* Por Eduardo Cosomano
A tecnologia que temos à nossa disposição, hoje, seria inimaginável para a maioria das pessoas há algumas décadas. Muito do nosso dia a dia mudou por conta dela. Contudo, essa transformação profunda pode nos transmitir a ideia de que as coisas mudam a partir da tecnologia, mas creio que isso não seja verdade.
A inovação parte das pessoas, é aceita ou não pelas pessoas, tendo a tecnologia como meio pelo qual tudo acontece. Só a tecnologia em si não é capaz de promover uma revolução. Para exemplificar, podemos pensar no home office.
Temos todas as ferramentas necessárias para que muitas equipes trabalhem de maneira remota. Há internet, softwares para gestão, controle de indicadores de resultados. É possível que pessoas trabalhem para empresas de qualquer lugar do mundo e isso foi testado e provado durante a pandemia. No entanto, tão logo a crise do covid-19 resfriou, grande parte das empresas convocou todo mundo de volta.
Nos jornais, há uma guerra de narrativas entre executivos de grandes empresas a favor e contra o modelo de home office. De acordo com um estudo realizado pela Alelo em dezembro de 2021 junto a 2,7 mil colaboradores de todo Brasil, 33% aderiram totalmente ao modelo remoto ou híbrido. Desses, 75% se consideram extremamente felizes com o novo formato.
Eu, pessoalmente, prefiro o modelo remoto e meu negócio permite que a gestão seja feita à distância. Mas, a minha questão não é essa, ao menos neste artigo. Meu ponto é: existe tecnologia, ela já funcionou, mas por que a maior parte das empresas (e até uma boa parte dos profissionais) resiste a este modelo?
Acredito que a resposta seja cultura. A transformação digital se trata mais disso do que propriamente de tecnologia. Do lado do contratante, compreendo que há uma premissa de controle e gestão vertical, uma ideia, de que as pessoas trabalhando em conjunto em um mesmo espaço físico, sejam mais produtivas.
Como empreendedor e gestor de um time, posso falar pela minha experiência: é fato que muitas pessoas ficam mais dispersas trabalhando de casa, muitas inclusive declaram que preferem o modelo híbrido, no mínimo, até por questões de sociabilização e saúde mental.
Por outro lado, as que preferem o home office, apontam a convivência com a família, horas economizadas no trajeto casa-trabalho-casa e tempo para se dedicar a outras atividades como vantagens do home-office.
Independentemente de quem está certo ou para que lado estamos indo, o fato é: não se trata de tecnologia, se trata de cultura. Posto isso, aplique a mesma lógica para outras áreas: telemedicina, digitalização de processos administrativos e jurídicos, inovações no meio ambiente. Muito da tecnologia já existe, o que precisamos é decidir como usá-la a nosso favor.
Eduardo Cosomano é fundador da EDB Comunicação, agência especializada em assessoria de imprensa e produção de conteúdo, e coautor dos livros Saída de Mestre: estratégias para compra e venda de uma startup; e Ouvir Agir e Encantar: a estratégia que transformou uma pequena empresa familiar em uma das líderes do seu setor; ambos lançados pela Editora Gente.