* Por Gustavo Junqueira
As corporações passam uma imagem de estabilidade. Quem as vive por dentro sabe que essa tal estabilidade não existe. O mundo se transforma o tempo todo, de forma cada vez mais acelerada, e a corporação precisa transformar-se, adaptar-se… inovar!
Esta equação representa um grande desafio, e grande responsabilidade, para as áreas de inovação das corporações. Como assumir riscos num ambiente que não tolera erros? Porquê encampar projetos de longa maturação se a avaliação é de resultados de curto prazo? Qual a disposição para ousar e testar caminhos novos? Vamos assumir os ônus e bônus de criar o futuro ou vamos seguir os concorrentes? Nossa estrutura corporativa de incentivos garante a dedicação dos nossos executivos nesta empreitada?
Neste contexto, o Corporate Venture Capital (CVC) tem se mostrado uma ferramenta poderosa para ajudar as corporações nos dilemas da inovação. O CVC serve como um portal para iniciativas incipientes, ou que demandam decisões rápidas, ou ainda aquelas cujo potencial é enorme mas o tempo de maturação é longo… O CVC consegue acompanhar e testar iniciativas que a corporação normalmente elimina no nascedouro.
Estudo da CB Insights mostra que o CVC tem crescimento constante no mundo desde 2016 e bateu recorde neste 1º semestre de 2021: mais de US$ 79 bilhões, investidos globalmente em mais de 2000 oportunidades. Este valor representa um crescimento de 133% em relação ao semestre anterior, que já era o recorde de investimentos CVC.
Dentre as iniciativas do CVC, há uma ferramenta que destaca-se nos EUA e Europa que ainda é pouco utilizada no Brasil: o investimento em fundos abertos especializados em inovação (Venture Capital). Estes fundos, geralmente buscados por investidores financeiros, têm a) equipe experiente na área e especializada em inovação; b) capacidade de atração dos melhores empreendedores; c) incentivos de longo prazo, no sucesso dos empreendimentos; d) leitura independente sobre o que está acontecendo no mercado; e) ampliam a potência individual dos recursos alocados; f) foco no sucesso do projeto o tempo todo, sem correlação com os humores dos resultados de curto prazo; g) governança e regulação próprias e adequadas à necessidade da inovação.
São características desejáveis que uma corporação dificilmente conseguiria reproduzir 100% internamente. Portanto, o investimento em Fundos de Venture Capital deveria ser considerado como ferramenta complementar à estratégia de CVC. Já que a única coisa realmente estável é a mudança, que tal também investir na mudança com especialistas?
* Gustavo Junqueira, é sócio e COO da KPTL.