* Por Daniella Doyle
Eu sou mulher, mãe e há alguns anos venho ocupando cargos de liderança, quase sempre sendo a única mulher ou a (grande) minoria entre os líderes. Hoje vou trazer dados sobre a mulher no mercado de trabalho, mas também algumas percepções e conhecimentos empíricos. Você pode estar achando que é um tema clichê para a data que se aproxima – Dia Internacional das Mulheres –, pode até ser, no entanto, extremamente necessário para o cenário atual.
A presença feminina no mercado de trabalho aumentou nos últimos anos, mas, de acordo com o relatório Global Gender Gap Report 2020, ainda faltam cerca de 100 anos para alcançarmos definitivamente a igualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho. Hoje, as mulheres representam 38,8% da força de trabalho global, contra 61,2% dos homens.
No Brasil, essa proporção é de 43% de mulheres e 57% de homens, de acordo com dados atualizados do IBGE. Um cenário mais otimista, no entanto, quando falamos em remuneração, chegamos na triste realidade: as mulheres ganham em média 19% menos que os homens para exercer a mesma função, segundo pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV). E, apenas 3% dos líderes empresariais brasileiros são mulheres!
Em contrapartida à esta realidade, observamos que a diversidade de gênero nas empresas, além de promover impacto social, traz bons resultados, especialmente para as empresas que buscam por investimento. De acordo com estudos publicados pela Universidade de Stanford, empresas que comprovam mais presença de mulheres assumindo postos de trabalho, tiveram sua marca e suas ações nas bolsas valorizadas.
Para a presidente da consultoria mundial de Recursos Humanos Adecco, Corinne Ripoche a igualdade de gênero é uma das chaves do sucesso nos negócios. “Se as mulheres tivessem os mesmos ganhos que os homens, a riqueza global cresceria em US$ 172 trilhões”, diz Ripoche.
Então, por que ainda não há equiparação entre homens e mulheres? Por que ainda ganhamos menos e somos mais cobradas? Como mudar esse julgamento e a cultura do patriarcado?
Não há uma resposta concreta, e ainda há muito o que se fazer quando falamos em políticas públicas, como aumentar investimentos na educação e na saúde. Em um cenário de pandemia, ficou ainda mais nítido como são as mulheres que ocupam o lugar dos cuidados em casa, com filhos, idosos e outros parentes, assim como grande parte dos afazeres domésticos. Desta forma, a diferença que já era historicamente grande da taxa de desocupação das mulheres, diante da dos homens, foi ampliada durante a crise sanitária.
Ações para promover na sua empresa
As empresas podem e devem fazer a sua parte adotando e disseminando ações que contribuem para alcançar a igualdade de gênero. A primeira e mais importante, a meu ver, é garantir a paridade salarial entre homens e mulheres que exercem a mesma função. Outra atitude importante é inserir nos valores das organizações a igualdade de gênero, assim é mais fácil engajar todos os colaboradores em prol da causa.
A discriminação de gênero costuma estar presente já no processo seletivo. Alguns recrutadores não consideram mulheres para determinadas funções que exigem mais racionalidade e pensamento analítico, por exemplo. Sem falar na discriminação de mães com filhos pequenos, mulheres que pretendem engravidar e com as mulheres mais velhas. Mudar essa visão é essencial para garantir a igualdade nos postos de trabalho.
Vimos que as mulheres ainda ocupam o lugar de cuidadoras e se dedicam bastante ao trabalho doméstico. Para atrair talentos femininos e garantir a permanência dessas colaboradoras, algumas ações como oferecer auxílio creche, licença maternidade estendida e flexibilidade no trabalho, sejam opções de trabalho remoto ou flexibilidade de horário, são essenciais.
Como citei no início do texto, ainda é raro vermos mulheres assumindo papéis de liderança. Portanto, é importante também buscar o equilíbrio de gênero nas cadeiras de gestão. Uma ótima maneira para isso é criar programas de liderança feminina e assumir que metade dos futuros líderes da empresa em treinamento sejam mulheres.
É muito importante que as empresas tenham um canal aberto com suas colaboradoras, criando grupos de debates e escuta, estejam atentos e tenham medidas claras contra os assédios. Promover diálogos abertos e lançar campanhas de conscientização com periodicidade, lembrando que estamos em busca de uma mudança cultural para acabar com o machismo estrutural. Logo, é preciso consistência, ações pontuais não vão resolver um problema histórico em todo o mundo.
Graduada em Jornalismo e também em Publicidade e Propaganda pela PUC Minas, Daniella Doyle é head de Marketing da eNotas, legaltech que oferece soluções inovadoras para automatização da emissão de notas fiscais eletrônicas de serviços (NFS-e), comércio (NF-e) e varejo (NFC-e/CF-e).