* Por João Moretti
O setor bancário vem crescendo na última década e, em especial, o número de bancos digitais. No ano passado, pela primeira vez, o número de downloads de aplicativos de bancos digitais foi maior do que o de instituições tradicionais: 52% segundo uma pesquisa do UBS Evidence Lab.
Os bancos digitais se mostraram fundamentais durante a pandemia e o valor desse tipo de instituição é inegável. De acordo com um relatório publicado pela ResearchDive, o mercado bancário digital global está projetado para ultrapassar a marca de US $ 1,7 trilhão até 2026.
Sem dúvidas, o futuro é digital, o mercado continuará a crescer e o Banco Central há alguns anos têm estimulado a entrada de novos players. Mas até quando nascerão mais bancos digitais?
Há uma janela de oportunidades e, quem quiser aproveitar a chance, precisa correr, já que o tempo é curto. Para começar um banco digital não é necessário oferecer um portfólio completo de um banco tradicional, como, por exemplo, o Bradesco ou Itaú, entre outros.
No início, você pode começar como uma IP – Instituição de Pagamento ou até mesmo uma Sociedade de Crédito Direto (SCD), como o que aconteceu com a grande maioria das fintechs que surgiram no Brasil nos últimos anos.
Outra coisa que me chama muita atenção é que, alguns desses novos bancos digitais, estão saindo dos produtos tradicionais dos grandes bancos, transformando os aplicativos em superappsque, além dos serviços convencionais, vendem produtos e serviços diversos. Criando em alguns casos um verdadeiro marketplace, oferecendo atécashbackpara reter o seu correntista de uma forma muito mais inteligente do que era feito até então. Um exemplo disso é o banco Inter, que teve um crescimento excepcional nos últimos anos atingindo a marca de mais de 10 milhões de correntistas, no qual o usuário consegue fazer praticamente tudo pelo aplicativo.
E o lucro, como alguns pensam, não vem de uma hora para outra. Muitas instituições, como o Nubank, ainda operam no vermelho, porém continuam recebendo investimentos para crescer pelo seu grande potencial de inovação.
Hoje já são mais de 60 milhões de contas digitais, segundo o UBS EvidenceLab, isso sem contar as da Caixa Tem (utilizada para o pagamento do auxílio emergencial). Mas será que todas elas são usadas ativamente? Com certeza não! E aí vem mais um grande desafio para esses novos players: transformar um novo correntista em usuário assíduo.
Algumas instituições, como o C6 Bank, têm tido sucesso ao vincular suas contas ao pagamento de planos de telefonia celular e pagamento de estacionamento e praça de pedágio. Outra maneira de se despontar e crescer no mercado é criar um banco de nicho. Bancos de empresas varejistas e até comunidades pobres estão fazendo isso.
Não dá pra acreditar que os grandes bancos estejam preocupados de não aguentar essa corrida. Uma coisa é certa cada vez mais eles estão incomodados com a agilidade que os bancos digitais costumam ter. A XP Investimentos, que eu nunca imaginei que seria um banco, hoje é. Essa empresa, em específico, deu e dá a cada dia um show de gestão, competência e planejamento estratégico para todos os bancos que ditavam regras até poucos anos.
Esse movimento é muito importante para o mercado, já que gera benefícios para o usuário. Hoje são milhares de opções de produtos e, com a criação do PIX, o caminho mais natural é daqui alguns anos não ser mais necessário maquininhas de cartão, tanto que o Banco Central estuda adotar o PIX parcelado para os próximos meses.
O próximo passo é uma segunda transformação com o advento do open banking. E se uma pessoa é dona dos seus dados (a Lei Geral de Proteção dos Dados está aí para isso), por que não compartilhar essas informações com outros bancos para oferecer melhores taxas?
Aí entra novamente a importância da vigilância do Banco Central! Só deverão permanecer no mercado as instituições que realmente sejam sérias. Ser um banco não é para qualquer um, é necessário liquidez e segurança para oferecer apenas o melhor aos clientes.
A ‘festa’ não deve durar muito tempo.
* João Moretti, consultor na área de tecnologia, CEO da Moretti Soluções Digitais, presidente da ABIDs e fundador e sócio das startups AgregaTech, AgregaLog, Rodobank, Paybi e outros.