* Por Fabiano Nagamatsu
Recentemente, testemunhamos uma série de demissões em massa que – sejamos honestos – estremeceu a confiança dos colaboradores de empresas aparentemente bem estruturadas no mercado.
Agora, por que essas demissões foram necessárias?
Passamos por um cenário econômico extremamente desafiador e essa situação é global. Os desligamentos em massa não são exclusivos do mercado brasileiro. Lidamos com taxas de juros altíssimas, causadas por questões relacionadas à pandemia, inflação e à guerra na Ucrânia, que afetam principalmente as startups em estágios mais avançados – quando o retorno dos investimentos é esperado em um período mais curto de tempo, comparado aos feitos em startups em estágios iniciais.
Quando o quadro de investimentos era facilitado pelas taxas de juros baixas, muitas startups começaram a contratar diversos profissionais em diferentes níveis de conhecimento. Muitas vezes sem a demanda de trabalho para absorvê-los, mas para formar uma espécie de “estoque” de programadores para dar conta do crescimento acelerado.
A partir do momento que a YCombinator, uma das mais renomadas aceleradoras de startups do mundo, recomendou cuidado com investimentos por conta da instabilidade econômica global, milhares de Venture Capitals deixaram de aportar seu capital. Aqui no Brasil, o quadro foi 44% menor no primeiro semestre deste ano, segundo o Distrito. Com menos dinheiro no fluxo de caixa, as startups precisaram enxugar sua equipe.
Tenho sido muito questionado sobre a hipótese de estarmos em um momento de estouro da bolha de startups. Eu não vejo a situação dessa forma. Na verdade, estamos em um período de ajuste de investimentos em startups. Ou seja, se anteriormente investia-se tanto em startups porque estávamos todos investindo, e os juros estavam em um patamar mais baixo, agora o momento é de conscientização: por quanto cada real investido será multiplicado de fato, mas com mão na massa e com um olhar mais clínico. O que é isso? Investir em startups que realmente precisam de investimento.
É comum que empreendedores o procurem, mas não precisem dele realmente. É o caso de uma startup que estou orientando. A equipe estava em busca de aporte, mas quando analisei seu fluxo de caixa, vi que eles não precisariam de dinheiro em nenhuma rodada, desde que seguissem o planejamento estipulado. Caso isso ocorra, eles terão R$ 1 milhão líquido por mês em suas mãos com a geração do próprio fluxo de caixa. Qualquer tipo de empresa que precise muito de dinheiro, não é sustentável.
Vamos continuar investindo em startups, mas agora com uma análise diferente, a partir de boas auditorias e due diligences. É fundamental que elas tenham um planejamento estratégico financeiro robusto, sustentável e que abranja questões de governança social, ambiental e corporativa (o conhecido ESG).
O formato de investimento anjo também é mais seguro do que o de Venture Capital. Quando acompanhamos as startups nas quais investimos com nossa experiência e capital intelectual, podemos ter maior garantia do retorno de nosso aporte.
Outra questão de consciência é não necessariamente olhar somente para (potenciais) unicórnios – isso tanto para investidores quanto para os próprios empreendedores. Um unicórnio é uma startup com um valuation de US$ 1 bilhão, mas só tem esse reconhecimento depois da divulgação de uma captação. Agora, uma startup pode ter o mesmo valuation sem a captação ou sair na mídia.
Portanto, é muito mais interessante ser sustentável do que almejar o título de unicórnio. Até para que surpresas como essas demissões em massa não aconteçam. Vejo muito pelo mercado de startups que adequam seu rumo aos cheques dos investidores, se baseando nas métricas desenhadas pelos fundos. Isso é completamente errado e, a médio e longo prazo, insustentável.
Fabiano Nagamatsu é cofundador da Osten Moove e mentor de negócios no InovAtiva Brasil, maior programa de aceleração de startups da América Latina, indicado dois anos consecutivos entre os 10 mais influentes em mentoria e investimento do Startup Awards 2019, iniciativa da Abstartups, e finalista como mentor do ano em 2020 e 2021.