* Por Mayrá Casttro
Muito se fala em Amazonia sob a ótica do que a região precisa para se reinventar. E muito ainda se tem a descobrir sobre o que a região pode aportar para o mundo. O conceito de desenvolvimento consciente é um deles. A primeira vez em que ouvi falar sobre isso foi através de um empreendimento amazônico chamado Ô Amazon Air Water. A Ô Amazon produz água premium a partir do ar atmosférico da região, é uma empresa premiada internacionalmente e gera tributo no Amazonas, receita e renda na cidade de Barcelos, a 30 horas barco de Manaus. É uma empresa amazônida, de amazônidas.
O Cal Junior, fundador e presidente da empresa, em uma das nossas conversas me explicou algo que, para mim, vai além de desenvolvimento sustentável. E começa com a ideia de ecologia. Empreendimentos precisam ser ecologicamente correto, pois “eco” significa “casa”, logo, correto com a sua morada. Um negócio com essa característica se torna consciente à medida que entende o seu papel para com a preservação do meio ambiente, da morada, de toda a sua cadeia de valor.
E falando justamente nisso, o segundo ponto do conceito é ainda mais intrigante, pois se trata de ser socialmente justo. As cadeias da Amazônia são, em uma grande parte, de base extrativista, que é um modo de produção e um modo de vida. Não é sobre escalar uma produção tendo em vista o mercado e, sim, obter recursos com o que a natureza proporciona. E assim 95% da produção de castanha-do-Pará é de base extrativista.
Quando um empreendimento faz uso de insumos de base extrativista, está sendo inclusivo, transparente e justo do ponto de vista de repartição de ganhos? A relação entre ser ecologicamente correto e socialmente justo é intrínseca, pois à medida que se respeita a morada, é necessário respeitar quem está dentro desse ambiente. Um negócio socialmente justo reparte ganhos com justiça e propicia crescimento social. Não explora.
É óbvio que qualquer negócio precisa ser viável economicamente. Me faz pensar justamente em um outro aspecto que é o lucro. Precisamos ressignificar o que entendemos sobre isso e mudar a forma como produzimos abundância, afinal, lucro é uma forma de abundar.
A parte que me fez querer dissecar o assunto e reverberá-lo foi um aspecto de extrema importância, mas muito ainda pouco considerado. O conceito de desenvolvimento consciente fala sobre empreendimentos culturalmente aceitos. Essa é uma questão reveladora, pois pode amalgamar todos os outros aspectos. Mesmo que se gere valor econômico, social e ambiental, o empreendimento é aceito pela cadeia de valor?
No caso da Amazônia, aspectos culturais podem fazer diferença em uma negociação, mais do que se pode imaginar. Já vi empreendedores na região dizendo não para investimento, pois se a relação for meramente empresarial, não se cria laços de confiança. E nos dias atuais, o assédio em cima dos mesmos empreendimentos está em curva crescente. Desenvolvimento regional não é sobre dinheiro, é sobre construir em conjunto.
Sob uma perspectiva local, é inexplicável o tamanho da atenção que a Amazônia está tomando em todos os níveis e esferas, assim como, é inexplicável o quão relevante é criar condições para que modelos regionais surjam e floresçam.
Como estamos em um momento de construção de novos paradigmas na região, olhar para o que faz sentido localmente e desenvolver mecanismos que acelerem esses processos, é criar uma economia que inverta a lógica atual, de uma Amazônia fornecedora para uma Amazônia referência. E o conceito de desenvolvimento consciente provoca esse tipo de reflexão.
Nascida na Amazônia, em Belém do Pará, Mayrá Casttro é fundadora da empresa InvestAmazônia, advogada e designer de conexões e parcerias. Mestre em Direito Internacional e Europeu pela Universidade de Genebra, na Suíça, Mayra morou 6 anos na Europa e tem 15 anos de experiência em desenvolvimento de parcerias, design de projetos, tradução cultural e construção de equipes. É TEDx speaker, conselheira emérita do Capitalismo Consciente, conselheira consultiva, palestrante, embaixadora do Seedstars World no Brasil e jurada de competições de startups.
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