Por Brian Requarth, CEO e co-fundador do site de busca de imóveis VivaReal.
Em 2009, no início das operações do portal VivaReal no Brasil, Diego Simon, um dos co-fundadores da empresa, trabalhou por quase um ano e meio em um dos “menores escritórios do planeta”. O local, uma pequena despensa de 3m², transformada em escritório, que era carinhosamente chamado de “The Box Office” – uma brincadeira de duplo sentido para dizer que nossa empresa faria tanto sucesso quanto um filme (box office é o termo utilizado em inglês para filmes que estouram a bilheteria), quanto para dizer que de fato o local era apertado como uma caixa de sapatos.
Ao saber da minha história, todos os meus amigos dos Estados Unidos consideravam-na fascinante: ir para o Brasil empreender e construir uma startup. “Isso que é vida”, diziam eles (mal sabiam que quando vim ao Brasil dormi no sofá de Diego por vários meses). Passado este tempo, hoje eu digo que minha jornada está longe de ser considerada glamourosa e possuo a convicção de que todas as dificuldades fazem parte do processo. Acredito que a luta e empenho são de fato fundamentais para a construção de um negócio de sucesso.
Recentemente tenho sido mentor de outros empreendedores, e na semana passada, em um evento da Endeavor me perguntaram sobre estratégias relacionadas à captação de investimentos. Como devo levantar capital? Devo captar recursos de fundos de investimentos? E quanto a investidores estratégicos que querem controlar a minha empresa? Como você pensa em obter capital para fazer seu negócio crescer? Não há um formato ideal. Qualquer um que diga para ficar longe do capital de risco ou para captar o máximo possível de investimento, sem conhecer a real situação de sua empresa, não serve para dar conselhos.
Temos sido muito bem sucedidos em levantar recursos para o VivaReal, mas o que muitas pessoas não sabem é que passamos anos vivendo no limite. É neste momento que volto aos nossos primeiros meses da empresa, a era do “box office”, quando tentei por muitas vezes trazer investidores para o VivaReal, mas o interesse era zero.
Analisando em retrospecto, este cenário negativo acabou sendo a melhor coisa que aconteceu, basicamente por dois motivos: primeiro porque diante das dificuldades me tornei extremamente determinado em provar que as pessoas que não queriam investir estavam erradas, e que de fato havia uma oportunidade muito interessante. Hoje, operamos o maior portal imobiliário do Brasil, com mais de 2 milhões de imóveis publicados, e contrariando nosso início todos os meses eu recebo e-mails de investidores de várias nacionalidades com interesses em participar de nossa empresa, ainda que hoje não seja necessário captar mais investimentos. Segundo, que passar as dores do “crescimento”, proporcionadas pelas dificuldades que só conhece quem passa por elas, nos permitiu descobrir o modelo adequado ao nosso negócio. Ter muito dinheiro à disposição nem sempre é uma coisa boa, pois você pode se descuidar e tentar fazer tudo de uma só vez. Quando você não tem isto à disposição, torna-se criativo e com o foco muito mais definido. Obviamente, há momentos em que você terá grandes concorrentes com os bolsos cheios e dispostos a competir ferozmente, nos quais você precisará de caixa para “atacar”, mas isto nem sempre é necessário.
Cinco anos após a nossa inesquecível “despensa”, agora instalados em um prédio exclusivo para a empresa, na semana passada, enquanto caminhava pelas ruas da Vila Madalena vi dois grafiteiros trabalhando em um projeto. Desde que cheguei a São Paulo, sempre me impressionou a habilidade destes artistas. Gostei do que vi e perguntei aos meus novos amigos Lucas Barbosa (@sacolarts) e Mauricio Glor (@mauricioglor) se eles estariam interessados em criar alguma arte para o novo andar de nosso prédio que estava prestes a ser ocupado por parte de nossa equipe. Quando tive a ideia, acabei refletindo sobre nosso primeiro escritório. Me remeteu a algo sobre a ideia de voltar às nossas origens, e a mudança para a ex garagem (ocupada pelo novo andar), foi muito simbólico.
Sugeri o tema “a transição do mercado imobiliário do meio offline para o meio online” e dei liberdade para que eles o fizessem ao seu próprio estilo. Abaixo vocês podem conferir um vídeo que mostra um resumo de como o projeto foi realizado e um time-lapse de como ficou o resultado.
O espaço onde antes funcionava uma garagem agora abriga nossa área de engenharia e desenvolvimento de produtos e acredito que a mesma filosofia se aplica à construção de um grande projeto. Podemos falar sobre os objetivos e metas que queremos para a empresa, mas é preciso dar às pessoas talentosas autonomia para que façam um excelente trabalho. Estou animado para ver os produtos que irão sair de nossa “garagem” nos próximos meses.