* Por Daniel Leipnitz
Em viagem realizada à Índia no fim do mês de janeiro deste ano, tive a oportunidade de conviver com uma gama de diversidades as quais eu sequer imaginava que existiam. A Índia é um país continental, assim como o Brasil, e isso implica na existência de uma série de desafios sociais. Desde a inclusão no mercado e na economia das mais de 800 milhões de pessoas vivendo em situação de miséria, com menos de US$ 2 por dia, passando pela concentração de renda nas mãos de poucas famílias bilionárias, até o imenso mar de oportunidades que tudo isso representa para o país.
Como conectar esses pontos é um desafio que o país vem enfrentando cada vez mais, conforme o número de pessoas aumenta e cresce com ele a demanda dessa população por serviços de qualidade nos diversos setores da economia. E é sobre isso que vamos falar no artigo de hoje, sobre as oportunidades geradas no mercado indiano para empresas de tecnologia locais e também brasileiras, graças à ponte que o Governo Brasileiro vem construindo e ao estreitamento das relações comerciais.
O movimento econômico gerado pela inserção de cada vez mais pessoas na economia indiana traz cidadãos que antes viviam à margem, em condições de miséria, ao centro das atividades econômicas. Este processo faz com que a população antes miserável se torne consumidora e também produtora de riquezas para o país, aumentando o potencial de giro de renda e fazendo com que a estrutura sobre a qual este mercado está montado seja reavaliada e considerada, para que possa comportar todo este crescimento.
Essa população que aos poucos vai sendo inserida no círculo de atividade levanta alguns desafios para as lideranças do país. Um exemplo, de algo que já é muito urgente na Índia, é a necessidade dessa população emergente de habitação. Pessoas que talvez vivessem em barracas, lonas ou construções abandonadas, ao serem inseridas na economia por serem retiradas da miséria, passam a demandar suas próprias casas. Isso traz à tona um grande desafio da Índia dos últimos anos que é o uso de tecnologia para possibilitar a construção de casas que sejam 10 vezes mais baratas e possam ser construídas em 24 horas. Ao mesmo tempo que é um desafio, este fator se mostra como uma oportunidade muito grande para construtechs e demais empresas da área de tecnologia para a construção civil. Só aqui em Santa Catarina, temos vários casos de startups que podem encontrar neste gap de infraestrutura indiano uma oportunidade de internacionalização de negócios. Prevision, Trocalar e Starthome são alguns exemplos de empresas que podem se beneficiar desse processo.
Outro exemplo de desafio enfrentado pela Índia está relacionado ao sistema de saúde, educação e mobilidade urbana. Quanto mais pessoas são inseridas neste circuito e passam a atuar ativamente nesta economia, com poder aquisitivo para consumir e usufruir destes serviços, maior a superlotação dos hospitais, a falta de vagas nas creches e escolas e as dificuldades de circulação nas cidades em função do trânsito e da super ocupação dos transportes públicos e das vias. Empresas como Visto Sistemas, CogniSigns, Pixeon, Sensorweb, GoGood e EpHealth, na área de saúde, Plot Kids, Domlexia e Mettzer, na área de educação, e Mobilis e Sigmais, na área de mobilidade urbana são algumas das nossas startups que também poderiam se beneficiar dessa oportunidade surgindo na Índia.
Por último, um ponto que atinge muito hoje a Índia é a produção e distribuição de alimentos. A produção agropecuária em todo o mundo precisa se reinventar para poder continuar funcionando, e startups de tecnologia voltada para este setor despontam como uma tendência para auxiliar nesta otimização e na sustentabilidade desta produção. Na Índia, a grande população demanda uma produção absurda de alimentos, e encontra cada vez mais dificuldade em dar conta disso com o crescimento diário deste número. A startup Maneje Bem atua neste setor e é um exemplo de como a tecnologia pode fornecer este apoio.
Esta previsão de oportunidades geradas a partir do crescimento populacional pode ser feita em função do exemplo comparativo que já vivenciamos junto à China. À medida que a população foi crescendo e se desenvolvendo economicamente, o consumo da nova classe média cresceu, movimentando a geração de novos empregos no mercado. Esperamos ver isso acontecendo em breve também com a Índia e, preferencialmente, com um grande movimento de empresas brasileiras de tecnologia inseridas neste contexto.
* Daniel Leipnitz é presidente da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE) e vice-presidente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec).