* Por Hélio Rotenberg
O “as a service” está tomando conta do mundo. Cada vez mais se ouve esse termo e cada vez mais não se quer imobilizar em bens. A dinâmica das novas gerações leva a esse fenômeno da mesma forma que intensas transformações digitais e disrupções fortalecem um movimento de mercado: o de converter produtos em serviços. Consolidam uma tendência mundial e fazem com que praticamente todo tipo produto seja oferecido nessa forma.
Desde carros, bicicletas e casas a livros, softwares e computadores. Até música virou serviço. Quantos de nós, por exemplo, deixamos de comprar CD para assinar plataformas de streaming de áudio? Só em 2020, o número de assinantes cresceu 30% em todo mundo.
Produtos como serviços passaram a fazer parte do nosso dia a dia e praticamente todos eles estão vinculados a uma característica comum: a essência tecnológica da oferta sob demanda. Tipos de estruturas, aplicações, objetos e ferramentas passaram a ser contratados sem a necessidade definitiva de compra. O “Tudo como Serviço” ou “Everything as a Service (XaaS)”, é um modelo de negócio em que o uso ou acesso a soluções substitui a posse. Um conceito, aliás, que eu considero ainda mais interessante por justamente se alinhar a macrotendências como economia compartilhada e meio ambiente preservado.
XaaS, em que a letra X indica as infinitas possibilidades de modelos, não é um termo relativamente novo no mundo. Foi, a princípio, utilizado por empresas fornecedoras de água e energia elétrica. O “as a service” ficou ainda mais evidente nos últimos anos, sobretudo após assimilação em setores como tecnologia, mídia e telecomunicações.
Com vantagens evidentes e oportunidades em diversos setores econômicos, a predisposição de usar XaaS para aumentar a agilidade dos negócios, reduzir custos e melhorar a eficiência da força de trabalho continuará a se fortalecer. O mercado global de XaaS deve crescer 25% nos próximos três anos. Em 2024, poderá alcançar US$ 344 bilhões, quatro vezes mais do que em 2018. O aumento exponencial é explicado principalmente pela forma como “Everything as a Service” estimula empresas a originarem novas receitas e ao mesmo tempo gerar valor para os consumidores.
Um exemplo desse modelo de negócio que usa novas tecnologias de maneira muito oportuna foi implementado por uma empresa inglesa, que a maioria de nós conhece pela fabricação de carros de luxo. A Rolls-Royce, que também produz tecnologias para motores de avião, tem “as a service” no formato de manutenção preventiva para aeronaves.
O negócio consiste em oferecer, a clientes desse segmento, serviços de reparo de motores com uma taxa fixa mensal baseada em horas de voo. Um dos diferenciais da solução está no uso de sensores de redes IoT para obter dados de desempenho dos motores que facilitam o planejamento da manutenção com menor interrupção de viagens. A medida ajuda clientes a aumentar a eficiência operacional e economizar milhares de dólares por ano, além de mais segurança a passageiros.
Outra categoria de XaaS que tem ganhado bastante notoriedade é o Software as a Service (SaaS). O modelo desse negócio baseia-se na comercialização e distribuição de softwares baseados em nuvem. Empresas como Amazon, Microsoft e Google, parceiras comerciais da Positivo Tecnologia, têm identificado o uso cada vez mais frequente de suas plataformas e aplicativos on-line.
Agora, até um PC Windows pode ser montado 100% na nuvem, configurado e acessado a partir de qualquer dispositivo, incluindo um celular com sistema operacional Android. Uma das maiores vantagens de soluções SaaS está na possibilidade de acessar dados de qualquer lugar com conexão à internet. Além disso, os usuários ganham melhor experiência de uso, personalização de conteúdo, automação e segurança digital, principalmente nas situações em que a inteligência artificial é aplicada. SaaS, além de tudo, é um mercado promissor.
Assim como software, hardware também confirma a tendência de tudo como serviço. A modalidade Hardware as a Service (HaaS) também tem registrado alta expressiva de demanda, principalmente nos últimos anos. Em 2020, o mercado de computadores como serviços aumentou 20% no Brasil. Estima-se que em 2021, será ainda maior e alcançará 26%.
O aquecimento desse modelo tem sido acompanhado atentamente pela nossa equipe especializada em HaaS na Positivo Tecnologia. Somente no primeiro semestre deste ano, o número de contratos firmados na Positivo As A Service aumentou 50%. O motivo está, principalmente, na escalada da digitalização da sociedade e nos novos formatos de trabalho e estudo, sejam híbridos ou totalmente remotos. A maior prática de home office e aulas a distância contribuíram para estimular a procura por hardware como computadores, celulares, tablets e servidores.
“Hardware as Service” pode beneficiar empresas de todos os portes, escolas públicas e privadas, assim como instituições governamentais nas esferas municipais, estaduais e federais. Embora HaaS seja fundamentalmente um mecanismo de locação de equipamentos de informática, mobilidade e infraestrutura de TI, inclui recursos adicionais como customização e instalação de dispositivos, atualização de softwares, migração e extração de dados digitais, além de central de atendimento 24 horas e suporte técnico local. É uma solução ágil e descomplicada que evita a obsolescência de equipamentos e mantém parques tecnológicos atualizados.
HaaS, assim como as demais modalidades de XaaS, desponta como oportunidade estratégica para as organizações bem como uma opção funcional e econômica para os usuários das soluções. Desafia a capacidade de inovação e impulsiona o crescimento dos negócios diante de consumidores que valorizam mais a experiência que a propriedade do produto. À medida que “Everything as a Service” evolui, temos a oportunidade de acessar serviços mais dinâmicos que melhoram o dia a dia das pessoas e impulsionam negócios. A mudança progressiva que testemunhamos em direção a uma economia orientada a serviços tende a ganhar mais força, em todos os segmentos.
É um movimento global e legítimo que aumenta vantagens competitivas, estimula a antecipação das necessidades dos clientes e explora possibilidades de reinventar produtos.
* Hélio Rotenberg é presidente da Positivo Tecnologia.