*Por Paulo Tomazela
Em tempos de retração econômica, o comportamento natural do mercado é defensivo: capital se recolhe, riscos são evitados e a inovação costuma ser postergada. No entanto, a história recente, tanto no Brasil quanto no cenário global, mostra que algumas das startups mais valiosas e transformadoras emergiram justamente nesses momentos desafiadores.
Na Bossa Invest, analisamos constantemente a correlação entre contexto macroeconômico e surgimento de negócios exponenciais. Este artigo traz um panorama de como crises podem ser, na prática, berços de unicórnios, e por que investidores atentos a isso se posicionam com visão estratégica mais ampla.
O caso brasileiro: eficiência, timing e resiliência
O ecossistema brasileiro não é estranho a períodos de instabilidade. Ainda assim, é nesse solo volátil que empresas como Nubank e 99 se tornaram unicórnios.
- Nubank (fundado em 2013): surgiu em plena desaceleração econômica e alta desconfiança no sistema bancário tradicional. Com modelo enxuto, foco em experiência do usuário e uso intensivo de tecnologia, captou recursos em meio à crise e se consolidou como o maior banco digital da América Latina.
- 99 (criada em 2012): navegou um Brasil de baixo crescimento e inflação elevada. Em 2018, foi adquirida pela Didi Chuxing após uma jornada marcada por execução sólida em um mercado extremamente competitivo.
Exemplos globais: crise como catalisador
A crise financeira de 2008 serviu de catalisador para startups que viriam a redefinir setores inteiros:
- Airbnb e Uber: ambas fundadas logo após o colapso de 2008, utilizaram ativos subutilizados (imóveis e carros, respectivamente) para criar novos paradigmas de consumo e se transformaram em gigantes globais.
- Wiz: mais recentemente, esta startup de cibersegurança criada em 2020 durante o auge da pandemia captou capital em um ambiente macro hostil, escalou rapidamente e, em 2025, foi adquirida pela Alphabet por US$ 32 bilhões.
Esses casos compartilham uma característica fundamental: a capacidade de transformar adversidade em tração. E, frequentemente, com menor custo de capital e maior disciplina operacional.
Por que investir em crise pode fazer sentido
Há fundamentos objetivos que tornam investimentos em períodos críticos especialmente atrativos:
- Valuations mais racionais: a contração do mercado reduz a euforia e força precificação mais realista.
- Fundadores orientados à eficiência: A escassez exige foco, criatividade e execução disciplinada.
- Menor competição por ativos: menos players dispostos a assumir risco significa maior poder de barganha para investidores visionários.
- Demanda latente por novas soluções: crises criam novos problemas – e startups são, essencialmente, solucionadoras de problemas.
O papel do venture capital em ciclos de contração
O VC inteligente não é apenas provedor de capital; é o capital que antecipa inflexões. É por isso que, na Bossa Invest, mantemos nossa tese baseada na leitura de ciclos e na capacidade de identificar times fundadores resilientes, modelos de negócio antifrágeis e mercados com gaps relevantes — mesmo (e especialmente) quando o cenário macroeconômico desafia as perspectivas convencionais.
Conclusão
Crises expõem fragilidades. Mas também revelam oportunidades para quem está disposto a olhar além do ruído. O histórico nos mostra que, muitas vezes, o melhor momento para plantar as sementes de uma grande startup é quando o terreno parece mais árido.
Na Bossa Invest, seguimos atentos a esse princípio: os ciclos passam, as grandes teses, não.
Se você está empreendendo em meio à turbulência ou quer entender melhor essa visão de longo prazo, vamos conversar.
*Paulo Tomazela é CEO da Bossa Invest.
Aproveite e junte-se ao nosso canal no WhatsApp para receber conteúdos exclusivos em primeira mão. Clique aqui para participar. Startupi | Jornalismo para quem lidera inovação!