* Por Amure Pinho
O ano de 2020 começava acelerado. Já nos primeiros dias, após aporte internacional, a startup Loft se tornava o 11º unicórnio brasileiro – e o mais rápido da história do País. Mas, a expectativa de um ano de recordes deu espaço para uma crise inesperada de impacto global, que mudou completamente a ordem do tabuleiro dos negócios – se para algumas startups, a demanda nunca foi tão alta, para outras, o cenário se inverteu e a procura pelas suas soluções foi a zero.
É sabido que, no universo das startups, uma regra é clara: você precisa aprender a se adaptar rápido para crescer e empresas desse universo fazem isso diariamente, transformando o seu produto até que ele se encaixe como uma luva na dor do cliente. Essas mudanças que, na maioria das vezes são pequenos ajustes, podem ser muitas vezes uma nova direção. Uma crise pode mudar tudo, inclusive para melhor!
Este foi o caso do Sandro Wuicik, da startup Market4u. A startup oferecia estações automatizadas para ciclistas dentro de condomínios e percebeu que os snacks saudáveis atraiam mais os moradores do que os itens para esportistas. Decidiram aproveitar o acesso aos prédios para aumentar a oferta de produtos, criando uma espécie de mercado de autoatendimento dentro de condomínios por meio das vending machines.
Adaptaram rápido e lançaram a primeira delas em fevereiro, semanas antes do surto da pandemia no Brasil. Com o início do isolamento social, as bicicletas ficaram paradas, mas a venda do mercado – que opera sem funcionários – cresceu tanto que, desde o início da crise, a startup já inaugurou 45 novas estações.
Outro segmento que passou por uma revolução foi a educação. O fundador da Gama Academy, Guilherme Junqueira, teve que virar a chave para se tornar uma empresa totalmente digital praticamente uma semana após a pandemia. A escola de tecnologia que forma profissionais nas áreas de programação, design, marketing e vendas em programas presenciais e online, se adaptou rapidamente à nova realidade ao transformar seus programas em experiências de aprendizagem 100% online.
Para isso, a Gama antecipou um calendário de gravações de novas videoaulas, criou novas atividades práticas, contratou ferramentas digitais imersivas e trouxe ofertas mais segmentadas de acordo com a jornada e com o momento que diversos profissionais estão passando durante a quarentena. E todas essas movimentações já trouxeram bons resultados: em menos de um mês, os programas da empresa já acumularam matrículas de alunos de 18 estados brasileiros e dois países diferentes.
São apenas dois cases que exemplificam o mundo dos negócios das startups: rápida adaptabilidade ao mercado e escalabilidade. Para a maioria desses empreendedores, o cenário que a covid-19 trouxe é a primeira grande crise que eles enfrentam. E mais do que um aprendizado em mar bravo, esse período tem sido um teste definitivo ao modelo de inovação por trás da transformação digital irreversível que vamos continuar vivendo pelos próximos anos.
No futuro, ao olharmos para essa época, vamos perceber por meio da história que toda crise abre espaço para o novo e, assim como uma pandemia, a inovação pode surgir de forma imprevisível, por meio de problemas, desafios e inquietações de um cérebro empreendedor. Por isso, como bem disse Wilston Churchil: “Não desperdice uma boa crise. Adapte-se rápido e aproveita a oportunidade para se preparar para o futuro”.
* Amure Pinho é investidor anjo e presidente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups).