*Por João Gianvecchio
A inovação, comunicação e integração são desafios clássicos no contexto corporativo. O professor e
pesquisador Ranjay Gulati já falava sobre como quebrar os chamados “silos organizacionais”
em seu artigo “Silo Busting: How to Execute on the Promise of Customer Focus”, publicado na
Harvard Business Review em 2007. Para isso, Gulati destaca quatro conjuntos de atividades:
coordenação, cooperação, capacidade e conexão – esforços organizacionais necessários
para que uma empresa e suas soluções se destaquem em um mercado cada vez mais
competitivo.
Da mesma forma que este isolamento de pessoas e departamentos em silos dificulta a
entrega de valor centrada no cliente e a consequente diferenciação da empresa perante o
mercado, a inovação também é impactada. Muito se fala sobre o processo inovativo em
níveis estratégicos ou em funções em que esses conceitos são premissas básicas, mas para
que a empresa seja, de fato, disruptiva e as inovações se tornem uma realidade, a tecnologia
e a inovação precisam estar enraizadas em todos os setores e níveis hierárquicos, dos
cargos operacionais às camadas estratégicas.
E como garantir o engajamento das diversas pessoas e departamentos com a inovação?
Apesar de ser uma problemática recorrente em termos de mercado, sua resolução não é
nada simples. Entretanto, existem algumas boas práticas que amparam a difusão da
inovação em uma organização e que merecem destaque.
A primeira delas – e talvez a mais fundamental – se conecta com a cultura. Antes de mais
nada, é importante ressaltar que a cultura organizacional é o conjunto de crenças, valores e
elementos que orientam organicamente as pessoas, as relações e as decisões de uma
organização. Tratar de transformação cultural é sempre um assunto sensível e, apesar da
sua tendência à imutabilidade, as empresas devem estar abertas a incorporar valores e
premissas de inovação aos seus artefatos culturais. Para isso, é sugerido que os valores
culturais da empresa reflitam a inovação, assim como sejam estimulados o protagonismo, a
descentralização e o compromisso de todos com a pauta.
Uma segunda boa prática que merece destaque é garantir o engajamento (buy-in)
estratégico, de modo que uma integração top-down (i.e. de cima para baixo) e bottom-up (i.e.
de baixo para cima) seja viabilizada. A inovação precisa se blindar dos anticorpos
corporativos e para isso é de suma importância ter o suporte e a participação ativa da camada
estratégica (e.g. sócios, conselho, diretoria) – isso gera um maior alinhamento com o
planejamento estratégico e facilita o acesso a recursos. E apesar de ser primordial ter a
camada estratégica embarcada, a inovação só gerará o valor esperado caso haja a
integração com as camadas tática e operacional. O alinhamento de objetivos e expectativas,
a criação e otimização de instrumentos de governança voltados para inovação (e.g. OKRs,
metas, incentivos financeiros e não-financeiros), e a identificação das pessoas entusiastas no
assunto são formas de potencializar a captação de valor através da inovação.
A governança da inovação
A governança da inovação também agrega um valor inestimável quanto à difusão da
inovação e talvez seja o elemento mais complexo de se implementar. Muito mais do que
fóruns, conselhos e playbooks, uma empresa inovadora precisa garantir processos,
metodologias, ferramentas e mecanismos de controle que permitam a gestão, a mensuração
e a escala do valor gerado pelas práticas inovadoras.
A governança é o que garantirá o alinhamento estratégico da inovação e a manutenção deste
ao longo do tempo. Envolve direcionamentos globais, métodos e mecanismos,
balanceamento de riscos e retorno, diversificação, gestão de pipeline e otimização de
processos. Desta forma, independentemente da abordagem a ser utilizada para se inovar,
como feiras de ideias, hackathons, programas de aceleração, squads de experimentação
ágil, CVC, CVB etc, a organização garante o alinhamento e a integração da inovação entre
todas as suas camadas organizacionais.
No final do dia, a difusão da inovação é um exercício contextual, multifatorial e constante,
devendo ser implementada de forma estruturada através de diferentes práticas e estratégias.
Das pequenas coisas da rotina operacional aos grandes debates estratégicos, do estagiário à
presidência, a tecnologia e a inovação devem ser compreendidas como parte essencial de
um todo e não como propriedade ou responsabilidade de poucos. Desta forma, o verdadeiro
valor da inovação poderá ser captado pela organização e por todos.
*João Gianvecchio é head de inovação do banco BV
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