* Por Rogério Borili
A crescente inserção da tecnologia em todas as áreas muda tudo na organização dos times de TI. Não mais os nerds de olhos fixos nas telas do computador entregando serviços sob demanda, mas profissionais multifocados, com habilidades para interagir com todos os setores. Caíram os muros, construam-se as pontes e que todos possam transitar com facilidade em dinâmicas mais ágeis.
Nas startups que nasceram com espírito inovador, esse modelo de trabalho já é um caminho natural. Muda tudo quando falamos de organizações tradicionais, onde as estruturas costumam ser mais rígidas e precisam se adaptar rapidamente a um novo contexto. A tecnologia avança por todos os lados, pressionando as lideranças. Resistir não é mais uma possibilidade e seguir em frente com sucesso requer a organização estratégica da área de TI.
Entra em cena um novo mindset no qual TI deixa de ser prestador de serviços de tecnologia e passa a ser parte do negócio. Com esse olhar abrangente, vamos pensar em lideranças que se envolvem na estratégia, participam de decisões e transmitem ao time esse espírito participativo. Em muitos casos, o produto é pura tecnologia e, em todas as organizações que buscam resultados, marketing e vendas não respiram mais sem tecnologia. A experiência do cliente é construída com base em dados que acompanham a jornada de compras e o próprio cliente espera transitar com facilidade em um ambiente digital e omnichannel.
“Descobrimos que para as empresas criarem valor e fornecerem experiências de cliente atraentes em custo mais baixo, elas precisam se comprometer com um modelo operacional de próxima geração. Este modelo operacional é uma nova forma de administrar a organização que combina tecnologias digitais e capacidades operacionais de uma forma integrada e bem sequenciada para alcançar melhorias de mudança de etapa na receita, experiência do cliente e custos”, diz McKinsey – Report Digital Reinvention.
Ou seja, TI permeia todas as áreas em um movimento crescente e contínuo, onde a inovação se tornou o cotidiano de todos e a tecnologia deve estar alinhada com a estratégia de negócios. Trazer as pessoas certas, tecnicamente capacitadas e com as habilidades essenciais de relacionamento e flexibilidade. Mais ainda, com disponibilidade de continuar aprendendo, porque as tecnologias avançam rapidamente e o que você sabe hoje à noite talvez não sirva amanhã cedo.
Temos aí outro ponto de dificuldade, porque empresas de todos os setores estão concorrendo no mercado por esses profissionais e eles agora têm um perfil muito mais exigente e querem trabalhar com autonomia e propósito. Eles podem escolher as marcas que melhor se alinham com seus valores e querem ser parte dos melhores times. Como vimos, o desafio só aumenta e formar um time de alta performance não é tão fácil.
Formou o time? Agora vamos ver como vai ser o modelo de trabalho, como você vai integrar as pessoas de TI nos squads de acordo com cada demanda. Cabe ao CIO tecer essa rede junto com os outros líderes, com uma visão mais prática da organização da equipe. Ele define quem trazer para dar apoio técnico em cada projeto, quem faz a ponte com o negócio, quem se relaciona com o Product Owner e o Product Manager, combinando com o time o que cada um é responsável por fazer.
Se as demais lideranças compreendem esse novo modelo de trabalho fica mais fácil trazer a realidade para que todos entendam o que cada área precisa ter abaixo, atuando em camadas de conhecimento, skills e responsabilidades. O que traz agilidade é desenvolver um contexto participativo, onde os profissionais se juntam para vencer desafios, cada um oferecendo a sua contribuição para o todo. O resultado só acontece com a criação de times multidisciplinares, com experiências e conhecimentos diversos em engenharia, tecnologia, marketing, desenvolvimento e outros que possam contribuir para a melhor solução em cada oportunidade.
Como fica a organização estratégica da área de TI nesse contexto participativo? O principal cientista do MIT Sloan Center for Information Systems Research, Joe Peppard, publicou uma nova pesquisa na qual defende a ideia de abandonar o departamento de TI como uma estrutura isolada em favor de inserir a capacitação tecnológica na estrutura da empresa como um todo. “O desafio não é projetar uma unidade de TI com mais conhecimento digital; a questão é como organizar toda a empresa para ter sucesso com a tecnologia” diz Joe Peppard, MIT Sloan Center for Information Systems Research.
Ele citou o caso de um banco que se organizou em torno do conceito de plataformas. Essas plataformas reúnem pessoas, fundos, ativos de tecnologia e aplicativos para fornecer um serviço ou produto ao cliente. Eles são co-desenvolvidos e mantidos pela empresa e seus parceiros trabalhando juntos em metas, estratégia e execução conjuntas. Isso funde as relações de trabalho entre as equipes internas e permite uma tomada de decisão mais rápida, maior visibilidade e propriedade compartilhada.
Joe Peppard propõe ainda a organização em torno de funções de negócios e equipes ágeis com autonomia para fazer o que for necessário para atingir as metas. Não existe uma forma de trabalho obrigatória – em vez disso, as equipes se auto organizam e estabelecem sua própria versão de metodologias ágeis e ciclos de feedback, desde que apoiem a entrega contínua. Sendo orientadas por métricas para medir e impulsionar os resultados.
As empresas com visão de futuro já reconhecem o papel da tecnologia como um ativo muito valioso. Ao assumir um papel mais destacado e com relevante participação nas decisões estratégicas a área de TI também precisa de um novo modelo de organização. Um formato que se mostre flexível, dinâmico e alinhado com o negócio, permeando áreas e oferecendo uma contribuição mais consistente ao desenvolvimento dos produtos, ao compartilhamento de dados e à experiência dos clientes. É um olhar mais avançado, mas o momento requer essa reflexão para além dos modelos tradicionais.
* Rogério Borili Pereira é vice-presidente de Tecnologia e Sustentação da Becomex Consulting. Atua na implementação de processos fiscais eficientes em grandes organizações visando compliance e ganhos tributários.