“Hoje, nosso grande propósito é viver em um mundo sem tóxicos. Não falo só de veneno, mas de relações tóxicas”. É assim que Marcelo Pinhel define o objetivo da Favo Tecnologia, startup que ajudou a fundar em 2018.
Focada em soluções para agricultura urbana e cultivo indoor, a empresa passou por uma rodada de captação recentemente e, com aportes da Anjos do Brasil e Curitiba Angels, chegou a R$ 1,2 milhão em investimentos acumulados, que vão ao encontro do novo foco da startup. É que agora, além de facilitar a vida daqueles que desejam plantar seus próprios temperos e alimentos, a Favo quer expandir seus serviços a produtores de cannabis medicinal.
No Brasil, a Justiça tem autorizado, nos últimos anos, a associações e pacientes o cultivo da planta e a extração do óleo de cannabis para uso terapêutico, voltado ao tratamento de doenças que vão de epilepsia à depressão.
No fim de 2019, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que em 2015 já havia retirado o óleo de cannabis da lista de substâncias de uso proibido no Brasil, aprovou regulamento para a fabricação, importação e comercialização de produtos derivados da cannabis no País, com venda exclusiva em farmácias e mediante apresentação de receita médica de controle especial. Na ocasião, o órgão rejeitou o cultivo, o que significa que os fabricantes precisam importar o extrato da planta.
Já em junho de 2021, a Comissão Especial da Câmara dos Deputados que analisou o Projeto de Lei (PL) 399/15 aprovou parecer favorável à legalização do cultivo de cannabis no País para fins medicinais, veterinários, científicos e industriais. Para Raissa Yamasaki, uma das fundadoras da Favo Tecnologia, esses movimentos recentes são fortes indicativos de que a discussão sobre o cultivo de cannabis deve avançar ainda mais por aqui, seguindo os moldes de países como Estados Unidos e Canadá.
“Pessoas que têm autorização para o cultivo e as associações de pacientes viram nas soluções da Favo uma boa alternativa para atingir a máxima produtividade. No mercado, os medicamentos à base da planta não saem por menos de R$ 2,5 mil; é um tratamento muito caro. Nesse cenário, a produção própria alivia os gastos. Nós acabamos percebendo que nossos produtos e serviços funcionam muito bem para cultivos de plantas sensíveis e de alto valor agregado”, explica a empreendedora.
Caso a legislação avance, além de consumidores com autorização para o plantio de cannabis e as associações, a Favo também poderá atender a clientes como farmácias de manipulação e o próprio Sistema Único de Saúde (SUS). Um sinal também para o mercado de que investimentos na área devem seguir crescendo.
Soluções
Com foco na agricultura urbana e no cultivo indoor, a Favo Tecnologia desenvolveu um dispositivo com sistema de irrigação automatizada e sensoriamento completo de ambiente, que monitora informações cruciais para o bom desenvolvimento das plantas, como luminosidade, umidade, temperatura e VPD (Vapor Pressure Deficit – Déficit de Pressão de Vapor). O usuário tem acesso a tudo isso via aplicativo, disponível para iOS e Android, e conta com suporte técnico 24 horas por dia, sete dias por semana.
A ferramenta também controla a fertirrigação, irrigação realizada com fertilizantes diluídos, com precisão de até 95%. Trata-se de uma funcionalidade muito interessante, já que no cultivo indoor o fertilizante pode representar cerca de 25% dos custos. O sistema completo sai por R$ 979. A principal vantagem da empresa é utilizar os dados do ambiente e da irrigação para sugerir ao cliente as melhores práticas para obtenção da máxima produtividade, além de apresentar extrema confiança e eficiência na aplicação de fertilizantes.
A startup tem registrado crescimento rápido. A empresa começou em 2020 com 300 clientes e, após a aceleração da HARDS, chegou ao fim do ano com 1,2 mil. Atualmente, são 1,6 mil. Por mais que esteja localizada em Curitiba (PR), a Favo Tecnologia faz vendas para o Brasil inteiro e já registrou transações internacionais para países como EUA, Canadá, Reino Unido, Austrália, Uruguai e Chile.
“Esse crescimento ocorreu por três fatores principais. Em primeiro lugar, houve aceleração, pois conseguimos nossos primeiros investimentos. Entendemos também o poder do networking, da mentoria, de ter ‘cabeças pensantes’ na Favo. Por fim, desenvolvemos nossa capacidade de flexibilidade, seguindo a lógica de ‘errar rápido, errar barato’. O primeiro foco da empresa foi na agricultura urbana voltada à construção civil. Vimos que não estava dando certo e pivotamos”, conta Pinhel.
Empreendedorismo com propósito – A Favo foi fundada por pessoas que cresceram no interior do Brasil e conseguiram unir, na startup, duas grandes paixões: a natureza e a tecnologia. O que a Favo busca não é ser uma empresa para si, mas para um mundo melhor, com saúde e segurança alimentar, sem fome e sem desperdício. Ademais, a empresa considera como seus valores principais a libertação por meio do conhecimento, a criação colaborativa, a compreensão da tecnologia como aliada e a valorização da cultura local.
“É claro que o dinheiro é importante, mas como métrica de eficiência. Em vez de ‘go big or go home’ [‘cresça ou vá para casa’], acreditamos em ‘go green and go gome’ [‘seja verde e vá para casa’]. ‘Verde’ em relação a se aproximar da natureza e dos processos naturais, valorizar os relacionamentos com outras pessoas, de amizade. ‘Ir para casa’ no sentido de levar a natureza para a sua casa, livrar-se de produtos com agrotóxicos, comprar de empresas pequenas e locais. Todos temos que crescer juntos”, finaliza Pinhel.
Foto de destaque: Marcelo Pinhel, cofundador da Favo Tecnologia.
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