* Por Jaquelyne Abrahim
O que é estar na moda, para começo de conversa?
Para estudiosos do tema, estar na moda é seguir um padrão da época que se vive de uma forma efêmera, passageira. Seguir uma tendência é usar o que a maioria está usando no momento e esperar a próxima “moda”.
Agora, o que é ter propósito? Palavra que, a meu ver, está em alta ultimamente.
Segundo o dicionário Michaelis: pro·pó·si·to (sm)
1) Intenção de fazer ou deixar de fazer alguma coisa; desígnio, plano, projeto, vontade;
2) Decisão após consideração e várias possibilidades; deliberação, resolução;
3) Objeto que se tem em vista; meta, mira;
4) Bom senso; juízo, prudência, tino.
Nesse contexto, ter propósito é ter uma motivação para se fazer tudo o que se faz na vida e no trabalho.
Na minha vida pessoal e profissional eu sempre tive alguns drivers (não acho que posso chamar de propósitos), que envolvia muito mais a minha pessoa como indivíduo do que o coletivo. Não que eu não me importasse, mas talvez nunca tivesse parado para pensar em questões que estavam além da minha “bolha”.
Os primeiros contatos que eu tive com a palavra propósito não faz muito tempo, deve ter sido em 2017 ou 2018, onde as pessoas começaram a divulgar que era importante ter um propósito. Isso para mim estava na moda. Ter discursos com propósito. Nesse tempo eu já era uma gestora de empresa, empresa que acabou entrando no universo das startups, onde essa palavra estava ainda mais presente. Será que eu precisaria arrumar um propósito, ou pelo menos um discurso com propósito, para conseguir prosperar a minha empresa? Até tentei, confesso, mas isso não me soava natural. Tinha uma certa dificuldade em definir qual o propósito deveria ter.
Coincidência ou não, assim que a pandemia começou muitos assuntos que não faziam parte daquela minha bolha começaram a mexer comigo. Me vi pensando e questionando coisas que eu nunca tinha pensado antes. Assuntos diversos, comportamento, julgamentos, preconceitos, entre outros que começaram a me incomodar e eu ainda não estava entendendo muito bem o que fazer com eles.
Além disso, comecei a me interessar e me aprofundar em alguns desses assuntos e a debater sobre eles com algumas pessoas próximas a mim que, naquele momento, eu julgava não ter absolutamente nada a ver com o meu trabalho e com a minha empresa. Vi que tinha muita coisa ali para eu entender. Em paralelo a isso, eu já estava fazendo sessões de psicanálise, o que me fez aos poucos ir mudando o meu julgamento e análise no que dizia respeito às minhas próprias atitudes e às atitudes à minha volta. Juntando esses dois fatores eu comecei a entender o que era propósito, ou melhor, o que poderia ser o meu propósito.
Eu tinha vontade de que muitas coisas fossem diferentes, que algumas parassem de acontecer e outras passassem a acontecer. O que eu poderia fazer? Esperar que um milagre acontecesse e que todas as pessoas acordassem no dia seguinte pensando da mesma forma que eu ou poderia mudar algumas atitudes minhas para que eu pudesse promover, de alguma forma, essa mudança?
Se eu disser que tenho um propósito de vida muito claro, estou mentindo. Ainda tenho a sensação de que tenho muito o que clarear em minha mente, mas o que já tenho é que eu quero, de alguma forma, deixar o mundo melhor do que eu encontrei. E nessa direção caminha minha busca pelo meu propósito.
Através do propósito é que conseguimos expressar os nossos valores, que pode acontecer de diferentes formas. A forma que eu, como empresária, tenho de expressar os meus valores é, também, através da minha empresa. Afinal, as empresas são o reflexo que quem as representa.
Espero que ter um discurso com propósito saia de moda e ter um propósito passe a ser um estilo de vida. Melhor ainda se for por um bem coletivo.
Jaquelyne Abrahim, é cofundadora da D2P, startup de inteligência de comércio exterior, residente do Cubo Itaú. Formada em design de moda pela Belas Artes e pivotou completamente a carreira em 2014, se especializando em logística internacional, gestão e marketing.