* Por Mareska Tiveron
Iniciei minha carreira como advogada em excelentes escritórios de advocacia, nas áreas de consultoria onde, além de homens, muitas mulheres competentes estavam ao meu lado em um ambiente que – naquele meu recorte de mundo – parecia diverso.
Desde esta época, ou seja 20 anos atrás, já se lia – ainda de forma mais isolada e tímida – alguns artigos, estudos, notícias e debates sobre o preconceito e a necessidade do aumento do número de mulheres no mercado de trabalho e um clamor para busca de maior equilíbrio de oportunidade entre profissionais dos sexos masculino e feminino.
Confesso que naquele período eu não compreendia tudo o que estava “por debaixo d´água” do “iceberg” da então busca pela igualdade de gênero. Talvez porque minha mãe foi uma marcante referência de força e me transmitiu, desde criança, uma mensagem muito clara de que com esforço, dedicação, integridade e superação constante das minhas próprias metas, seria possível conquistar meus sonhos (by myself).
Além disso, ainda com 27 anos de idade fui indicada para trabalhar em Nova York, em um projeto incrível em um dos maiores escritórios de advocacia do EUA, com base na minha performance e resiliência e, dessa forma, me parecia (frise-se: dentro da minha bolha), que as chances eram semelhantes entre os homens e as mulheres que estivessem em posições pares.
Alguns anos depois, quando eu resolvi empreender, fundando meu próprio escritório de advocacia e me vendo diante do desafio de captação de clientes, de negociar o preço da hora do meu trabalho e, mais tarde, quando passei a integrar o mundo corporativo justamente em um segmento duplamente masculino que é o das fintechs (financeiro e tecnologia), fui tomando consciência do quanto aquele tema era urgente e necessário como pauta.
Mais do que isso, com o passar dos anos, à medida que fui me tornando mais sênior em minhas posições profissionais, tendo me casado e me tornado mãe, ficou nítido o quanto a mulher é obrigada a ultrapassar e vencer uma quantidade muito maior de desafios para que alcance a mesma cadeira de liderança e a mesma alçada de decisão do homem.
Estes desafios se encontram dentro do mercado de trabalho como resultado de um legado histórico e da própria estrutura sócio-cultural. Mas também fora, na complexa missão da mulher de conciliar a sobrecarga do trabalho doméstico/da atuação como mãe com a tão cheia agenda profissional de uma gestora.
Tais desafios acabam sendo inerentes ao fato de se nascer mulher e não parece haver outra forma de se alcançar a almejada igualdade, se não for pela busca constante e ações afirmativas nesta direção.
Não se trata de uma luta contra um adversário, mas um tema de todos nós, homens e mulheres, que com união e foco nesta busca de um mundo mais diverso, beneficiaremos a sociedade com melhores resultados. Vale lembrar que diversidade é uma disciplina, assim como finanças, direito e tecnologia, sendo importante inserir o homem no aprofundamento deste tema e como um aliado nesta busca.
Liderança feminina e desempenho financeiro das empresas
São muitos os estudos que concluem ser vantajoso para a empresa diversificar seu time e, principalmente, sua liderança, não apenas em gênero, mas também raça, etnia, orientação sexual e outros critérios. Uma destas pesquisas, foi feita pela McKinsey em 2018 e comprovou que mulheres em cargos de liderança aumenta em 21% a chance de uma empresa ter desempenho financeiro acima da média.
No ecossistema de fintechs apenas 8.2% das startups foram cofundadas por mulheres. Uma porcentagem que precisa aumentar rapidamente, pois o trabalho de mercado financeiro é abrangente, analítico e técnico, além de ter como propósito a inclusão social, sendo flagrante a importância de termos cada vez mais pessoas diferentes e com distintos viéses nas equipes.
Para honrar as nossas precursoras que enfrentaram e venceram muitos obstáculos para que estivéssemos aqui, nós mulheres atuais em cargos de liderança podemos levar as pautas de diversidade para o painel de metas estratégicas das empresas, fomentar a mentoria para as estudantes e atuantes em cada um dos setores da economia, criar redes de apoio para facilitar a conciliação da dupla jornada da mãe profissional.
Enfim, somos peças importantes na nobre missão de continuar incentivando jovens mulheres e os homens da nova geração a agirem sempre guiados pela igualdade genuína de condições, até que um artigo como esse não seja mais necessário.
Mareska Tiveron é Head Legal, Compliance & Public Policy da Kamino (hub financeiro e corporativo para startups). Advogada, vem atuando em consultoria empresarial em escritórios de advocacia e no mercado financeiro há 20 anos, especialista em regulamentação bancária e de fintechs.