* Por São Paulo Tech Week
Quando surgiram os primeiros casos do novo coronavírus na China quase ninguém sabia o que era e tão pouco se podia imaginar que iria impactar de forma tão expressiva a economia mundial, influenciando na rotina e decisões do ecossistema de inovação e startups da cidade de São Paulo.
A cidade se tornou a capital financeira do país determinando o ritmo do Brasil. Falando do universo das startups, de acordo com a Associação Brasileira de Startups (Abstartups) são quase três mil na capital paulista, representado 20% no total brasileiro. A cidade é um dos ecossistemas mais promissores do mundo apontado, inclusive, pelo Global Startup Ecosystem Report, uma das pesquisas mais reconhecidas sobre startups.
Como o ano de 2019 havia sido extremamente importante para o setor com a ascensão de 5 unicórnios, 2020 prometia ser tão bom ou melhor, já que em janeiro a Loft se tornaria o primeiro unicórnio brasileiro neste ano.
De acordo com Renata Zanuto, co-head do Cubo Itaú, havia grande expectativa em relação a 2020 como um ano promissor, já que o ecossistema estava crescendo, podia-se ver um movimento entre as grandes empresas, além de aquisições de startups por outras startups. Provavelmente o ano teria um boom de novos unicórnios surgindo, com empreendedores começando a investir, empresas amadurecendo e bons casos de sucesso.
Para o presidente da Abstartups, Amure Pinho, a pandemia veio em um momento extremamente delicado para as empresas: planejamentos para o ano de 2020 estavam sendo concluídos ou iniciados. No entanto, no fim do mês de março, a cidade de São Paulo e todo o Brasil, iniciou uma quarentena com ações de distanciamento social, que trouxe grandes mudanças na rotina e no trabalho das startups paulistanas.
De imediato o contato e atendimento a clientes, investidores, mantenedores e parceiros passou a ser quase que por completo online. Para um setor guiado pela velocidade das mudanças e pela inovação, não foi uma tarefa muito difícil. Porém, grandes hubs de inovação, como o Cubo Itaú, tiveram que incorporar novas ferramentas ao seu cotidiano e buscar novas estratégias para lidar. O Cubo tinha cerca de 1250 pessoas e 120 startups alocados no prédio na Vila Olímpia, agora cada um em sua casa.
A rotina é a mesma da Abstartups, com sede no Cubo Itaú, a associação realiza atendimentos a startups de todo o Brasil, o trabalho já era operacionalizado por plataformas online, devido a distância com empreendedores espalhados pelo país.
A Oxigênio Aceleradora, da Porto Seguro, estava iniciando seu 9° Ciclo de aceleração, que pela primeira vez selecionou 10 startups, um recorde. Os projetos, antes presenciais, continuam ocorrendo pela internet. De acordo com Maurício Martinez, gerente de P&D da aceleradora, este é, sem dúvidas, um dos maiores obstáculos. A pandemia está mudando muitas coisas ao redor do mundo e um grande apoio nesse momento é o uso das tecnologias que permitem atuar remotamente, algumas ferramentas e soluções facilitam os processos que poderão permanecer em um cenário pós-pandemia.
O desafio é para todos, esta é uma afirmação de João Guedes, sócio-fundador da Emperifa, empresa especialista em gestão da criatividade para negócios periféricos da Indústria Criativa, situada na zona leste de São Paulo. É desta forma que o empreendedor e educador tem visto a crise da economia atingir o ecossistema de inovação paulistano.
João afirma que o momento é de reinventar seus trabalhos, tanto a Emperifa com a mentoria, formações e atendimentos, fortalecer as parcerias e redes quanto os empreendedores da periferia. Cita o exemplo do Comitê de Impacto da Zona Leste (formado pela Aupa, Coletivo Meninas Mahim, BackToBasics e a Emperifa) em ações com o Coletivo Meninas Mahin que reúne 70 empreendedoras, muitas mães solo da periferia, que se organizaram e fizeram, dentre outras ações, uma vaquinha online, formações e lives com conteúdo online para se manterem nesse período, muitas tiveram de mudar seus produtos para se adequar ao momento, deixando o comércio de roupas pelo de máscaras de proteção.
Há um grande desafio que todos concordam: a pandemia trouxe a necessidade de sobrevivência a qualquer custo. Seja por corte de orçamentos, reduzindo as equipes, mudanças no planejamento ou em suas rotinas. O que, infelizmente, levou um grande número de pessoas serem demitidas de startups brasileiras.
A solução está na empatia e solidariedade. Neste contexto, a Abstartups criou o Abstartups Jobs, um lugar para unificar todas as demandas do setor no momento em que funcionários que perderam seus empregos são conectados com startups que continuam crescendo mesmo em meio a crise.
Recentemente também foi criada, pela Abstartups e a Comunidade Governança & Nova Economia (Gonew.co), a campanha #StartupsVsCovid19, com o objetivo de levar o movimento ao maior número de pessoas e impulsionar a inovação e informação.
A comunidade está mais próxima e atuando em conjunto com o objetivo de minimizar os danos ao ecossistema e garantir a sobrevivência das startups. A inovação continua sendo fomentada por meio de eventos, antes presenciais, agora online em diferentes plataformas. O propósito ainda é o mesmo, porém os desafios são outros.
Neste contexto, Amure, recomendou às startups associadas à Abstartups que, num primeiro momento, realizassem novos planejamentos se colocando em cenários a curto e longo prazo para que não fossem pegos despreparados, caso o período da pandemia se estenda. A comunidade entendeu prontamente e reagiu.
Seguindo uma mesma linha de raciocínio, mostrando a unidade no setor, Amure, Renata e João concordam que num primeiro momento a prioridade é salvar o caixa, cortando gastos e se planejar financeiramente, organizando a casa primeiro.
A Abstartups posicionou as startups de sua base com quatro desafios que os seus gestores deveriam focar e buscar soluções:
– Planejamento de fluxo de caixa;
– Dialogar com o cliente e entender como poderia mantê-lo durante a pandemia;
– Como seria possível aproveitar os nossos obstáculos da crise para promover seus negócios;
– Como realizar um planejamento imaginando os próximos meses com uma possível retomada somente no final do ano, por volta do mês de outubro.
O posicionamento da associação é muito parecido com o pensamento e decisões do outros importantes protagonistas do ecossistema de inovação e startups da cidade de São Paulo. Com a autopreservação e a inovação ditando o ritmo dos dias incertos, ficam algumas dicas importantes para o setor:
Aos empreendedores:
– Olhar a pandemia como uma oportunidade para criar soluções para grandes empresas e para novas demandas que o cenário atual tem exigido;
– Se preparar para um mundo mais digital e online;
– Observar como as empresas estão passando a crise. Quem sobreviver os meses de abril e maio, certamente terão grandes chances de seguir.
Aos investidores:
– Necessário olhar para dentro e como cuidar dos negócios, aguentando firme;
– Observar os novos modelos das startups, pois é um momento em que estão refinando seus produtos e serviços devido às condições;
– Entender que o comportamento das startups está mudando, veja quais vão se adaptar e seguir.
Como todas as áreas, o universo da inovação, tecnologia e startups está sofrendo, porém, é muito provável que grandes soluções nasçam dos protagonistas da inovação em São Paulo.
* São Paulo Tech Week é um dos maiores festivais descentralizados de inovação e tecnologia do mundo e tem por objetivo dar luz às iniciativas de inovação do município de São Paulo. Com uma agenda colaborativa, a SPTW é composta por eventos que acontecem simultaneamente durante uma semana em diferentes locais da cidade, democratizando conteúdos e experiências que abordam os temas de inovação, tecnologia e empreendedorismo.