* Por Mayrá Casttro
Uma vez, eu ouvi alguém dizer que se deveria acabar com o extrativismo na Amazônia para se produzir a partir da floresta em escala sem precedentes. Eis a importância de se compreender o contexto, cultura e valores de um lugar. Extrativismo é muito mais que um meio de produção, é também um modo de vida. É uma forma de se relacionar com a floresta.
Por um lado, existe a discussão de se escalar a bioeconomia para que haja relevância suficiente para se produzir a partir da floresta de pé. Por outro, a escala de produção na Amazônia pode significar monocultura. Indo além, quem tem acesso e condições para grandes produções geralmente não são pessoas oriundas de comunidades tradicionais. É um pequeno grupo de pessoas que detém capital e poder para tal e, muitas das vezes, é de fora da região, desconhecendo a cultura e demandas locais.
Escalabilidade na Amazônia tem que ser pensada pelo viés de valoração e não simplesmente de quantificação. Escalar a produção de insumos da floresta sem aumentar a valorização dessas fontes é correr o risco de se manter o mesmo status quo de almoxarifado do mundo. Já escalar o valor dos produtos amazônicos pode abrir fronteiras de novos mercados. E esse assunto é extenso para um só artigo.
A castanha-do-Pará, por exemplo, é uma das maiores cadeias da região e, segundo o pesquisador Alfredo Homma, 95% da produção da castanha é extrativista. Se esse produto fosse para o mercado por valor e não quantidade, levando em conta as histórias por trás e participação da base da cadeia nos resultados, certamente a motivação de compra do consumidor final seria outra. Para ilustrar, um estudo da Nielsen Study de 2018 identificou que cafés e chocolates fair trade venderam cinco vezes mais que os produtos convencionais. Paga-se mais caro por isso. E se houvesse algo semelhante para com produtos amazônicos? Agregaria-se mais valor.
Um outro fator de escalabilidade de valor é a verticalização do que há na região a partir de inovação e tecnologia. Hoje, o estado do Pará é o maior produtor de açaí do mundo, concentrando mais de 90% de toda a produção. No entanto, o maior exportador para o exterior é o Ceará. Levando em conta a força da marca Amazônia e o apelo que a região tem, se a economia da Amazônia se transformar em um hub de negócios conscientes e destino para investimento começamos a alinhar economia com o poder da floresta.
No entanto, um dos grandes desafios é questionar o mindset da commodity que ainda é imposto como modelo. Quando se compra insumos na Amazônia, mas se produz em outro lugar, esse outro lugar é que se desenvolve e não a região.
Um conceito de escalabilidade que faça sentido para um novo desenvolvimento econômico regional inclui agregar valor na base, ou seja, transformar quantidade de fornecimento em produtos diretamente produzidos na Amazônia.E existe conhecimento científico e saberes tradicionais o suficiente para esse tipo de escala. Isso resultaria em geração de renda, receita e tributos regionalmente.
A Amazônia é uma marca internacionalmente reconhecida e que tem por trás uma série de conceitos de alto valor agregado, tais como, sustentabilidade. Mas qual o impacto se gera regionalmente ao se usar a marca sem que os resultados finais não retornem para a região?
A virada de chave da Amazônia se encontra para além da escalabilidade de insumos da floresta. Encontra-se na valoração econômica da história e da cultura milenar que se carrega em toda a sociobiodiversidade amazônica, para que se construa um forma de consumo mais consciente onde se pague por um “porquê” e não “o que”.
Se neste momento de construção de novas economias regionais levarmos em conta a importância de valor para além de preço, é possível fazer uma transição para um modelo mais justo social, econômica, cultural e ambientalmente para com a maior região do Brasil e maior floresta do mundo.
Nascida na Amazônia, em Belém do Pará, Mayrá Casttro é fundadora da empresa InvestAmazônia, advogada e designer de conexões e parcerias. Mestre em Direito Internacional e Europeu pela Universidade de Genebra, na Suíça, Mayra morou 6 anos na Europa e tem 15 anos de experiência em desenvolvimento de parcerias, design de projetos, tradução cultural e construção de equipes. É TEDx speaker, conselheira emérita do Capitalismo Consciente, conselheira consultiva, palestrante, embaixadora do Seedstars World no Brasil e jurada de competições de startups.
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