Luiza Helena Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza e líder do Mulheres do Brasil, é uma das maiores referências em empreendedorismo no Brasil. Essa semana, a empresária participou de um bate-papo com a CRO da RD Station, Juliana Tubino, durante o Hostel by RD Summit.
Contando as histórias que refletem a sua essência, Luiza falou sobre as importantes mudanças implementadas durante a sua liderança no Magalu, o seu lado família, e também contou um pouco do seu trabalho frente ao Mulheres do Brasil, que começou com 50 integrantes e hoje reúne mais de 37 mil.
Quando perguntada por Juliana sobre, dentre todos os seus papéis como multiplicadora (empresária, criadora, mentora e investidora), qual ela avaliava desempenhar melhor, Luiza respondeu sem pestanejar: “o de avó!”, reforçando que sempre procurou conciliar sua carreira de sucesso com os laços com sua família.
Ao longo de pouco mais de meia hora de conversa, a empresária deu várias dicas inspiradoras e práticas a empreendedores, sobretudo para as micro e pequenas empresas. Selecionamos algumas delas a seguir.
Entenda a sua essência e procure segui-la
“Sempre lutei para não perder a minha alma, os meus princípios e a minha essência”, disse. Luiza contou que o sonho de sua tia, fundadora do Magalu, era montar uma loja para gerar emprego para a família. Ao assumir, ela confidenciou que nunca geriu o Magazine Luiza para ser “o maior”, mas para gerar empregos e apoiar o ecossistema. “O dinheiro acabou sendo uma consequência disso”.
Sonhe grande, mas com cautela
“É fácil fazer pouco com pouco, muito com muito. O difícil é fazer muito com pouco!”. A executiva afirmou que sempre controlou de perto o caixa do Magalu e que esse foi um dos maiores segredos para que a empresa enfrentasse os tempos mais desafiadores. “Se pudesse dar uma dica para os pequenos, seria abram a cabeça para pensar grande e ajam conforme o seu bolso. É melhor ser simples e estar formal”.
Ninguém é perfeito. Entenda os erros e fuja de pensamentos limitantes
“As empresas precisam acabar com essa crença de que não têm dinheiro e que tudo é muito difícil”, disse Luiza. Para ela, para conseguir prosperar, é preciso deixar a perfeição de lado, permitir-se errar e procurar entender porque esses erros ocorreram. “Nunca tentei ser perfeita. Sempre procurei entender os erros e não repeti-los”, disse. Para ela, é a receita que permite que as empresas sempre estejam se renovando.
Seja formal!
“Quando acertei mais? Quando fui formal, se não eu não teria chegado até onde cheguei”, disse a empresária, voltando ao tema do sonhar grande, mas com cautela. Para exemplificar, Luiza comentou que, durante a pandemia, a União disponibilizou dinheiro rapidamente para pequenas empresas, mas muitos não tinham o balanço do ano passado, os empregados não estavam registrados e a informalidade impediu o acesso ao capital. “Se tornem formais dentro daquilo que vocês podem. Vai ter muito crédito para pequenos empresários, mas precisa ser formal”, disse.
A tecnologia é um apoio à obsessão pelo cliente
Além do controle do caixa do Magalu, Luiza afirmou que uma das áreas que ela mais se dedicava no dia a dia da varejista era o atendimento ao cliente. Em muitos casos, dava o próprio telefone para aqueles consumidores insatisfeitos. No início, esse controle era feito por ela e uma assistente num livro caixa. Hoje, existe um arsenal de ferramentas que permitem automatizar esse atendimento e o contato próximo. Manter a essência (lembra dela?) do foco no cliente, porém, é fundamental.
Escolha os melhores parceiros e trate-os bem
A empresária reforçou que ter uma boa relação com parceiros e fornecedores é fundamental para o crescimento dos negócios. E deu um exemplo prático, em caso da necessidade de redução de custos. “Eu não falo ‘se você não diminuir eu vou te mandar embora’. Eu falo: ‘o custo está alto, veja o que você pode fazer para reduzir em 30% e vou ver o que posso fazer para reduzir por aqui também'”, exemplificou.
Cuide de seus funcionários e invista em diversidade
O Magalu é reconhecido por suas ações de bem estar para funcionários e também em políticas de inclusão. Luiza lembrou que as mulheres formam 50% dos funcionários e 40% do conselho de administração. Também foi perguntada sobre o programa recente de trainee que selecionará apenas candidatos pretos e pardos, o que gerou discussões sobre racismo e políticas de inclusão. Para ela, mesmo com a grande repercussão, houve mais pessoas a favor do que contra. “Levamos muita paulada, mas também recebemos muito carinho, e tivemos muito mais gente apoiando do que o contrário. Eu adoro escutar feedback. Eu me treinei para ouvir coisas que eu não quero ouvir. Mas não leio e não escuto ofensas e detratores”.
Além dos resultados financeiros, que são uma consequência direta desse investimento, Luiza lembrou das pesquisas que reconhecem o Magalu como uma das melhores empresas para trabalhar. “O Magazine Luiza está, há mais de 20 anos, no ranking das melhores empresas para se trabalhar. Isso é fruto de uma missão que a gente já tinha desde quando eu morava em Franca e com a qual a gente continuou após crescer. Eu sou uma pessoa muito preocupada com a desigualdade, e trabalho para que isso seja diferente, pelo menos, aqui dentro”.
Eleita Person of the Year 2020 (Pessoa do ano 2020) pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos (a primeira mulher a receber a honraria), Luiza diz não se apegar aos títulos que recebe, mas sim ao impacto que pode causar. Ela se define como uma pessoa “fragmentada” e que, independentemente do cargo que ocupam ou da quantidade de dinheiro que têm, o poder só vem aos empreendedores que sabem lidar com as pessoas.