Não precisa responder agora – ser um pouco prudente é sempre bom no mundo dos negócios. Imagine você receber uma proposta para vender sua startup justamente no momento em que o produto se confirma inovador e rentável, com projeções de fluxo de caixa bastante otimistas. A concorrência entra no jogo e também está disposta a pagar um valor excelente por ela. Logo, você pensa: a empresa deu certo! Mas eis que surge a seguinte questão: você fecha um bom negócio agora ou continua trabalhando para apostar em uma venda futura, que pode chegar à casa dos bilhões de dólares?
Eu arrisco dizer que essa é uma angústia que muitos empreendedores gostariam de sentir. Digo isso porque já passei por essa situação e acredito ter feito a escolha acertada. Poder optar entre uma Early Exit ou levar o negócio adiante, ainda que captando investimentos externos, é um luxo. Claro que, como toda decisão no mundo dos negócios, há riscos. Pode ser a diferença entre colocar um bom dinheiro no bolso depois de poucos anos de trabalho ou quase nada, caso não venda agora e as coisas dêem errado ao longo do caminho.
O mundo das startups é um mercado em ebulição, cheio de oportunidades, mas também com riscos, e o cenário vem registrando um crescimento significativo de Early Exits, as vendas precoces de empresas de tecnologia, cujos valores variam entre R$5 milhões e R$50 milhões. Esse processo, além de gerar liquidez de curto prazo para os empreendedores e investidores, permite criar algo ainda maior (e com ganhos maiores) junto de uma empresa estratégica, através de ações da companhia compradora ou earnout, quando parte do preço é pago mediante performance do negócio após a aquisição ou fusão. Essas negociações estão sendo impulsionadas também pela necessidade de inovação constante de grandes instituições, puxadas pela aceleração das transformações digitais.
Na maioria das vezes, essas inovações não estão acontecendo dentro do Amazon, do Google ou do Bradesco, só para citar alguns compradores de peso. As próximas facilidades que você não conseguirá mais viver sem quando for (ou não) ao supermercado, ao shopping, ao banco ou na hora de receber as compras feitas online pertencem às mentes inquietas de milhares de empreendedores digitais.
Já validadas e escaladas no mercado, com muito potencial para crescimento, essas startups são compradas e incorporadas à estrutura maior, juntamente com todo o seu time, que é também um gargalo enfrentado pelo setor de inovação.
Segundo o advogado, autor e consultor canadense de Early Exits, Basil Peters, o foco das grandes empresas hoje é pegar um business de US$20 milhões e transformá-lo em um negócio de US$200 milhões ou US$1 bilhão. Elas querem negócios que estão longe de realizar um IPO e que receberam poucos investimentos. No máximo, uma injeção de capital inicial.
Em meio a esse processo, a baixa na rentabilidade dos investimentos em renda fixa e volatilidade da Bolsa de Valores, vem direcionando um número crescente de investidores de tecnologia para o mercado nacional. Os investidores-anjo, que normalmente entram nos estágios iniciais das startups, são facilitadores dessa saída antecipada. Para eles, o Early Exit é uma forma mais lucrativa e rápida de investir. Esse é, sem dúvida, um ambiente perfeito para os donos de boas ideias fecharem ótimos negócios.
Quem opta por não fazer o Early Exit também pode ser bem sucedido com um IPO, claro. Mas se for apenas um adiamento e o empreendedor perder o timing, a curva de crescimento pode estacionar ou até mesmo cair, derrubando a avaliação (valuation) da startup. Importante sempre ter em mente que, no momento da venda, fatores como tempo, potencial e probabilidade serão levados em consideração.
E como saber se esse é um bom momento e como calcular o valor de venda de uma empresa tão jovem? Para o empreendedor, de cara, a principal vantagem de uma Early Exit está em antecipar ganhos projetados, minimizando possíveis perdas. De acordo com Basil Peters, ter um modelo de negócio bem formatado é essencial. Conhecer os indicadores de custos versus a taxa de crescimento, além de risco de concorrência, potencializa a capacidade de negociação e sucesso na hora de fechar a proposta.
Se vender sua startup antes mesmo dela mostrar todo o seu potencial parece uma forma de desistir de um jogo que se está ganhando, eu vou te contar um negócio. O que parece o fim do caminho para a mente inquieta do empreendedor é, na verdade, o início de uma nova jornada. Dessa vez, iniciada com alguns milhões no bolso e o know-how de quem passou por uma história anterior de sucesso.
João Cristofolini é fundador e Co-CEO da Pegaki, fundador do ResumoCast, host do Pudo Brasil e autor de 7 livros.