* Por Vivaldo José Breternitz
A Harvard Business School reporta que, paradoxalmente, ao invés de otimizá-lo, os softwares de análise de currículos vêm prejudicando o processo de seleção de pessoal.
Esses tipo de aplicativo, usado por empregadores para filtrar candidatos a empregos, está rejeitando, de forma equivocada, milhões de candidatos viáveis, diz estudo efetuado por pesquisadores de Harvard.
Esses aplicativos são usados por 75% dos empregadores dos Estados Unidos, chegando a 99% das empresas Fortune 500 e foram adotados em resposta a um aumento nas candidaturas a empregos feitas por meios digitais a partir dos anos 1990. A tecnologia tornou mais fácil para as pessoas se candidatarem a empregos, mas também tornou mais fácil para as empresas rejeitá-las.
A mecânica exata de como o software rejeita candidatos indevidamente é variada, mas geralmente se origina do uso de critérios excessivamente simplistas ou equivocados para classificar os candidatos como “bons” ou “ruins”.
Como exemplo, alguns sistemas rejeitam automaticamente candidatos com lacunas de mais de seis meses em seu histórico de empregos, sem nunca perguntar a causa dessa ausência. Essa lacuna pode ser devida a uma gravidez, por estar o candidato cuidando de um membro da família doente, ou simplesmente por causa da dificuldade de encontrar um emprego durante a recessão.
Exemplos mais específicos citados por um dos autores do estudo, Joseph Miller, em uma entrevista ao The Wall Street Journal, incluem hospitais que só aceitaram candidatos com experiência em “programação de computadores” em seus currículos, quando tudo de que precisavam eram trabalhadores para inserir dados de pacientes em computadores.
A dependência excessiva de software no mundo das contratações parece ter criado um ciclo vicioso: mais pessoas se candidatam – no início dos anos 2010, os anúncios de empregos de nível médio em ambientes corporativos atraíam em média 120 candidatos; no final da década esse número subiu para 250 candidatos e as empresas responderam a esse dilúvio implantando filtros extremamente rígidos em seus softwares de análise de currículos. Com mais candidatos viáveis rejeitados, aumentou o número de currículos remetidos.
Esse tipo de software se tornou um grande negócio por si só. Com o passar dos anos, a automação passou a ser utilizada em quase todas as etapas do processo de recrutamento: sistemas de busca de profissionais, gerenciamento de relacionamento com candidatos, agendamento, verificações de histórico, seleção e avaliações. O mercado global de tecnologia de recrutamento chegou a US$ 1,75 bilhão em 2017 e deve atingir US$ 3,1 bilhões em 2025.
As empresas parecem estar cientes desses problemas. Quase nove em cada dez executivos entrevistados durante o estudo disseram que sabiam que os aplicativos que usavam estavam erroneamente eliminando candidatos viáveis, com alguns dizendo que vinham explorando maneiras alternativas de contratar candidatos.
* Vivaldo José Breternitz é Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo e professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.