*Por Alex Winetzki
O mundo foi surpreendido pela entrada explosiva de Kamala Harris na disputa presidencial americana. Poucos perceberam que uma vitória sua teria um impacto gigantesco no futuro da tecnologia, especialmente na área de Inteligência Artificial (IA). Kamala tem uma relação longa e complexa com o Vale do Silício, iniciada durante seu mandato como promotora de São Francisco e continuada enquanto ela ascendia ao cargo de procuradora-geral da Califórnia.
A atual vice-presidente construiu fortes laços com a indústria de tecnologia, resultando em apoio financeiro significativo de líderes influentes como Reid Hoffman, cofundador do LinkedIn, Marc Benioff, CEO da Salesforce, e Sheryl Sandberg, ex-COO do Facebook. Esses relacionamentos foram fundamentais para consolidar sua posição política e garantir recursos essenciais para suas campanhas.
Kamala Harris é ponte entre o governo e o Vale do Silício
Durante seu mandato como procuradora-geral da Califórnia, Kamala equilibrou firmeza e diplomacia. Ela foi implacável quando necessário, processando o eBay por práticas anticompetitivas, e como senadora, questionou incisivamente Mark Zuckerberg sobre questões de fake news e privacidade. Harris também se destacou na luta contra a distribuição de “revenge porn” nas redes sociais, pressionando empresas como Facebook e Google a adotarem práticas mais responsáveis.
No entanto, também sempre tentou balancear sua atuação para não atrapalhar demais o avanço da tecnologia, seguindo um estilo similar ao de Barack Obama. Nomeada “czar de IA” da administração Biden, ela vem negociando acordos com os gigantes da área. Em maio de 2023, Harris se reuniu com CEOs de empresas líderes em IA incluindo Sam Altman da OpenAI e Satya Nadella da Microsoft, para discutir o desenvolvimento ético da IA.
Em vez de recorrer a processos judiciais, Kamala prefere obter compromissos voluntários dessas empresas para priorizar práticas de IA seguras e transparentes. Uma de suas principais iniciativas é a criação do Instituto de Segurança de IA dos Estados Unidos, destinado a desenvolver padrões rigorosos para a segurança dos modelos de IA. Ela defende a implementação de normas internacionais e a supervisão governamental, mas sem excessos draconianos, buscando um equilíbrio entre regulação e inovação.
Se eleita, a tendência é que ela continue nessa linha. Não é à toa que alguns analistas já preveem uma migração de apoiadores de Trump no Vale do Silício para Kamala, devido às suas relações pessoais e profissionais consolidadas com muitos desses líderes. Como presidente, Kamala se concentraria em iniciativas regulatórias nas áreas de direitos humanos, segurança, privacidade e combate à desinformação.
Suas conexões profundas com o setor digital – algo que nem Biden nem Trump possuem – sugerem um novo patamar de apoio do governo dos EUA às iniciativas dos gigantes da tecnologia. E, no centro dessas iniciativas, está a IA.
*Alex Winetzki é CEO da Woopi, empresa de Inteligência Artificial do Grupo Stefanini, referência em soluções digitais.
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