Nos últimos dois anos, o cenário do setor bancário se modificou aceleradamente. A chegada das fintechs e novos players, a digitalização de processos e pagamentos, a rápida adoção de inovações e tecnologias, a escalada de investimentos em cibersegurança, foram um desafio. À medida que 2021 foi um ano de transição, também foi um ano de consolidação das organizações.
Pensando nisso, o Capgemini Research Institute desenvolveu o estudo Top Trends Retail Banking, que aponta as 10 principais tendência para 2022 como forma de ajudar os gestores a se posicionarem melhor em meio a tantas variáveis.
“O ecossistema de banking tem se tornado muito complexo e competitivo com a entrada da Big Techs e das fintechs. São empresas que já nasceram nativas digitais e têm uma facilidade maior em apresentar novos serviços. Por outro lado, as instituições tradicionais estão mais maduras para oferecerem opções do mundo financeiro mais aberto e transparente”, explica Roberto Ciccone, vice-presidente Financial Services da Capgemini Brasil.
Ainda de acordo com o executivo, a hiperpersonalização no atendimento e no oferecimento de serviços e produtos é uma realidade. “As instituições que dominarem o ecossistema de dados dos clientes, conseguirão, por meio dele, estabelecer um relacionamento mais verdadeiro e profundo com seu correntista. Isso impactará em fidelização em um segmento extremamente competitivo e em maior consumo de produtos e serviços de sua instituição por parte deste consumidor”.
Fábio Cossini, líder de Soluções para Bancos da Capgemini Brasil, destaca que outros fatores igualmente importantes também devem receber atenção especial dos gestores e irão influenciar os clientes a escolher qual instituição irão trabalhar e colocar seus investimentos. “O Top Trends aponta que adesão às práticas ESG, investimentos em cyber security, experiência de pagamentos mais fluidos, agências totalmente digitais e com tecnologia mais intuitiva serão decisivos para consolidação e conquista de mercado”.
O estudo dividiu as 10 tendências em 4 pilares, classificando-as de acordo a afinidade e a prioridade de implementação:
Interrupção de mercado
1 – As linhas indefinidas entre fintechs e bancos
Em uma carta aos acionistas de abril de 2021, o chefe da instituição financeira JPMorgan Chase, Jamie Dimon, disse que os bancos enfrentam uma concorrência significativa de fintechs e BigTechs. Ele descreveu a situação como uma “enorme ameaça competitiva” e acrescentou que o papel dos bancos no sistema financeiro está diminuindo.
O estudo diz que em todo o mundo, as fintechs estão defendendo produtos bancários digitais. Elas estão construindo produtos intuitivos, fáceis de usar, inteligentes e econômicos com uma velocidade incrível para o mercado. E os bancos tradicionais estão lutando para recuperar o atraso. “A capacidade desses players da nova era de alavancar as mídias sociais, integrar dados e orquestrar plataformas escaláveis está ajudando-os a conquistar uma fatia significativa do mercado”, diz pesquisa.
Os principais bancos do Brasil começaram a imitar as fintechs lançando produtos de banco digital para atrair e reter clientes. Eles também iniciaram incubadoras de fintech para melhorar seu potencial de inovação. O Nubank, sozinho, iniciou a revolução financeira no mercado brasileiro e está expandindo constantemente sua influência em outros mercados latino-americanos.
“As fintechs são astutas na criação, cultivo e monetização de efeitos de rede por meio de suas plataformas digitais nativas. Embora elas não consigam derrubar os grandes bancos, podem substituir os bancos de médio porte (bancos comunitários e cooperativas de crédito), que estão lutando para competir”, explica o estudo. “Para competir com os players da nova era, os bancos podem adquirir capacidades por meio de fusões e aquisições e investimentos estratégicos (por meio de seus braços de risco) em fintechs”.
2 – Bancos dobram a transformação de custos para melhorar a saúde financeira
A pandemia forçou bancos em todos os lugares a reexaminar sua base de custos como proteção contra incertezas. De acordo com a pesquisa, as empresas relataram quedas acentuadas nos lucros à medida que as despesas relacionadas ao COVID-19 aumentaram.
Para suprir as dificuldades, os bancos estão criando iniciativas estratégicas de transformação de custoso que ajudam a melhorar a relação custo-benefício e ao mesmo tempo canalizam as economias para financiar a transformação digital.
“Os bancos precisarão criar provisões para financiar seus planos de crescimento futuro, e isso torna a transformação estratégica de custos uma iniciativa de alta prioridade no curto prazo. Simplificar a TI e racionalizar os aplicativos ajudará os bancos a reduzir custos, aumentar a produtividade e a eficiência que podem ser canalizados para financiar novas iniciativas e inovações digitais”, explica Nilesh Vaidya, líder do Setor Global da Capgemini.
Criando e habilitando novo valor
3 – O Banking-as-a-Service pode desbloquear o potencial de mercado latente
As iniciativas de transformação de custos devem ser sempre acompanhadas por formas inovadoras de criar novos fluxos de valor. A abordagem da plataforma Banking-as-a-Service (BaaS) é um desses passos para a geração de valor sustentável a longo prazo.
O BaaS está ajudando os bancos tradicionais a criar novos modelos de receita, que permitem que os titulares monetizem sua pilha bancária (dados, recursos e infraestrutura) por meio de acordos de compartilhamento de receita, cobranças únicas de configuração, taxas de assinatura ou uma combinação destes. O resultado, segundo o estudo, é um fluxo de receita constante alimentado por diversas fontes.
4 – Banco na nuvem para desbloquear novas fronteiras de valor
Mais da metade (56%) dos executivos entrevistados como parte do World Retail Banking Report 2020 disseram estar prontos para implementar a nuvem em escala até 2022.
5 – O poder por trás da era experiencial Banking 4.X: ecossistemas de dados emergentes
Um relatório do Capgemini Research Institute (CRI) descobriu que 73% dos bancos planejam lançar novas iniciativas em torno de ecossistemas de dados durante 2022 e 2024. A pesquisa com executivos, especialistas e acadêmicos também sugere que mais de 40% dos bancos investirão mais de US$ 50 milhões anualmente em iniciativas de ecossistema de dados.
6 – Os pioneiros construirão subsidiárias apenas digitais para permanecerem relevantes e resilientes na era fintech
Embora os clientes estejam dispostos a experimentar novos produtos e serviços de players da nova era, a pesquisa de clientes do World Fintech Report 2021 também destacou que 68% dos clientes experimentariam um banco somente digital operado por um titular, sinalizando confiança nos bancos tradicionais.
“Um benefício de ser um banco digital apoiado por um titular é que ele oferece o melhor dos dois mundos. Pode-se extrair os melhores aspectos do espírito inovador da fintech e combiná-lo com a experiência e a marca de um banco estabelecido”, explica Marieke Flament, CEO da Mettle, Reino Unido.
Segurança e Sustentabilidade Empresarial
7 – A cibersegurança está se tornando um diferencial competitivo para os bancos
Esse aumento obriga os bancos a adotar uma estratégia abrangente de Gerenciamento de Identidade e Acesso (IAM) para impedir ameaças cibernéticas decorrentes de mudanças no comportamento do consumidor, forças de trabalho remotas e mudanças nas estruturas de mercado.
Além disso, as soluções modernas de IAM com recursos inteligentes (IA e ML) também aceleram a integração do cliente automatizando processos críticos da sua jornada e eliminando a necessidade de supervisão humana.
8 – Bancos devem acelerar sua transição para se tornarem empresas centradas no planeta
Os bancos atuam como intermediários-chave na busca do zero líquido, estabelecendo ofertas sustentáveis, mecanismos de financiamento e princípios de investimento. Os bancos podem liderar o processo por meio de suas funções, financiando os projetos certos e capacitando empresas, sociedade e pessoas que desejam acelerar sua transição verde.
A pesquisa com clientes do World Retail Banking Report 2021 destacou que, em média, 65% dos clientes desejam que seus bancos reduzam sua pegada de carbono seguindo processos sem papel, consumindo energia renovável e oferecendo cartões biodegradáveis. A mesma pesquisa também indicou que quase um terço dos consumidores estão dispostos a pagar uma taxa adicional por produtos e serviços bancários verdes ou mudar para um novo fornecedor de produtos ambientalmente e socialmente amigáveis.
Novos horizontes/evolução da indústria
9 – Projetos e exploração 5G para acelerar
Segundo a pesquisa, a adoção do 5G ajudará os bancos a atingirem os objetivos desejáveis dos clientes – facilidade de acesso, personalização e disponibilidade sob demanda.
10 – DeFi (Decentralized Finance) -nindo a próxima evolução bancária
“O 5G irá impactar profundamente a relação consumidor-banco. As agências serão cada vez mais digitais, produtos e serviços com realidade virtual, maior transparência na parte financeira, aplicações antifraude com reconhecimento facial, entre tantas outras inovações. Já o DeFi é uma tendência voltada para maior acessibilidade e interoperabilidade com o objetivo de colocar o capital parado pra trabalhar. Serão novas fronteiras de monetização de capital, como adoção de cryptos moedas, por exemplo”, finaliza Roberto Ciccone.