* Por Mayrá Casttro
Vivemos em um contexto onde se fala muito em disrupção tecnológica, trazendo novas fronteiras para a sociedade e um crescimento exponencial de oportunidades. Rail Kurzweil, um dos fundadores da Singularity University, traz o conceito de Lei dos Retornos Acelerados para explicar que o progresso tecnológico não é linear, ele é exponencial. Ele explica que isso se deve a uma série de fatores. Tecnologias anteriores e recursos (talentos e financiamento) são a base que, atrelada à performance crescente e preço decrescente, fazem com que a tecnologia cresça de forma exponencial.
O que isso tem a ver com a Amazônia? Um dos tipos de disrupção tecnológica na região chama-se acesso à internet em áreas remotas. Essa é uma realidade que eu posso falar com propriedade por morar em uma comunidade ribeirinha e acompanhar de perto os impactos e transformações socioeconômicas que a internet traz nessas regiões.
O cenário nos últimos cinco anos tem mudado drasticamente, muito em conformidade com a teoria de Kurzweil da Lei dos Retornos Acelerados. A pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios “Acesso à internet e à televisão e posse de telefone móvel celular para uso pessoal” de 2021 aponta que conectividade em áreas rurais saiu de 57,8% para 74,7%. No entanto, o percentual de pessoas que não acessam a internet devido ao serviço não disponível no norte é de 12,2% ao passo que no Sudeste é de 3,9%. E essa realidade é muito presente em áreas remotas.
Além disso, existe um outro fator determinante que é a qualidade do acesso à internet. Eu moro em uma comunidade ribeirinha, próxima a Belém, desde 2021. Só pude mudar quando a internet melhorou, pois era quase inexistente. Ainda assim, ano passado tive que instalar um equipamento de internet rural que, apesar de mais caro, é o que as pessoas ao redor passaram a adquirir. Tentei comprar a Starlink, mas não estava disponível no norte e era bem cara. Hoje, a Starlink está disponível, com várias opções e um valor de quase um terço que no ano passado. É notório o quanto o acesso à internet em áreas remotas pode mudar a realidade. Em minutos, estudantes podem acessar mais conhecimento e transações econômicas podem ser feitas, sem ter que se deslocar 5, 10, 15 horas de barco para ir a uma agência bancária.
Mas não param por aí os exemplos de disrupção tecnológica na Amazônia. A própria biodiversidade é um grande laboratório com possibilidades infinitas de disrupção. Agora, é preciso ressignificar o que consideramos tecnologia e ampliar os horizontes. O fogo é tecnologia, a roda é tecnologia, e como diz a Amanda Graciano, cozinhar é uma tecnologia ancestral. E falando justamente de ancestral, se considerarmos todo o conhecimento técnico por trás das tecnologias ancestrais, temos um universo disruptivo de tamanho expressivo e inimaginável.
Um dos inúmeros exemplos que intrigam é a composição da chamada Terra Preta de Índio. Considerado um dos solos mais férteis do mundo, a TPI é uma construção humana milenar, em um contexto de solo pobre como é o amazônico. Isso foi disruptivo. E este é um exemplo de legado sobre agricultura sustentável que certamente poderia auxiliar no contexto atual.
Um dia o meu pai chegou em São Paulo para me visitar, quando eu lá morava, e trouxe um spray de copaíba. Alemão! Mas passar copaíba na garganta é algo que se faz corriqueiramente na região há muito tempo.
Quando se fala em Amazônia e em tecnologia, temos que ampliar os horizontes para soluções que resolvam problemas regionais e que possam, à medida que melhorem a sua performance, reduzam-se os custos. A população local precisa ter acesso àquilo que fornece ao mundo, nesse caso, estamos falando do maior laboratório do mundo.
Nascida na Amazônia, em Belém do Pará, Mayrá Casttro é fundadora da empresa InvestAmazônia, advogada e designer de conexões e parcerias. Mestre em Direito Internacional e Europeu pela Universidade de Genebra, na Suíça, Mayra tem 15 anos de experiência em desenvolvimento de parcerias, design de projetos, tradução cultural e construção de equipes. É TEDx speaker, conselheira emérita do Capitalismo Consciente, conselheira consultiva, palestrante, embaixadora do Seedstars World no Brasil e jurada de competições de startups.
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