*Por Robson Del Fiol e Raphael Vianna
O mercado de startups é cheio de neologismos e alguns termos pouco conhecidos pelo público em geral. No entanto, alguns destes termos passaram a ser de domínio público, sendo mais comuns os de Investimento-Anjo e Smart Money. Eles representam um investimento feito por uma pessoa física, sendo basicamente uma combinação de capital intelectual e dinheiro. Nestes casos, ambos são aportados em startups em seus estágios iniciais por uma futura participação societária nos negócios desta empresa.
Entre estes investidores, é comum a seguinte afirmação: “Quem investe em startups em estágio inicial, investe no jóquei, e não no cavalo”. Isso quer dizer que uma startup em estágio inicial vai fazer muitos pivots de modelo de negócio antes de se tornar um bom investimento, o que só acontece com uma parcela bem pequena das empresas, pois a grande maioria nunca vai receber investimentos.
O fato é que os investidores-anjo têm a difícil tarefa de “descobrir” qual startup tem mais probabilidade de dar certo no futuro e trazer retornos sobre os investimentos. Empresas neste estágio não têm balanços, não têm muitos números e, com isso, sobram incertezas.
Para reduzir as incertezas, os investidores-anjo profissionais possuem práticas de Gestão de Relacionamento com o Cliente (CRM) e filtros que utilizam dados para tentar separar o joio do trigo. Contudo, o sucesso de um investimento depende de muitos fatores incontroláveis pelos investidores e pelas investidas, não restando muita escolha a não ser apostar no melhor time fundador.
No Brasil, os investidores-anjo são responsáveis pelo maior volume de transações, porém com os menores tickets. Segundo pesquisa da Anjos do Brasil, organização sem fins lucrativos criada com o objetivo de fomentar o crescimento do investimento anjo para o apoio ao empreendedorismo de inovação brasileiro, o investimento- anjo alcançou a cifra de R$ 1,067 bilhão em 2019, com valor médio de investimento de R$ 129 mil. O mesmo estudo aponta também que hoje há aproximadamente 8.220 investidores-anjo no Brasil.
Os dados da pesquisa da Anjos do Brasil também evidenciam que o potencial deste mercado é muito grande se compararmos com mercados mais maduros. Nos Estados Unidos, por exemplo, há cerca de 323 mil investidores-anjos e, na União Europeia, são cerca de 345 mil. Já os valores de investimentos são da ordem de R$ 134 bilhões e R$ 49 bilhões, respectivamente.
Entendemos que o volume de investimentos anjos e a quantidade de investidores tende a aumentar por fatores mercadológicos e, também, pelo sentimento de give back dos empreendedores que um dia receberam investimento-anjo e conseguiram atingir o sucesso em seus negócios. Mas, ainda existem muitas variáveis que precisam ser melhoradas, tais como a facilidade de fazer negócios, a governança, a diversidade, e, também, menos burocracia.
*Robson Del Fiol é sócio-diretor líder de Emerging Giants da KPMG no Brasil. Raphael Vianna é sócio-diretor de Análise de Dados para Deal Advisory da KPMG no Brasil.