* Por Lilian Primo
Esses últimos meses as redes sociais foram marcadas por notícias de grandes demissões e divulgação de prejuízos financeiros, será que é o fim do modelo de negócios baseado em redes sociais? Mas primeiro vamos contextualizar como estão as grandes redes hoje.
Não podemos deixar de começar pelo Twitter, no dia 28 de outubro de 2022, o próprio Elon Musk tuitou: “o pássaro foi libertado”, indicando o fim da novela sobre a compra do Twitter. E as mudanças já começaram no mesmo dia em que a compra foi confirmada, foram demitidos os principais executivos da rede social, incluindo o presidente-executivo.
Em outra medida, Elon Musk dissolveu o conselho de administração do Twitter e se nomeou como único diretor. Mas isso não foi tudo, o bilionário ainda fez uma demissão em massa. Pelas informações iniciais cerca de 50% dos seus 7.500 funcionários no mundo foram afetados.
De acordo com o “Bloomberg New”, no dia 10 de novembro de 2022 houve uma reunião com os funcionários que ficaram no Twitter, via vídeo conferência com o próprio Elon Musk e o empresário revelou que poderia decretar falência da empresa no próximo ano. A “Reuters” informou em uma reportagem que no seu primeiro comunicado geral por e-mail para a empresa, Musk teria informado que Twitter pode não “sobreviver à próxima crise econômica”.
A próxima grande empresa de quem vamos falar é a “META”, talvez seja mais conhecida por ser a dona do facebook, Instagram e WhatsApp. Fundada pelo bilionário “Mark Zuckerberg”, a empresa perdeu 72% do valor de mercado neste ano.
No mês de novembro deste ano a empresa fez o maior corte de sua história. Em um comunicado do próprio Zuckerberg, os funcionários foram informados do tamanho do corte. Abaixo um trecho traduzido do comunicado:
“Hoje, estou compartilhando algumas das mudanças mais difíceis que fizemos na história do Meta. Decidi reduzir o tamanho da nossa equipe em cerca de 13% e deixar mais de 11.000 de nossos talentosos funcionários irem. Também estamos tomando uma série de medidas adicionais para nos tornarmos uma empresa mais enxuta e eficiente, cortando gastos discricionários e estendendo nosso congelamento de contratações até o 1º trimestre. Quero assumir a responsabilidade por essas decisões e explicar como chegamos aqui. Sei que é difícil para todos, e sinto muito pelos impactados.”
A culpa de Zuckerberg, segundo os analistas, foi o alto investimento de recursos no “metaverso”, inclusive a mudança de nome para “META” foi justamente por isso. Muitos afirmam que ele está obcecado pelo “metaverso” e tem certeza de que essa será a salvação da empresa no futuro. Em uma recente conferência com os acionistas ele disse: “Olha, eu sei que muita gente pode discordar desse investimento. Mas, pelo que posso dizer, entendo que isso (o metaverso) vai ser uma coisa muito importante e acho que seria um erro não focarmos em nenhuma dessas áreas”. Agora, apenas o tempo poderá dizer se ele é um gênio ou um tolo.
O caso da “Alphabet”, dona do Google e YouTube, é um pouco diferente. Não foram divulgadas demissões em massa, ao contrário, aumentou em 24% seu quadro de funcionários em comparação ao ano passado.
No entanto, a divulgação do último balanço da empresa apontou uma queda no lucro operacional de 19%, isso ligou um alerta nos investidores, por ter sido uma queda das receitas de anunciantes que é uma das principais receitas da empresa.
O diretor-presidente da Alphabet e do Google, “Sundar Pichai”, em nota informou que: “Os resultados financeiros do terceiro trimestre refletem um crescimento saudável em pesquisa e impulso em serviços de nuvem, embora afetados pelo câmbio. Estamos trabalhando para realinhar recursos para nossas maiores prioridades de crescimento”.
A grande preocupação no caso da Alphabet são as pessoas fazerem o seguinte questionamento, se até mesmo uma das maiores empresas de tecnologia do mundo está começando a sofrer os impactos da crise econômica, o que resta para as demais?
Mas por que essas grandes empresas de tecnologia podem estar ameaçadas até de falência?
A explicação mais óbvia é a diminuição do dinheiro para anúncios de modo geral. Google, Meta e Microsoft, relataram queda na receita com publicidade nos últimos meses, o que fez as ações das empresas derreterem no mercado financeiro.
Muitos especialistas defendem que durante a pandemia, como boa parte do mundo passou a trabalhar, estudar e até ter sua vida social através de celulares, tablets, notebooks, ou seja, uma vida mais on-line, as redes sociais receberam grandes investimentos em anúncios, um aporte de dinheiro que não se sustenta mais após esse período.
O próprio Zuckerberg, dono da META, citou essa questão na nota de demissão de seus funcionários: “Muitas pessoas previram que esta seria uma aceleração permanente e que continuaria mesmo após o término da pandemia. Eu também. Então, tomei a decisão de aumentar significativamente nossos investimentos. Infelizmente, isso não saiu como eu esperava”.
Outra questão é que, por mais que muitas pessoas tenham criado o hábito de se manter on-line, após a pandemia muitas redes surgiram para disputar esse dinheiro de anunciantes, como por exemplo o TikTok e a Kwai, que cresceram muito na pandemia e de novas redes que estão sendo anunciadas, como por exemplo a Bluesky do criador do Twitter e talvez uma volta do Orkut, como foi divulgado esse ano pelo engenheiro turco “Orkut Buyukkokten”, seu criador.
A terceira questão seria o cenário da economia global atual, juros altos, crédito em baixa disponível no mercado, ameaça de recessão nos países desenvolvidos, tensões geopolíticas como entre Estados Unidos, China e Rússia e a guerra na Ucrânia. Esse cenário se torna desfavorável para as empresas investirem em anúncios ou ações de marketing. Apesar das empresas de tecnologia serem novas, o problema é um velho conhecido chamado oferta e demanda.
Apesar desse cenário nada favorável, não acredito que será o fim das redes sociais. Será mais um ciclo, assim como muitos outros que já tivemos. Nestes últimos vinte anos vimos redes surgirem, fazerem sucesso e de uma hora para outra ninguém mais usar. Infelizmente para muitas empresas será o fim, porém para todo fim há um novo recomeço.
Lilian Primo é CEO e cofundadora da Mobye Mobilidade Eletrica. Executiva de Tecnologia, VP do Conselho Consultivo do Instituto Êxito Latino Americano de Empreendedorismo e Inovação e VP de TI na ANEFAC e Colunista na Nova Brasil FM.