* Por Carolina Utimura
Diante de um novo cenário, além dos escritórios modificarem suas operações para o home office, muitas empresas também precisaram digitalizar seus processos. Nessa realidade cada vez mais virtual, o mundo corporativo antecipou muito do que era tido como futuro do trabalho e rompeu diversas barreiras que até então eram tabus.
Grandes empresas encontraram inúmeros benefícios nesse formato e anunciaram que vão adotar o home office até o final de 2020 para a maioria do seu time. Por outro lado, boa parte do mercado ainda enfrenta dúvidas e dificuldades sobre a implementação e continuidade desse modelo.
Apesar de não haver um mapa do tesouro, é possível listar alguns princípios para o bom trabalho remoto:
Confiança
A transição para o remoto exige questionar uma estrutura tradicional e padrão de mercado. Como herança de um trabalho da era industrial focado no comando e controle, várias organizações são muito pautadas pela burocracia para desenvolver seu negócio.
O primeiro passo para um bom trabalho remoto é adotar uma cultura de confiança. Se ao final do dia e do mês as entregas foram realizadas com excelência, as diferentes rotinas e formas de produtividade de cada pessoa tornam-se um elemento secundário. Esse ‘como’ mais flexível possibilita ao colaborador uma qualidade de vida mais integral, relacionando a liberdade com a responsabilidade.
Adaptação
Um primeiro susto durante a pandemia foi adequar a operação e fornecer um mínimo necessário para se trabalhar: acesso a plataformas e infraestrutura. Em seguida, foi possível perceber que o trabalho remoto não é apenas uma questão de estrutura física. É sobre introduzir aos poucos uma nova mentalidade, enxergar possibilidades e definir quais atividades podem ser feitas remotamente ou não.
Em muitos casos a competitividade e a inovação aumentaram. A partir disso, também surgiu uma possibilidade de contratar talentos de qualquer parte do país, e porque não do mundo. Essa quebra de barreiras, uma liderança consciente e o acesso a diversas ferramentas impactarão todo o ciclo de aquisição de talentos e a responsividade dos negócios.
Entenda: trabalho remoto não é home office. Para esse modelo funcionar é preciso dessa nova ótica sobre autonomia e autogestão para aceitar que o trabalho pode acontecer em qualquer lugar e a qualquer tempo.
Saúde
Outro grande aprendizado desse momento é ter a sensibilidade para encarar que as pessoas estão trabalhando em casa em meio a uma pandemia, o que é diferente de uma cultura de home office ou trabalho remoto de fato. Isso traz inúmeros desafios para que todos desenvolvam sua inteligência emocional e vulnerabilidade.
Os principais planos de ação realizados até então foram estruturar espaços para estimular a segurança psicológica e proporcionar benefícios que auxiliam a saúde e o espaço de trabalho dos colaboradores.
Além disso, ainda não sabemos como lidar com um possível retorno. Por isso, é essencial que os colaboradores sintam-se seguros novamente em um trabalho presencial e isso se dará por meio de diálogo e ações que prezam pelo bem-estar em primeiro lugar.
Rituais
Rituais estruturados diminuem a assimetria de informações. A rotina de trabalho foi imensamente impactada e demandou tanto ferramentas mais personalizadas quanto uma comunicação mais rápida para proporcionar ritos transparentes.
Ciclos semanais entre as equipes são necessários para acordar caminhos e alinhar entregáveis finais. Nesse processo é importante ativar a escuta para entender com o time o caminho que deve ser percorrido e quais são os impedimentos, e para alinhar os indicadores e os resultados esperados. Tornar esses momentos mais visuais, abrindo estratégia e acordando a execução, trará mais clareza e pertencimento.
Somado ao ritos de gestão, os espaços focados nas pessoas também são prioritários. Pontos de contato como reuniões de feedback one-on-one, happy hours e até mesmo os check-ins em reuniões coletivas para saber o que está por trás das telas reforçam a empatia e uma visão do todo.
Agilidade
Quais comportamentos precisam ser reforçados e quais não se encaixam mais?
Talvez algumas decisões sejam uma adaptação para o agora mas outras passem a tornar-se perenes para a empresa. Por isso, implementar uma cultura ágil é um ótimo caminho para atuar com base no essencialismo e priorizar o que de fato faz sentido para o momento atual, equilibrando o foco no curto e no longo prazo.
O diferencial está no formato que possibilita que as etapas dos projetos ocorram e suas hipóteses sejam validadas gradativamente, dando mais velocidade ao processo, já que as falhas são ajustadas logo que surgem e os aprendizados podem ser aplicados em seguida.
Enquanto liderança usufrua desse momento desafiador como um presente e uma nova oportunidade para envolver a sua equipe e manter o melhor do trabalho remoto. Isso ajudará a sua empresa a identificar o que é realmente valioso para as pessoas e a construir um ambiente cada vez mais acolhedor, que potencializa o melhor de cada um.
* Carolina Utimura é CRO (Chief Revenue Officer) da Eureca, consultoria que conecta jovens com o mercado de trabalho e atua em Educação e Desenvolvimento Profissional.