A precisão e segurança do método de testagem em massa para a covid-19, o “teste em pool”, desenvolvido de forma pioneira pela startup catarinense BiomeHub, no Brasil, alcançou reconhecimento científico internacional, com a publicação de um artigo sobre a metodologia na revista científica PLOS ONE – uma das mais prestigiadas do meio.
O método, descrito no trabalho, prevê a testagem de assintomáticos em grupos, por meio de testes do tipo RT-PCR – os mais precisos para detectar a presença do vírus ativo num indivíduo -, agilizando e reduzindo os custos com o procedimento. Desde o início da pandemia, a healthtech já testou cerca de 100 mil pessoas dessa forma, 30 mil delas só na capital Florianópolis, onde fica sua sede.
O trabalho publicado contou com a participação de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e do Hospital Israelita Albert Einstein. “Ele mostrou que a estratégia desenvolvida pela BiomeHub não apresentou perda significativa de sensibilidade, permitindo a aplicação em larga escala e com custo reduzido, principalmente em populações de baixa prevalência do vírus, como no indivíduos assintomáticos”, explica Luiz Felipe Valter de Oliveira (FOTO), CEO da startup e doutor em Genética e Biologia Molecular.
Para o artigo, um total de 19.535 pacientes assintomáticos ou pré-sintomáticos foram testados, usando aproximadamente 4.400 ensaios RT-qPCR. Isso corresponde a um aumento de 4,4 vezes na capacidade laboratorial e uma redução de 77% no total de testes necessários. A combinação de swabs (cotonetes de uso laboratorial), portanto, representa um ganho no desempenho operacional para testes confiáveis de SARS-CoV-2 em escala.
Sensibilidade semelhante a testes individuais
Os métodos tradicionais de testagem em pool apresentam algumas ressalvas por perdas na sensibilidade do exame. O método desenvolvido pela BiomeHub, no entanto, aprimora o tradicional agrupamento de amostras, modificando a primeira etapa do processo e conferindo à metodologia de triagem de indivíduos uma sensibilidade muito próxima a do diagnóstico dos testes realizados individualmente.
No tradicional teste em pool, “o agrupamento das amostras dentro do laboratório é um procedimento dispendioso que apresenta riscos de diluição das amostras e consequente perda de sensibilidade na detecção do RNA do vírus”, explica o CEO da BiomeHub e coordenador do estudo. O pool de swabs desenvolvido pela startup realiza o agrupamento das amostras no momento da coleta, diminuindo a criticidade da etapa de manipulação antes do processamento. Além disso, uma amostra individual de cada paciente do grupo é coletada e permanece intacta para ser analisada caso a amostra do pool esteja positiva.
O experimento de emparelhamento, realizado com os pools de 613 amostras, demonstrou que nenhuma individual positiva esteve vinculada a um pool negativo, resultando em 100% de confiabilidade quando comparados os resultados dos pools com os das amostras individuais. “Como a referência utilizada foi o teste individual, a sensibilidade é de 99% e a especificidade de 99,8%. Assim observamos forte similaridade no desempenho diagnóstico no método da triagem com pool de swabs”, afirma Dellyana Rodrigues Boberg, doutora em genética e responsável técnica pelas análises do laboratório.
Outra vantagem apontada pelo estudo é que com a redução da primeira etapa de manipulação do pool, laboratórios nos quais o pool tradicional é inviável tornam-se capazes de contribuir para a triagem em grande escala. O pool de swabs permite que qualquer laboratório apto a realizar o exame diagnóstico também faça a triagem e análise em grupos.
Com a metodologia desenvolvida, a startup tem contribuído especialmente na manutenção de indústrias essenciais e na retomada das atividades econômicas, oferecendo um importante aliado nas medidas de segurança do trabalho, para a convivência com o vírus, até que os índices de vacinação aumentem.
Como o teste é aplicado
A metodologia desenvolvida e validada pela startup catarinense agrupa até 16 swabs no momento da coleta, o que mantém a carga viral original de um eventual indivíduo positivo. Nesse modelo de testagem em grupo, são coletadas duas amostras da nasofaringe de cada indivíduo assintomático. Um dos materiais coletados fica reservado em um tubo individual, enquanto a outra amostra é testada no modo coletivo no método RT-PCR em tempo real.
Os resultados saem em até 48 horas, sendo que o resultado dos pools negativos são obtidos em até 24 horas. Caso alguém do grupo esteja contaminado, são realizados os testes individuais e os mesmos ficam isolados até a descoberta de quem do grupo está infectado pela doença. Em caso de o “grupo testar negativo”, todos são liberados com um único teste.
O trabalho que descreve o método foi publicado no início de fevereiro de 2021 na revista científica PLOS ONE. O periódico internacional dissemina papers de um largo espectro de disciplinas, que incluem as ciências, as engenharias e a matemática.
Faturamento cresceu dez vezes em 2020
No ano passado, em razão da alta demanda pelos testes, a BiomeHub viu o seu faturamento saltar para R$ 12 milhões – valor dez vezes maior do que o registrado no ano anterior, o seu primeiro de atuação. Em 2021, mira o mercado de soluções tecnológicas baseadas no microbioma humano, onde também já atua.
No último semestre do ano passado, a empresa teve uma retomada de crescimento nessa sua fatia dos negócios e, mesmo em meio a pandemia, registrou em 2020 um aumento de 50% na demanda por estes serviços. Neste ano, a empresa pretende manter o aumento de 20% ao mês com suas soluções baseadas no microbioma humano e lançar dois novos produtos.
“A demanda por testes para a covid-19 foi responsável por 75% do nosso faturamento em 2020. Mas, mesmo se a pandemia não tivesse acontecido, teríamos dobrado o valor em relação ao ano anterior, com a procura por nossas soluções de microbioma humano”, explica o CEO da startup.
A empresa pretende colocar no mercado, até o fim deste primeiro semestre, mais dois testes: um de microbioma cérvico-vaginal e outro de microbioma oral, ambos em fase de validação técnica. O Probiome, um teste do microbioma intestinal que ajuda profissionais da saúde a entenderem melhor a relação do microbioma intestinal dos seus pacientes com a condição clínica que está sendo analisada, já está no mercado, e sua procura cresceu mais de 50% em 2020. “Um dos pontos que fazem com que tenhamos uma alta capacidade de inovação é a qualidade e quantidade de colaboradores com mestrado e doutorado que fazem parte da nossa equipe”, diz Oliveira.