* Por Rubens Neistein
Imagine uma moeda que combinasse toda a segurança e praticidade digital dos criptoativos e da tecnologia blockchain com a baixa volatilidade da moeda fiduciária. Esse é um dos objetivos das stablecoins, moedas digitais altamente estáveis e vinculadas a ativos de reserva. A prática, contudo, não é tão simples quanto a teoria. Debates em torno das vantagens e desvantagens desse tipo de ativo costumam render polêmicas tanto para os defensores das criptomoedas quanto para aqueles que se posicionam ao lado das moedas tradicionais.
Independentemente disso, o fato é que elas estão em crescimento. As stablecoins com maior capitalização somavam US$ 10 bilhões em junho de 2020. Um ano depois alcançavam US$ 109 bilhões – quase 11 vezes mais. É uma quantia bastante considerável para ser ignorada por investidores e usuários. Para entendê-las melhor, confira as principais informações a respeito dessas moedas:
1 – O que são stablecoins?
As stablecoins são criptomoedas parecidas com o bitcoin, mas, diferentemente desta, foram criadas justamente para acabar com a alta volatilidade que lhes é comum. Isso é possível porque são atreladas a ativos de reserva reais e garantidas por órgãos reguladores, como dólar, ouro, petróleo ou qualquer tipo de investimento. A ideia é que seu valor seja “algo real”, que possa ser utilizado pelas pessoas em gastos convencionais. A expectativa é serem mais seguras e práticas do que as altas quantias que envolvem os demais tipos de cripto.
2 – Quais são os tipos de stablecoins?
Há quatro categorias de stablecoins. As mais conhecidas são as centralizadas. Elas têm emissor único e são atreladas a moedas fiduciárias, como o dólar, libra e euro. Para consegui-las, é preciso depositar uma quantia equivalente de dinheiro em contas desses emissores. As commodity colaterizadas seguem a mesma lógica, mas são lastreadas em commodities como o ouro, petróleo, etc. Seu valor, portanto, está relacionado à cotação da matéria-prima.
Há também as cripto-colateralizadas, isto é, atreladas a outras criptomoedas e totalmente fora do sistema financeiro tradicional. O valor acompanha a cotação das moedas digitais e, portanto, tem mais volatilidade. Por fim, há as não colateralizadas por serem atrelados a algoritmos específicos. Elas utilizam plataformas descentralizadas que podem destruir ou emitir tokens para manter a estabilidade da cotação.
3 – Por que as stablecoins são controversas?
As stablecoins surgiram para unir o melhor de dois mundos com a praticidade da criptomoeda e a estabilidade da moeda fiduciária, mas é justamente o seu potencial que faz seus negócios serem mais cautelosos. Elas têm capacidade maior de competir com as moedas nacionais, uma vez que a maioria está atrelada e detém o mesmo valor delas. Isso causa receio em bancos centrais e órgãos reguladores – afinal, as stablecoins, apesar de serem mais estáveis, não são reguladas pelo sistema financeiro tradicional. Na outra ponta, a estabilidade não é bem vista pelos apoiadores de criptomoedas por eliminar a principal característica do ativo, que é a volatilidade e os riscos.
4 – Qual é a diferença para o bitcoin e para as CBDCs?
As stablecoins são criptomoedas no sentido tecnológico por serem desenvolvidas com blockchain, mas apresentam diferenças importantes na comparação a outros criptoativos, como o bitcoin. A principal, evidentemente, tem relação com a estabilidade. A maioria delas é centralizada a ativos de reserva, enquanto as criptomoedas de maior valor são totalmente descentralizadas. Já as CBDCs são moedas digitais emitidas por bancos centrais e, portanto, consideradas oficiais. As stablecoins, ainda que vinculadas a moedas “reais”, não fazem parte do sistema financeiro.
* Rubens Neistein é Business Manager da CoinPayments, processadora de pagamentos em criptomoedas.