* Por Lucas Lanzoni
O Big Brother 20 chegou e com ele algumas discussões polêmicas e aquela sensação de que o programa domina todas as conversas na internet. Mas, a verdade é que essa edição vai muito além disso: o BBB20 trouxe à tona a reflexão sobre como as redes sociais estão cada vez mais interligadas à televisão e como potencializaram a influência que esse meio de comunicação exerce na vida dos brasileiros. Afinal, é o conteúdo da TV que incentiva as discussões no Twitter e Instagram, por exemplo, ou é a vida online que estimula a audiência da telinha?
A nova edição do programa conta com influenciadores digitais e pessoas anônimas, o que estimulou ainda mais para que o público da internet se unisse à TV. Não que nas últimas edições isso já não tenha acontecido, mas nesta conseguimos observar exemplos muito bem executados de transmídia, como o da influenciadora digital de moda e beleza Bianca Andrade, mais conhecida como Boca Rosa, que em uma ação coordenada, sincronizou as postagens de suas redes com as roupas usadas no programa, destacando patrocinadores da influenciadora aos mais de 9 milhões de seguidores. A ideia fez com que ela atraísse o público da TV para o seu Instagram e também para as marcas divulgadas.
Em contrapartida, a Boca Rosa perdeu mais de 400 mil seguidores (e contando) depois de se unir a participantes considerados tóxicos pelo público. A repercussão negativa naquele momento fez com que uma foto de look postada por sua equipe com mais de 92 mil comentários tivesse uma grande parte de menções negativas.
Por outro lado, Manu Gavassi segue o caminho contrário. A cantora e atriz iniciou sua campanha virtual muito antes do BBB20 começar e lançou uma série de vídeos em seu Instagram com o título ‘Who the fuck is Manu Gavassi?’. A ideia era dar boas vindas ao público que nunca ouviu falar da influenciadora, assim como atrair e interagir de forma bem humorada com seus novos e antigos seguidores. A estratégia se tornou um sucesso: quando foi anunciada sua participação no BBB, Manu tinha 4,4 milhões de seguidores em seu perfil e agora já ultrapassa mais de 7 milhões.
Além disso, Manu Gavassi indiretamente incentivou os espectadores do programa buscarem o significado da palavra “sororidade” no Google, depois de usá-la em seu discurso para formar o paredão no domingo em que indicou o brother Felipe Prior. De acordo com o buscador, a procura pela palavra subiu em 250%. Esse comportamento da audiência do programa demonstra o estreitamento cada vez maior entre o on e o offline.
Mas, o oposto também é verdade. Os jovens da geração Z, por exemplo, passaram a consumir conteúdos originalmente do offline dentro das redes sociais. Um dos motivos disso é que o ambiente digital permite a troca instantânea de informações e interação em tempo real, fator que além de tornar esse consumo muito mais interessante para esse público promove o surgimento e compartilhamento de memes, fanfics e muitos outros produtos originários da internet que nada mais são do que a ressignificação do produto de mídia original.
Em resumo esse público que consome cada vez mais Youtube, Tik Tok ou Twitter, encontraram no ambiente digital uma forma tanto de de se engajar em causas ou apenas se tornar “comentarista de BBB”. Esse telespectador nativo digital participa de cada etapa da competição e é capaz de pedir a expulsão de um participante ou cancelar provas do programa, por reclamar nas redes.
A verdade é que o BBB20 é assunto em todas as plataformas de comunicação do país. E a ideia aqui não é analisar o conteúdo do programa, mas levantar o debate sobre o impacto dessas diferentes ferramentas no dia a dia do público e também dos influenciadores. Os alarmistas poderiam dizer que a TV vai acabar e que o Big Brother não duraria vinte anos, mas o que assistimos agora mostra que programas que atraem o interesse do público, movimentam também suas redes. Essa simbiose entre internet e TV ainda vai render muitos frutos (e discussões) interessantes, vale acompanhar.
* Lucas Lanzoni é coordenador de marketing na Squid, empresa especializada em marketing de influência. É formado em Comunicação Social pela Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, e tem mais de sete anos de experiência em comunicação corporativa e empresas com foco em cultura urbana, consumo e comportamento jovem e inovação.