A saúde mental é um assunto cada vez mais presente nas rodas de conversa, entre elas, o Burnout se destaca. Isso é consequência do aumento de casos da doença. Segundo uma pesquisa feita pela LHH do Grupo Adecco, empresa suíça de recursos humanos, 38% das pessoas – ao redor do mundo – disseram ter sofrido da Síndrome de Burnout, em 2021.
O termo Burnout é oriundo do inglês, que significa burn – queimar e out – externa. De acordo com o Corpo técnico da Vittude, a síndrome é um grande desgaste vindo da extrema exigência do ambiente de trabalho. Ele pode ser provocado por fatores como sobrecarga, falta de estímulo, ruídos, alterações do sono, falta de perspectiva, mudanças constantes determinadas pela empresa, etc..
Este ano entrou em vigor a nova classificação da Organização Mundial da Saúde, que determinou que o burnout é uma doença ocupacional crônica, incluída no Código internacional de Doenças, sob a sigla CID 11. A mudança esclareceu que o burnout é uma doença relacionada ao trabalho, e não ao trabalhador, responsabilizando empresas em processos relacionados ao tema.
Os principais players do mercado estão começando a entender que o sucesso de sua empresa é proveniente do bem-estar de seus colaboradores. Embora ainda não exista uma clareza dos reais impactos do burnout no ambiente de trabalho, as startups focadas na área de saúde mental estão se destacando por trazerem soluções para evitar o desgaste mental.
De onde vem o burnout?
Segundo Sergio Amad, CEO da fiter, plataforma de HRTech, o burnout existe desde a revolução industrial. Na época, o estresse já gerava muitas doenças psíquicas porque as pessoas começaram a ver que existiam cargos, horários de trabalho, objetivos e demissões. “Com o passar do tempo, o crescimento dos trabalhos e essa evolução das empresas, aceleraram o estresse. Antes disso, o burnout já existia. É uma doença silenciosa e o estresse é potencializador”, afirmou.
A pandemia da Covid-19 também agravou o aumento de casos. A tela do computador ou celular virou um dos únicos recursos disponíveis para trabalhar, ter o tempo de lazer e para se socializar. “A intensa digitalização, o excesso de informação e a hiperconexão têm aumentado o desafio. Estamos doentes enquanto sociedade e as empresas precisarão aprender a como apoiar seus colaboradores e se manterem saudáveis”, disse Tatiana Pimenta, CEO e fundadora da plataforma de terapia on-line Vittude.
Com a crise financeira mundial, decorrente do vírus, muitas pessoas perderam o emprego ou ficaram com medo de perdê-lo. Um cenário de oscilação no mercado, gera mais competitividade e o colaborador tende a se autopressionar para ter um bom desempenho dentro da companhia. Em razão disso, há uma aceleração do estresse. “Quando o estresse acelera, você tem uma aceleração do cérebro de pessimismo e quando começa a ficar pessimista, você vai aumentando os índices de burnout”, explicou Amad.
Solução para prevenir o burnout
Pensando em promover a saúde mental e felicidade para pessoas e empresas, a fiter surgiu em 2018, por meio de estudos de laboratório para entender o comportamento humano e a redução de turnover nas empresas e evasão escolar. Hoje, ela é uma tecnologia de neurociência que mede o pulso de felicidade mensalmente nos times das empresas e é uma das soluções disponíveis no mercado para prevenir o burnout dos colaboradores.
Através de um software criado pela empresa, o funcionário consegue descobrir, em oito cliques e uma média de até dois minutos, a sua taxa de felicidade e fit cultural com a empresa – o recurso também pode ser usado no ambiente acadêmico escolar. Com essas duas informações, é produzida a taxa de saúde mental de cada indivíduo mensalmente e a Inteligência Artificial avalia se o índice está saudável ou não, comparado com a média do Brasil.
Os dados são repassados para o RH da empresa, que pode tomar providências caso o colaborador esteja com índice baixo. A fiter ensina para a área de recursos humanos como interagir com os colaboradores de uma forma positiva que libera a dopamina – neurotransmissor que ativa o centro de aprendizagem e a sensação de prazer.
“Com essa informação, a área de gente e gestão consegue ver a taxa de felicidade da empresa e liberar o viés positivo, que é uma excelente vacina para o burnout. Porque quando você ativa centro de aprendizagem e sensação de prazer você evita o estresse, o negativismo, o pessimismo, trazendo energia pro cérebro”, reforçou Sergio Amad.
Do lado do colaborador, Sergio explicou que a partir do momento que ele dá os oito cliques e verifica a taxa de felicidade, o resultado libera gatilhos. “Quando você vê a sua felicidade e o que você tem que fazer, você tira a inércia cerebral e possibilita que gere mais energia no cérebro, evitando que chegue no esgotamento”.
A HRTech busca apenas a prevenção de burnout, quando já existem casos catalogados de afastamento devido a esse transtorno e a empresa deve seguir todas as recomendações psicológicas de especialistas terceiros. Hoje, a empresa conta com 40 clientes, incluindo grandes empresas como Braspress, com cerca de 10 mil colaboradores e 108 filiais no País, e Adão Imóveis, quarta maior imobiliária do Brasil.
Terapia para os colaboradores
Sinalizado sobre um índice baixo de dopamina no organismo, o colaborador, junto à empresa, pode buscar recursos para evitar o agravamento dos sintomas e um possível burnout futuro. A próxima etapa seria encontrar um profissional da psicologia para auxiliar nas dificuldades e na construção de uma rotina mais leve e produtiva.
No passado, isso seria uma tarefa difícil. Sem a tecnologia como ferramenta, as pessoas tinham disponível um livro de indicações que dizia o nome do psicólogo, seu endereço e número de telefone. Não tinham informações sobre a experiência, formação e abordagem, fatores importantes para a decisão do primeiro contato. A escolha era a dedo e nem sempre havia compatibilidade. Esse percurso até chegar no psicólogo correto pode, inclusive, agravar os quadros de transtornos mentais.
Em 2012, a empreendedora Tatiana Pimenta passou por uma situação parecida, ao ter depressão e vivenciar momentos frustrantes, com profissionais pouco experientes. Ela encontrou seu psicólogo ideal após a indicação de amigos. Anos depois, refletiu sobre o sistema de saúde brasileiro e percebeu que havia uma falta de acesso a profissionais qualificados. “Nesse momento, decidi apostar no empreendedorismo e criar uma plataforma que pudesse facilitar o encontro entre psicólogos e pessoas que desejam fazer terapia. Foi aí que nasceu a Vittude”, explicou.
A startup, que foi fundada em 2016 por Tatiana e seu sócio Everton Höpner, facilitou o processo de busca por um profissional através do software Vittude Match. É uma ferramenta pioneira no Brasil, que utiliza Inteligência Artificial, Machine Learning e Processamento de Linguagem Natural (NLP) para ajudar pessoas acometidas com algum tipo de adoecimento emocional ou em busca de autodesenvolvimento e/ou autoconhecimento a encontrarem o psicólogo ideal para suas demandas. O sistema utiliza uma combinação de sete perguntas fechadas e abertas e cruza estas informações com a experiência clínica e abordagem terapêutica dos psicólogos da Vittude.
Além disso, a healthtech oferece uma solução completa de serviços em saúde mental, que envolvem o diagnóstico e assessment da saúde dos colaboradores, sessão de terapia subsidiadas pelos empregadores (gratuitas para os funcionários) e ações de educação emocional que envolvem desde a capacitação da alta liderança até todos os funcionários da organização.
Tudo é feito por meio de tecnologia, Inteligência Artificial e ciência de dados. A Vittude oferece dashboards de gestão que podem apoiar áreas de RH na análise do cuidado e seus impactos na redução de indicações como dias perdidos de trabalho, afastamento, números de atestados, incidentes e turnover.
“Entendemos que a educação emocional é a base de programas de sucesso e que colhem bons resultados. A pauta de saúde mental ainda é rodeada de estigma, preconceito e desinformação. As empresas que estão colhendo os melhores resultados possuem o que chamamos de cultura de saúde mental. Elas trabalham em diversas frentes, olhando para psicodinâmica do trabalho e estabelecendo ações relevantes de educação, acolhimento e tratamento”, reforçou Tatiana.
Para a CEO, a Vittude é a parceira mais estratégica para as empresas que querem não só reduzir os casos de burnout, como desenvolver culturas psicologicamente seguras e saudáveis. A psicologia é fundamental para entender de onde vem o cansaço excessivo, o porquê da falta de foco e o aumento de estresse no ambiente corporativo, tudo para evitar o desgaste completo e em consequência o burnout.
Hoje, a startup tem cerca de 700 psicólogos disponíveis para atendimento, e conta com uma carteira de cerca de 150 clientes corporativos, incluindo o Grupo Boticário e o Banco do Brasil, e 500 mil vidas cobertas.
Bruna Galati
Jornalista formada pela PUC-SP, com experiência em jornalismo digital. Entusiasta da educação, inovação e tecnologia.