* Por Cris Kerr
O mês de junho é conhecido como o mês do orgulho LGBTI, e ainda hoje é desafiador falar sobre diversidade em relação à orientação sexual e identidade de gênero no mercado de trabalho. Entendo que no Brasil algumas empresas já começaram a realizar ações significativas para acolher e integrar esse público, mas, por outro lado, muitos profissionais se preocupam em falar sobre este tema, com medo de serem excluídos ou de se tornarem alvo de piadas e brincadeiras desagradáveis.
Uma pesquisa realizada pela Santo Caos aqui no Brasil revelou que 41% das pessoas entrevistadas afirmam ter sofrido discriminação por sua orientação sexual ou identidade de gênero no ambiente de trabalho, e que 33% das empresas brasileiras não contratariam uma pessoa LGTI para um cargo de chefia. Outros dados apontam que 61% dos colaboradores LGBT optam por esconder a sexualidade de colegas com medo de exclusão e que 90% das travestis estão se prostituindo por não terem conseguido um emprego, mesmo quando têm um bom currículo.
Antes de mais nada, para mudar esse cenário e iniciarmos uma grande mudança nas empresas, precisamos fazer uma avaliação pessoal a fim de identificar os nossos preconceitos e trazê-los para a consciência. Isso porque quanto mais autoconhecimento adquirimos, mais fácil será para começarmos uma desconstrução interna que tem como objetivo quebrar esses padrões e estereótipos que criamos.
A heteronormatividade é o conceito que descreve que apenas os relacionamentos entre pessoas de sexos opostos (heterossexuais) são considerados normais e corretos, e ele está diretamente ligado ao padrão de moral e bons costumes que vamos enraizando em nossas crenças desde pequenos. Essa percepção errônea acaba marginalizando e levando a perseguição das pessoas LGBTI, e a LGBTFobia. É uma forma de hierarquização da sexualidade, e as pessoas heterossexuais estão acima de todas as pessoas LGBTI.
Muitas vezes acreditamos que esse comportamento não acontece no mercado de trabalho por existir uma barreira velada que limita que as pessoas escancarem seus preconceitos. No entanto, as empresas são um reflexo da sociedade, e as brincadeiras, piadas e comentários preconceituosos tendem a acontecer entre os colaboradores como algo natural.
É preciso, cada vez mais, que as corporações criem uma cultura inclusiva, começando pela conscientização de líderes e gestores, já que, muitas vezes, esse comportamento inadequado de fazer piadas e comentários maldosos partem da própria liderança. É impossível que uma empresa tenha uma cultura inclusiva se seus principais representantes não têm comportamentos adequados.
Hoje, já existem diversos conceitos a serem aplicados para que as organizações alcancem a diversidade, como avaliação de líderes e gestores, pesquisas de clima relacionadas a assédio moral e assédio sexual, código de conduta, palestras de conscientização, e até entrevistas de desligamento, afinal, entender por quê as pessoas estão deixando a empresa é fundamental para que você possa compreender o que está acontecendo dentro da sua organização.
Diversidade por si só, não garante a inclusão! Gosto muito da fala da Vernã Myers, VP de Inclusão Estratégica da Netflix: “Diversidade eu convido para o baile, inclusão eu convido para dançar”. Quando as pessoas se sentem acolhidas, e, principalmente, respeitadas e pertencentes, são mais felizes e produtivas. E no fim do dia a relação é de ganha-ganha: as empresas ganham com a inovação, resultado e produtividade, enquanto as pessoas e a sociedade ganham ainda mais com o avanço do respeito as diferenças!
* Cris Kerr é CEO da CKZ Diversidade, consultoria especializada em Inclusão & Diversidade, professora da Fundação Dom Cabral, Mestra em Sustentabilidade e idealizadora do 10º Super Fórum Diversidade & Inclusão, evento que apoia as corporações a construírem ambientes mais diversos e inclusivos, tornando-as mais inovadoras e sustentáveis.