* Por Daniela Schermann
Eu faço parte da geração que, provavelmente, vem acompanhando mais de perto a transformação do protagonismo feminino dentro das organizações.
Em meu primeiro cargo de liderança, aos 25 anos, enfrentei o desafio de ser a única mulher em uma mesa com mais 7 ou 8 gestores. Para complicar ainda mais a situação, eu era a mais nova de todos e, com isso, tinha muita dificuldade em me fazer ser ouvida e respeitada. Com o tempo, encontrei o meu espaço, a minha voz e guardo ótimas lembranças e aprendizados desta etapa da minha carreira.
Isso ocorreu há mais de 10 anos, em um momento em que definitivamente não se discutia a falta de representatividade nas empresas. De lá para cá, acho que muita coisa melhorou – mas claro, ainda há muito a se evoluir.
Na estreia deste espaço sobre empreendedorismo feminino, a Renata Zanuto, co-head do Cubo Itaú, trouxe dados relevantes que mostram como estamos longe do cenário ideal. Só pra citar um exemplo, de acordo com a Associação Brasileira de Startups (Abstartups), apenas 15% das startups são fundadas por mulheres.
É assustador quando pensamos em tudo o que está por trás desse número e é urgente trabalharmos para mudar isso. Mas sempre me preocupa ver a discussão sobre igualdade de gênero no mercado de trabalho centrada apenas nessa questão da igualdade. É como se nós, mulheres, devêssemos ocupar cargos de liderança ou de fundadoras apenas porque nós merecemos.
É claro que merecemos, e isso nem deveria ser uma questão. Mas acho que o debate deveria ir muito além. O que essas 85% startups fundadas apenas por homens estão perdendo? O que o mercado como um todo perde ao não dar voz e espaço para mulheres?
Bom, o primeiro ponto, e mais óbvio, é que o mercado consumidor é formado prioritariamente por mulheres. Hoje, as mulheres representam 52% da população brasileira e são as principais responsáveis pela decisão de compra dentro de um lar.
Ter a visão e a opinião de uma mulher nas decisões estratégicas da empresa podem trazer diferenciais extremamente relevantes para o seu negócio, seja diretamente nas vendas ou no desenvolvimento do produto, na experiência do cliente e nas ações de marketing e comunicação.
Além disso, é preciso aceitar que o mundo vem mudando em uma velocidade sem precedentes. Neste cenário, quanto mais diverso for o quadro decisor de uma empresa, mais chances de se obter novas ideias e perspectivas. Ou seja, a questão de diversidade nas empresas extrapola e muito as questões de gênero.
É preciso trazer líderes homens e mulheres com histórias de vida, vivências, experiências profissionais, culturas e etnias diferentes, para que essas visões de mundo se encontrem e resultem em inovação.
Por fim, com um quadro de gestão mais diverso, as empresas também irão atrair talentos mais variados, terão competências e habilidades diversas e poderão se beneficiar de toda essa força para alavancar seus negócios.
Daniela Schermann é head de marketing do Opinion Box, startup residente do Cubo Itaú que oferece diversas soluções de pesquisa de mercado e customer experience.