* Por Roberto Cardassi
A disputa comercial entre Estados Unidos e China não é recente, mas, com a eleição presidencial dos EUA e a pandemia do coronavírus, a briga entre as duas potências está ganhando novos desdobramentos esse ano.
Recentemente, o conflito se potencializou após denúncias de que hackers chineses estariam tentando roubar informações sobre a vacina norte americana contra a covid-19. Em resposta às denúncias, o governo americano ordenou o fechamento do consulado chinês em Houston-EUA e a China, por sua vez, revidou determinando também o fechamento do consulado americano em Chengdu, no sudoeste do país.
Com a crescente instabilidade entre as duas potências, o mercado financeiro começou a sentir algumas perdas. Todos sabem que o sentimento de segurança e medo controlam as decisões dos investidores. Quando estes estão confiantes, o mercado tende a subir e aumentar o volume de negociações. No entanto, quando estão com medo ou pessimistas, a reação imediata é fugir para os mercados mais seguros, fazendo com que ocorra uma retração nas bolsas de valores e no preço das ações. Alimentado diariamente pelas notícias e por esse sentimento de segurança/medo, era de se esperar que um conflito acentuado causasse impacto negativo no mercado financeiro tradicional.
Com o mercado de ativos digitais não é diferente, já que os criptos possuem as mesmas características de outros mercados, mas também possuem características próprias, tornando-os mais complexos. Porém, recentemente, este mercado vem sendo afetado diretamente por conflitos políticos e econômicos de larga escala como o da China e os EUA. Além disso, atualmente os EUA é o maior custodiante de moedas digitais no mundo e a China que já esteve no topo desse ranking, hoje está no quinto lugar, de acordo com um levantamento realizado pela BlueBenx. É importante ressaltar que ambos os países possuem projetos de criação de suas próprias criptomoedas, o que deve influenciar ainda mais nesta disputa e impactar diretamente o mercado de negociações de ativos digitais no mundo todo.
Mas um ponto que poucos esperavam é que a briga entre os dois países pudesse impactar positivamente o mercado de criptomoedas. As perspectivas negativas para os mercados financeiros tradicionais, e a constante guerra cambial fizeram com que os investidores enxergassem nas moedas digitais descentralizadas e não soberanas, uma reserva de valor confiável.
Sim, as criptomoedas são uma reserva de valor e o Bitcoin, maior moeda em capitalização de mercado, é quem lidera o interesse dos investidores. O mercado digital conquistou seu espaço dentro do mercado financeiro e a crise vivida em função da pandemia de covid-19 reforçou a importância de um mercado descentralizado. Cada vez mais o Bitcoin é apontado como um ativo de “proteção” contra tensões geopolíticas e econômicas. Hoje, existem muitas discussões sobre a regulamentação e aplicações para as moedas digitais, mas uma coisa que já deixamos no passado é o debate de se esse é ou não um mercado válido e sustentável.
Outro ponto de reflexão essencial que surge com esta disputa é que existe a grande possibilidade de que os países envolvidos acelerem os projetos de criação de suas próprias moedas digitais. Um exemplo mais recente foi o caso da Venezuela que criou o Petro, uma alternativa para tentar captar Bitcoin e driblar as sanções econômicas. Com a China isso seria completamente possível já que o Yuan Digital está bem avançado em seu processo de desenvolvimento. Tal acontecimento pode acabar impulsionando mais ainda o mercado digital e trazendo uma valorização interessante para os cripto ativos.
A possibilidade da criação de novas moedas digitais somada à valorização dos criptoativos nos últimos meses mostra o quão vantajoso é o investimento neste novo mercado, em comparação com outras modalidades e desperta a atenção do investidor que fica inseguro com os mercados mais conhecidos e tradicionais. Quando se compra uma criptomoeda, é adquirido um título com lastro digital de alta liquidez e com facilidade de compra. E para os investidores conservadores, ainda existe a oportunidade de comprar as stablecoins, com segurança de estabilidade de variação de preço. Em um cenário de incerteza, o mercado cripto é uma alternativa assertiva, já que as moedas digitais são ativos descentralizados e não podem ser controladas ou “tomadas” pelo governo em períodos atípicos como o atual.
* Roberto Cardassi é fundador e CEO da BlueBenx, fintech especializada em criptomoedas e Security Tokens.