O Cubo Itáu está comemorando seus 5 anos em setembro e para celebrar essa data especial convidou na última semana Romero Rodrigues, sócio-diretor da Redpoint eventures e Cesar Carvalho, cofundador e CEO do Gympass, para falar, em uma live, sobre inovação, futuro do negócio e os desafios e problemas resolvidos pela startup.
O Gympass, que foi fundado em 2012, tem como missão acabar com o sedentarismo no mundo. Para isso, a empresa acredita que todo mundo pode encontrar uma atividade física que goste. Com esse pensamento, a startup já atua em 14 países, como França, Alemanha, Holanda, Itália, Reino Unido e Estados Unidos (sendo esse, o último país a receber a expansão do Gympass) e possui mais de 50 mil parceiros.
Cesar contou sobre como surgiu a ideia para a criação da startup. “Toda ideia que é boa vem de uma necessidade e eu acho que o que separa as empresas muito boas, muito grandes, de outras, é a o tamanho da necessidade e a habilidade de executar bem para suprir essa necessidade”, afirmou.
Assim, o cofundador que até então trabalhava como consultor e estava constantemente em clientes diferentes, não conseguia manter uma rotina definida voltada ao bem-estar. Com uma queda em sua qualidade de vida, e durante um MBA nos Estados Unidos, pensou “não seria ótimo se eu não precisasse me afiliar a uma só academia?”. A ideia de ter uma chave ou uma passaporte que permitisse a entrada em diversos locais sem a necessidade, por exemplo, de cumprir um contrato anual sem nem ao menos ter gostado das aulas, em único lugar, foi o pontapé inicial.
Focado, portanto, no consumidor final e até então trabalhando só com academias, o Gympass ganhou forma. Hoje, com foco no B2C, Cesar contou que apesar da execução um pouco diferente o problema continua o mesmo, bem como a ideia de trazer valor ao usuário e oferecer diversas opções para que ele encontre a ideal para sua necessidade.
Cesar também relembrou o momento de pivotagem que veio em 2013, em um momento que o Gympass ainda procurava seu market fit. Segundo ele, tudo começou com um telefone do diretor de RH da PWC que, após usar o serviço como pessoa física, teve a ideia de oferecer também aos seus colaboradores já que a solução do Gympass excluía algumas burocracias como serviços de reembolso, definição de política, entre outras.
Como a startup estava justamente em um momento de testar novas soluções, Cesar topou a parceria e foi assim que percebeu estar no caminho certo. “Quando a gente lançou esse cliente, o tamanho da empresa multiplicou por três, em dois dias”, contou.
Relembrando toda a jornada empreendedora à frente da Gympass, o cofundador também falou o que mudaria se pudesse voltar no tempo. Primeiramente, ele destacou que toda estratégia de crescimento traz a um fundador a equação risco x retorno, possibilitando, dessa forma que ele trabalhe com algumas possibilidades como a otimização de retorno, com um risco maior, bem como ir mais devagar seja em captação, contratação ou investimentos como forma de balancear essa matemática.
Segundo ele, no começo, o Gympass adotou uma estratégia mais agressiva, explorando fronteiras do que a startup poderia ser. Durante esse período de mudança para corporativo, portanto, a empresa assumiu o risco de investir nesse modelo. Entretanto, segundo o cofundador, ele teria sido ainda mais agressivo batendo na porta de grandes empresas desde o começo. “Talvez as coisas poderiam ter acontecido mais cedo se eu tivesse sido mais cara de pau do que eu fui e tentado”, ressaltou.
Expansão
Cesar contou que a evolução do Gympass sempre se deu por ouvir clientes e parceiros. Sendo assim, a primeira expansão, que foi no México, foi estimulada por um cliente que gostaria de oferecer o benefício também para seus colaboradores do México.
Assim, após perceber que não era tão difícil assim uma operação de expansão, a startup deu o segundo passo a nível internacional. “Quando a gente viu que já estava funcionando no México, que a gente conseguiu trazer boas academias, conseguiu trazer boas empresas, foi natural pensar “para onde mais?”, disse.
Ele destacou também o incentivo de um investidor que o desafiou a conquistar dois contratos na Espanha garantindo, caso alcançasse a meta, uma próxima série de investimento. Com essa motivação, seis meses depois, a empresa também conquistou o mercado europeu.
Atualmente, o Gympass é um unicórnio – empresas que valem mais de US$ 1 bilhão. A startup já recebeu investimento de grandes nomes do mercado como SoftBank, General Atlantic, Atomico, Valor Capital Group e Redpoint eventures.
O empreendedor contou que durante a jornada de internacionalização a empresa foi aprendendo que as pessoas são diferentes e que a gestão de gente deve ser adaptável em diferentes lugares, entretanto, apesar desses contrastes, a necessidade do consumidor continua a mesma em qualquer lugar do mundo para a maioria das coisas.
Essa internacionalização também permitiu ao Gympass reagir rápido à pandemia de coronavírus. Com uma forte presença na Itália, país que entrou em lockdown três semanas antes do Brasil, quando a onda da doença atingiu o País, a startup já estava com algumas soluções em desenvolvimento avançado, como a live class.
Para entregar ao mercado soluções que realmente atendesse a necessidade por aqui, a startup foi atrás de entender o que empresas e academias precisavam naquele momento o que resultou em uma nova solução, baseada no que eles já tinham.
A primeira aposta, nesse sentido, foi a criação de uma plataforma para academias parceiras permitindo que elas oferecessem aulas via streaming. Foi um jeito ótimo de ser fonte de renda para academias que não podiam estar operando”, ressaltou.
Logo em seguida, a startup criou uma solução focado nos personal trainers, já que muitos foram demitidos em primeiro momento, possibilitando que estes oferecessem aulas virtuais aos membros da plataforma.
Por fim, ao perceber que o RH precisava de soluções que fosse além de atividades físicas, o Gympass construiu um marketplace de aplicativos de bem-estar para oferecer gratuitamente aos usuários.
Liderança
Tanto Romero quanto Cesar destacaram que uma boa estratégia de vendas deve ser uma das principais características para bons líderes. Além dela, o cofundador do Gympass apontou também para uma liderança inquisitiva e antenada, principalmente no início da jornada, o que garante que a empresa esteja resolvendo um problema que de fato alguém queira que seja resolvido, da maneira certa.
Já em um momento de escalabilidade, e quanto mais madura a empresa, ele ressaltou a importância de criar uma cultura que ajuda no direcionamento do comportamento e de como tratar o cliente de uma forma que funcione mesmo sem uma supervisão. “É muito fácil a empresa multiplicar de tamanho, ter mil funcionários, e perder a essência do que é importante”, disse.
Por fim, Cesar deixa uma mensagem aos empreendedores. “Não é uma jornada fácil e quem está empreendendo sabe. Quem não está empreendendo não tem que achar que é um caminho glamoroso, necessariamente”, disse. Entretanto, ele destacou que o mundo precisa de gente que opte por esse caminho. “Inovação acontece porque pessoas tomaram risco”, concluiu.