* Por Ingrid Barth
O crescimento exponencial do ecossistema das Startups já não é um assunto novo, principalmente para quem está inserido direta ou indiretamente nesse mercado, seja como consumidor, seja como empreendedor ou colaborador.
Porém, o que muitas vezes não fica tão claro, é o papel protagonista que as startups vem assumindo, cada vez mais, na promoção do crescimento econômico e do desenvolvimento dos países de uma maneira geral, uma vez que são consideradas inovadoras, ágeis e adaptáveis às mudanças do mercado e são geralmente criadas para resolver problemas reais da sociedade, promovendo também a melhoria do bem-estar das pessoas e promovendo novas interações de trabalho e transformando a maneira como interagimos como o meio.
As startups podem trazer novas ideias e tecnologias para o mercado, criando produtos e serviços digitais, melhorando a eficiência e a produtividade das empresas estabelecidas e estimulando a competição. Além disso, as startups podem atrair investimentos de capital de risco e de outros tipos, fornecendo um impulso financeiro para a economia.
De acordo com dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), as startups e PMEs são responsáveis por uma parcela significativa do emprego e do valor agregado em muitos países mundo, e em especial de um grupo denominado “G20”. Por exemplo, na União Europeia, as PMEs representam 99% de todas as empresas e empregam cerca de 93 milhões de pessoas, enquanto nos Estados Unidos, as startups criaram cerca de 2 milhões de empregos por ano nas últimas décadas.
Mas vamos entender melhor o que é o G20 e seus grupos de engajamento. O G20 é um grupo composto pelas 19 maiores economias do mundo e pela União Europeia e foi criado em 1999 para promover a cooperação econômica e financeira internacional visando maior alinhamento entre as noções e melhor benefício global como um todo.
Desde então, os líderes do G20 se reúnem anualmente para discutir questões importantes relacionadas à economia mundial, como comércio, investimentos, finanças, energia e mudanças climáticas. As discussões do grupo muitas vezes levam a acordos internacionais importantes e influenciam a política econômica global. Seus países somam cerca de 80% do produto interno bruto (PIB) global, dois terços da população mundial e 75% do comércio internacional. Os membros do G20 são: Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Coreia do Sul, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos.
Alguns temas são tratados dentro do G20 como pautas prioritárias, ou seja, precisam de atenção especial não apenas dos governos, mas também de membros da sociedade civil, e para direcioná-los melhor foram criados os “Grupos de Engajamento”, que são formados por membros da sociedade civil representadas por diferentes setores, como empresas, organizações não governamentais (ONGs), acadêmicos e grupos de reflexão, que têm um interesse legítimo nessas agendas. Esses grupos fornecem uma plataforma para que as vozes da sociedade civil sejam ouvidas pelos líderes do G20 e influenciem a agenda do grupo. Os Grupos de Engajamento do G20 têm a oportunidade de apresentar propostas e recomendações para os líderes da cúpula do G20, a fim de influenciar as políticas do grupo.
Existem atualmente nove grupos de engajamento do G20, cada um representando uma área específica:
Business 20 (B20): representa o setor empresarial;
Civil 20 (C20): representa as ONGs;
Labor 20 (L20): representa os trabalhadores;
Science 20 (S20): representa a comunidade científica e acadêmica;
Think 20 (T20): representa os grupos de reflexão;
Women 20 (W20): representa as mulheres e a igualdade de gênero;
Youth 20 (Y20): representa os jovens;
Urban 20 (U20): representa as cidades.
Startup 20 (U20): representa o ecossistema de startups.
O G20 tem reconhecido cada vez mais a importância das startups e das pequenas e médias empresas (PMEs) – do empreendedorismo em geral – na promoção do crescimento econômico e do empregos. Em algumas reuniões anteriores do G20 já tinham realizado diálogos com representantes do setor de startups e PMEs, a fim de ouvir suas preocupações e desafios e discutir possíveis soluções.
Por exemplo, em 2019, durante a presidência do Japão no G20, foi realizada a primeira reunião do “Diálogo Empresarial do G20 com Startups e PMEs”, com o objetivo de discutir a promoção do empreendedorismo e a criação de um ambiente favorável para as startups e PMEs. Além disso, vários países do G20 têm iniciativas internas para apoiar as startups. Por exemplo, a Alemanha tem o programa “Startup Alemanha”, que oferece financiamento, suporte e mentoria para startups em fase inicial, enquanto a Índia tem o programa “Startup Índia”, que oferece incentivos fiscais e outros benefícios para startups.
A Índia, como presidente do G20 em 2023 e observando a importância econômica das startups no desenvolvimento econômico e social das nações do grupo, criou o Startup 20, para que os temas relativos ao ecossistema possam ser elucidados, caminhos para cooperação internacional possam ser encontrados e para que possíveis desafios internos de cada país possam ser direcionados com a ajuda coletiva das experiências dos que já conseguiram avançar em determinados temas.
Eu tive o privilégio de ser convidada pelo Brasil para nos representar como delegada brasileira do Startup 20 e colaborar juntamente com os delegados das demais nações, e fui para a primeira reunião do grupo de engajamento em Hyderabad, na Índia, nos dias 28 e 29 de Janeiro.
O objetivo inicial dessa primeira reunião, além de dar o start no grupo de engajamento, era mostrar um panorâma geral do ecossistema de startups de cada uma das nações que compõe o G20, como por exemplo o número de startups, unicórnios e programas para desenvolvimento e fortalecimento do setor, e ouvir de cada uma delas quais seriam os assuntos prioritários na visão dos delegados.
Confesso que foi muito emocionante ver que o Brasil, por mais desafios que tenhamos, vem sendo grande expoente e protagonista no setor de startups! Em apenas 5 anos, saímos de zero unicórnios para 30, um feito e tanto levando em consideração que nesse meio do caminho tivemos uma pandemia que abalou bastante a economia global de maneira geral.
Adicionalmente, somos referência quando o assunto é regulação financeira, e não podemos deixar de citá-la para falar do avanço que isso proporciona para a criação das startups de serviços financeiros de uma maneira geral, e que mostra para todos os membros do G20 que para falar de inovação, startups e empreendedorismo, não podemos nos reunir apenas com o setor privado ou apenas com o setor público, há a necessidade de todos os atores estarem juntos para que possamos caminhar para um resultado expressivo econômico e social.
Teremos pelo menos mais 4 reuniões do Startup 20 ao longo desse ano, e no próximo ano o Brasil será o presidente do G20, o que representará uma responsabilidade nossa também no grupo de engajamento de startups. Até lá, espero estarmos ainda melhores, não apenas nos números, mas também nos acordos bilaterais que esse trabalho proporcionará entre os países membros, e que isso resulte em mais negócios, mais startups interessadas em Brasil, mais empreendedorismo, mais fluxo financeiro para nosso ecossistema, e finalmente, mais PIB para nosso país e benefícios para nossa população. Esse é o pequeno passo para que o mundo consiga enxergar o grande impacto que já está acontecendo dentro do universo das startups!
* Ingrid Barth é presidente da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), é fundadora da Linker e teve carreira desenvolvida em bancos internacionais com foco em gestão de relacionamento para grandes corporações nacionais e multinacionais.
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