* Por Beatriz Montiani
Todos os dias, lido com empreendedores, ouço pitches diversos para verificar possíveis oportunidades e sinergias com projetos da empresa, e no final das contas a pergunta que fica é: aquela solução resolve de fato uma dor?
Criar uma solução disruptiva a ponto de mudar o mercado ou resolver uma dor latente para trazer mais comodidade ou melhorar a experiência é, sem dúvida, o propósito e o desejo de toda startup. Com isto, surge a provocação: a solução da sua startup é uma aspirina ou vitamina?
Achei super interessante esta analogia e a primeira vez que ouvi foi há alguns anos de um investidor durante uma viagem ao Vale do Silício, celeiro mundial de startups. Explicando melhor: uma solução aspirina resolve de fato um problema, uma dor latente do mercado ou traz uma melhoria de algo existente em pelo menos 10 vezes. Já uma solução vitamina apresenta uma boa utilidade ou funcionalidade, porém não é imprescindível.
A verdade é que todas as startups querem oferecer uma solução que resolva um problema. E este é, também, o pensamento dos investidores que buscam por soluções “aspirinas” com potencial de escala. Geralmente, a startup começa (ou pelo menos deveria começar) dominando um nicho específico para depois expandir e ganhar escala.
A classificação de aspirina (must have) e vitamina (nice to have) depende da perspectiva de quem utiliza o serviço. O surgimento de uma plataforma online de mobilidade urbana revolucionou o serviço de transporte no mundo todo. Se antes era preciso telefonar, ou ir até um ponto de táxi, hoje com poucos cliques pelo celular encontramos um motorista, sabemos o tempo de espera, a rota e o pagamento é feito sem nenhuma fricção, mudando inclusive o comportamento do usuário. Quem nunca pegou um táxi – sem usar aplicativo, e quando chegou no destino final já estava se despedindo do motorista e saindo do carro sem pagar? Quem ainda imaginou um aplicativo em que seria possível pedir qualquer coisa? De supermercado a farmácia? De comida a fazer um leva e traz de documento? Hoje eu já não vivo mais sem este tipo de serviço.
Pronto! Foi criada uma dor, ou necessidade, ou podemos dizer que a experiência melhorou mais de 10 vezes – seja lá como preferir classificar. Como usuária, não imaginava o quão útil e prático esta solução seria no meu dia a dia. De qualquer forma, analisar o potencial de negócio e a oportunidade de mercado são essenciais. Com a combinação destes fatores, é possível concluir se há ou não uma dor, ou seja, se é ou não uma solução “aspirina”.
Não há um único caminho que leva uma startup a ter sucesso ou até a se tornar um unicórnio. Falando em unicórnios, o Brasil vive um bom momento, com recursos e investimentos mais abundantes, e já reúne dez até o momento. A boa notícia é que metade deles alcançou esse patamar em 2019, o que mostra a maturidade do ecossistema brasileiro que vem, inclusive, atraindo a atenção de investidores internacionais. Isto é reflexo também comprovado no nosso programa de aceleração. Nestes quatro anos, mais de 65 startups passaram por aqui e muitas estão em posição de destaque no mercado. As startups participantes captaram, em três anos, mais de R$ 90 milhões de investidores anjos ou fundos de Venture Capital, segundo informações oferecidas pelas próprias startups.
Se o seu negócio não endereça uma dor, mas ela pode ser criada e tem de ter oportunidade de mercado, maravilha! A execução será fundamental para o sucesso ou não do negócio.
* Beatriz Montiani, diretora de Inovação e Engajamento com Fintechs da Visa.