* Por Vivaldo José Breternitz
O mundo está prestes a ter que lidar com a falta de mais um produto de primeira necessidade: os chips, que estão no coração de quase todos os equipamentos eletrônicos que utilizamos, desde os supercomputadores e smartphones até alguns brinquedos relativamente simples.
Os setores que mais devem sofrer essa falta são o automobilístico e o de dispositivos eletrônicos, que podem passar a enfrentar atrasos consideráveis no recebimento de chips já nos próximos meses. No caso da indústria automobilística, a Ford anunciou a paralisação de uma de suas fábricas nos Estados Unidos, enquanto a General Motors preferiu fazer encomendas que atenderão suas necessidades de chips durante um ano – simplesmente deixou de lado técnicas como just in time.
Diversos fabricantes de chips já estão aumentando preços e atrasando entregas; a curto prazo isso vai impactar diretamente o consumidor final, que além de esperar mais tempo por um determinado produto, terá que pagar mais caro por ele. Isso deve ficar muito visível no mercado de smartphones.
Não há solução rápida para o problema, já que para o aumento da produção são necessários grandes investimentos em equipamentos, que demandam bastante tempo para entrar em operação.
Fabricantes de chips de todo o mundo estão com problemas, tais como a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co., maior fabricante mundial de chips para terceiros, a Nvidia Corp., maior empresa americana da área e a NXP Semiconductors NV, fornecedora holandesa de chips automotivos, industriais e de comunicação.
A principal causa dessa falta de chips é a pandemia, que desorganizou cadeias de suprimentos, diminuiu o ritmo de produção e fez com que mais pessoas comprassem aparelhos eletrônicos para trabalhar de casa, especialmente notebooks e smartphones.
Apenas as vendas mundiais de computadores pessoais cresceram 10,7% no último trimestre de 2020 em relação ao mesmo período do ano anterior; durante todo ano, o crescimento foi de 4,8%, o maior em dez anos. Além disso, os conflitos entre o governo americano e empresas chinesas contribuem para agravar a situação.
No momento, os prazos para entrega de chips, que antes da pandemia estavam ao redor de 10 semanas, chegam, dependendo do modelo, a 25 semanas, praticamente meio ano. Acredita-se que a situação seja normalizada até o final de 2022.
* Vivaldo José Breternitz é doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo e professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.