* Por Carol Strobel
Faz mais de uma semana que o Silicon Valley Bank fechou as suas portas, um banco icônico para o ecossistema, que tinha sede no Vale do Silício e era voltado para o ecossistema de inovação: startups e fundos que financiam estas empresas.
Vamos aos fatos: a questão da quebra do SVB envolveu uma falta de diligência financeira, e não teve uma relação direta com o valuation de startups. O banco passou por uma retirada de valores muito acima do esperado no primeiro trimestre, resultando em perdas financeiras nas vendas de papéis prefixados, antes do vencimento. Houve, também, uma tentativa de aumento de capital que não teve sucesso.
O mercado reagiu mal, as ações do banco caíram e os clientes começaram a tirar os seus fundos de lá. Esse movimento, em manada, para tirar dinheiro do banco foi o primeiro que aconteceu em um ambiente altamente digitalizado, ou seja, tudo foi muito rápido. Em 48 horas, o banco quebrou. Só no dia 9 de março, mais de US$40 bilhões foram sacados.
Como o SVB tem uma enorme concentração na indústria do venture capital, houve uma preocupação muito grande sobre os valores que permaneceram no banco. Felizmente, a intervenção do FDIC, Federal Deposit Insurance Corporation, (um tipo de Fundo garantidor de créditos nos Estados Unidos) foi positiva e garantiu que todos os valores depositados seriam liberados.
Apesar da tranquilidade do ecossistema de venture capital, o mercado financeiro foi muito afetado, pois na mesma semana, outros dois bancos menores fecharam as portas e um dos maiores bancos suíços também demonstrou fragilidade nos seus relatórios financeiros. Claro que o assunto ainda pode ter desdobramentos, mas a rapidez e seriedade com que este assunto tem sido tratado pelos reguladores, foi até agora, capaz de conter maiores danos de maneira eficiente.
Depois de alguns anos passando por ciclos, me acostumei a ser mais cautelosa, mas também passei a ser mais otimista e olhar o lado bom das coisas. Este cenário, por exemplo, apesar da destruição de valor, também possibilita que os juros americanos sejam readequados para um patamar mais baixo, o que pode favorecer a indústria da inovação. Também se cria uma grande oportunidade para que as fintechs e os bancos criem novos produtos para atender os “órfãos do SVB”.
Diante deste acontecimento, quais as aprendizagens que a gente, do ecossistema, não pode esquecer?
- Diligência financeira: casar despesas com receitas é um básico de finanças, né? Se a sua startup tem despesas em reais, o dinheiro precisa ficar nessa moeda. Depois…aproveite esse momento para reavaliar as suas políticas financeiras e tente estabelecer alguma redundância, ou seja, crie mais de um relacionamento bancário nos países onde a startup tem estruturas societárias.
- Cenários de captação sempre podem mudar, especialmente por questões macroeconômicas. Por isso, o modelo das startups precisa responder algumas perguntas básicas para viabilizar a captação de um novo round: existe uma dor sendo resolvida com um produto viável, que consegue agregar valor ao cliente final em um mercado grande o suficiente? Se sim, perfeito!
E se o que falta é capacidade de entrega, ótimo, pois esse é o melhor problema para um investidor ajudar a resolver.
Última recomendação: O caos é o melhor ambiente para hackers e fraudes – é hora de tomar cuidado.
Carol Strobel é sócia fundadora da Antler no Brasil e sócia operacional da Redpoint eventures, com mais de 20 anos de experiência em investimentos em tecnologia, construção de negócios e projetos de transformação digital. Foi diretora da Intel Capital para a América Latina por mais de uma década e diretora de inovação de empresa de capital aberto. Consultora digital reconhecida e conselheira de empresas de capital aberto.
Acesse aqui e saiba como você e o Startupi podem se tornar parceiros para impulsionar seus esforços de comunicação. Startupi – Jornalismo para quem lidera a inovação.