* Por Jorge Iglesias
Se ir ao banco para pagar uma conta ou fazer algum tipo de transação já tinha se tornado algo do passado para muitos clientes, imagine após o início da pandemia. O isolamento social acabou acelerando a utilização do Internet Banking e, mais recentemente, do PIX. Embora o mundo digital tenha facilitado a vida de todos nós, a evolução tecnológica também vem acompanhada de alguns riscos quando se tem pessoas mal-intencionadas que se especializam em fraudar sistemas e roubar dados. Em muitos casos, quando os hackers são descobertos, o dinheiro já deixou a conta do usuário sem vestígios. É o início de uma gigantesca dor de cabeça para o cliente e para as instituições financeiras.
Recentemente, tivemos o vazamento de dados considerado o maior da história, segundo alguns especialistas de segurança cibernética. Chamado de RockYou2021, em referência ao incidente ocorrido em 2009 batizado de RockYou, que expôs 32 milhões de senhas, o episódio atual é responsável pelo vazamento de 8,4 bilhões de senhas, que podem estar circulando pela internet neste exato momento. Em janeiro, houve outro mega vazamento, no qual 223 milhões de brasileiros tiveram seus dados pessoais circulando na internet, possibilitando o acesso pelos criminosos e fraudadores, que passaram a utilizá-los para a abertura de contas bancárias falsas.
Os bancos digitais vêm crescendo de forma exponencial, e a previsão, de acordo com o Digital Banking Report 2020, é que, entre 2020 e 2025, o setor cresça a uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 14,6%, alcançando o valor de 12,41 milhões de dólares. Se por um lado a notícia mostra o aquecimento deste setor, por outro acende um sinal de alerta, que precisa estar no radar dos bancos: com a facilidade de abrir uma conta digital com CPF, RG, nome dos pais e data de nascimento, alguns hackers estão se aproveitando das informações vazadas pela internet para abrir contas que, muitas vezes, são utilizadas para transferir valores roubados de outras pessoas.
Devido a essa dinâmica criminosa, os bancos enfrentam o desafio de continuar adquirindo clientes pela via digital, sem aumentar o número de contas indevidas, voltadas para práticas de fraude. Mas como as instituições financeiras podem identificar movimentações suspeitas, se existe teoricamente a comprovação prévia dos dados?
Com o crescimento dos vazamentos de informações sensíveis e de sua utilização em práticas criminosas, algumas empresas especializadas no desenvolvimento de soluções financeiras inovadoras e robustas estão lançando ferramentas para analisar a base de dados cadastrais das contas, cruzando as informações dos bancos com aquelas de seu próprio ecossistema de prevenção de fraudes. A Inteligência Artificial (IA) assume um papel importante, sendo capaz de identificar sinais que possam levar a uma conta aberta para a prática de crimes.
Entre as companhias que estão investindo em tecnologia com o objetivo de prevenir e reduzir problemas de abertura de contas digitais “fantasmas” está a Topaz, empresa do Grupo Stefanini, que acaba de lançar a solução OFD Onboarding Analyzer, capaz de analisar milhares de contas por dia. Como está presente em mais de 40 bancos no Brasil, a companhia utiliza seu big data, além de fontes de dados externos, em busca de padrões de relacionamento entre o portador do CPF e a instituição em que ele supostamente abriu uma conta. Nesse processo, são analisados milhares de parâmetros e critérios como, por exemplo, se o correntista tem o app do banco instalado no celular, se já realizou algum tipo de pesquisa sobre aquela instituição, se já teve o CPF vazado na internet, habitualidade de localidades, padrão de consumo, entre outros.
Além de detectar uma conta que pode ser utilizada para cometer algum tipo de crime, a varredura permite a otimização tecnológica, uma vez que as instituições gastam recursos financeiros para mantê-las abertas. Neste momento em que vivenciamos uma profunda transformação digital – o setor financeiro é um dos que mais investem em tecnologia no Brasil -, a tendência é que os bancos priorizem novas medidas de segurança para manterem a base de dados sempre saneada e com informações legítimas.
Ao utilizar sistemas como esse, é possível conciliar a higienização dos dados com a agilidade na abertura de contas, uma vez que o fornecedor de tecnologia poderá atuar na retaguarda, como um “guarda-costas” dos bancos. Isso significa menos burocracia para o cliente que deseja abrir uma conta digital, mais segurança para o cliente e para o banco, além de ser uma maneira de coibir ações fraudulentas que impõem uma série de prejuízos em toda a cadeia.
* Jorge Iglesias é CEO da Topaz, empresa do Grupo Stefanini focada em soluções financeiras de ponta a ponta.