, já não posso dizer o mesmo. TI significa custo. Todo ano pagamos uma fortuna de atualizações de equipamentos e software para ter mais do mesmo”. “Aqui na empresa”, continuou o presidente, “chamamos o diretor de tecnologia de “o zelador”. O zelador é aquele cara que arruma as portas quebradas e troca as lâmpadas queimadas. O zelador de TI mantém o parque funcionando – só isto. O zelador nem participa mais das reuniões executivas, porque não agrega valor aos negócios e passou a se reportar para o diretor financeiro, uma vez que entendemos que TI seja custo”.
Eu fui entrevistar o diretor de TI para entender “o outro lado da história”. Quando entrei no departamento de TI, eu tive a impressão que eu havia voltando 10 anos na história. A equipe estava estressada, trabalham longas horas e finais de semana apagando um incêndio após o outro. Os equipamentos eram antigos, vi muitos processos sendo feitos de maneira manual, e o orçamento era muito pequeno. “Nossos usuários são muito críticos e não toleram nossos menores erros”, disse o diretor.
Resolvi levar o diretor para visitar uma outra empresa que havia passado por um processo de transformação digital. Entramos pelo centro de monitoramento, onde todos os equipamentos de tecnologia e celulares eram monitorados, emitindo alertas de possíveis necessidades de intervenção. Passamos por uma área com muitos post-its coloridos na parede onde os usuários e os desenvolvedores de software discutiam, juntos, as possibilidades de melhorias.
“Usamos ferramentas de desenvolvimento de software low-code e, com isto, aumentamos a produtividade dos desenvolvedores em 35%, mas melhor do que isto, é poder fazer o desenvolvimento em pequenos módulos que vão sendo testados e aprovados pelos usuários. Usamos RPA (Robotic Process Automation) para automatizar muitos dos processos, rotinas e tarefas do pessoal de TI, e com isto dobramos a produtividade do time”, disse o nosso anfitrião.
“Aqui é nossa área de gestão de contratos que cresce a cada dia, terceirizamos impressoras, equipamentos de TI, desenvolvedores, contratamos serviços de segurança e nuvem. Nossos fornecedores são altamente especializados e nos prestam serviços de alta qualidade” continuou o anfitrião. “E por final este é o nosso innovation lab onde testamos a aplicabilidade de novas tecnologias junto com os usuários. Nossos usuários gostam dos testes rápidos, onde os erros aparecem rapidamente, e podemos aprender e dar os próximos passos. Daqui já saíram ideias altamente inovadoras com análise preditiva de Big Data que aumentaram as vendas da empresa. Neste momento estamos testando Inteligência Artificial em vários pequenos processos de negócios”.
Dois mundos muito diferentes. No primeiro mundo, o departamento de tecnologia é visto como cientistas em laboratórios antigos e que não podem errar. No segundo mundo, o departamento de tecnologia se mistura com as áreas de negócios e o erro faz parte do processo de aprendizagem. E como passar do primeiro para o segundo mundo?
O primeiro passo é usar a tecnologia dentro do próprio departamento de tecnologia, automatizando tudo o que for possível, melhorando processos e ganhando eficiência. O segundo passo é integrar a equipe de tecnologia com negócios, mostrar o que a tecnologia pode fazer pelo mundo dos negócios, criar grupos de discussão, laboratórios para experimentação. O terceiro passo é usar uma metodologia ágil, ou seja, planejar passos curtos, aprender com os resultados, e rapidamente dar o outro passo.
Dagoberto Hajjar trabalhou 10 anos no Citibank em diversas funções de tecnologia e de negócios, 2 anos no Banco ABN-AMRO, e 9 anos na Microsoft exercendo, entre outros, as atividades de Diretor de Internet, Diretor de Marketing e Diretor de Estratégia. Atualmente é sócio fundador da ADVANCE – empresa de planejamento e ações para empresas que querem crescer.