* Pablo Gomes Kiipper
Um termo que há cinco anos era novidade para grande parte da população brasileira, hoje é essencial para a economia nacional: as startups, isto é, empresas que desenvolvem modelos de negócio altamente escaláveis baseado em soluções tecnológicas para resolver problemas específicos de diferentes setores. Elas se tornaram opções viáveis para quem tinha uma boa ideia e queria ser empreendedor e também para investidores que buscavam diversificação na estratégia de investimentos.
Após uma década de crescimento, consolidação e popularização, investimentos na modalidade capital de risco (Venture Capital) se mantém aquecidos, impulsionado pelo alto grau de maturidade das startups que surgem a cada semana, pela taxa de juros em nível recorde de baixa, deslocando investidores de renda fixa para alternativas que possuem um retorno mais atrativo e a popularização dos crowdfundings, que são uma nova forma de levantar recursos financeiros.
Os dados mostram a importância dessas empresas. O relatório Brazil Digital Report, realizado pela consultoria McKinsey & Company e pelo programa Brazil at Silicon Valley, mostra que há no país mais de 10 mil startups, sendo que quase a metade (46%) tem menos de dois anos de idade e são responsáveis por gerar mais de 30 mil empregos diretos, mesmo em um cenário de instabilidade econômica nos últimos anos. Já o crowdfunding também cresceu: a captação nesta modalidade saltou de pouco mais de R$ 8 milhões em 2016 para mais de R$ 46 milhões em 2018, segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
É preciso reconhecer que o mercado de startups cresce bastante há praticamente dez anos. A questão é que, no começo, misturavam-se empreendedores de boas ideias e aventureiros que tinham pouco ou nenhum conhecimento sobre como estruturar um negócio – o que preocupava os investidores.
Agora, observa-se justamente o contrário: há muitos profissionais com especialização e conhecimento, alguns sem o sonho de transformar o setor como os de antigamente. Eles caçam ideias que possam fazer dinheiro rápido para saírem e apostarem em outros projetos – uma situação que também deixa o investidor receoso.
O que faz do momento atual favorável é justamente o equilíbrio que começa a se observar entre os dois extremos. Pessoas com conhecimento, motivação e boas ideias estão dispostas a criar empresas que realmente têm a preocupação de crescer e se consolidar, permitindo diversos tipos de modelo de negócio, uns mais agressivos, típicos da indústria de Venture Capital, e outros mais sustentáveis, que tem um risco e retorno menores
Investidores institucionais de grandes alocações de capital e a estratégia de saída baseada quase que exclusivamente na valorização das ações dentro do prazo do fundo. Investidores individuais por sua vez podem acomodar estratégias de dividendos e tem mais flexibilidade quanto ao tamanho e duração do investimento. O caminho para isso passa justamente pela consolidação do crowdfunding.
Em vez de buscar um único grande investidor, que certamente vai promover transformações significativas na estrutura e no quadro social da companhia, é possível reunir 100, 200 pessoas que pagam um valor muito menor, mas demonstram maior afinidade e conhecimento com o setor. Ideal tanto para empresas que estão iniciando suas operações quanto para investidores que buscavam novas formas de investimento.
O cenário macroeconômico também se mostra extremamente vantajoso para aquecer o mercado de startups no país. A taxa de juros está no menor patamar da história e a economia dá sinais claros de recuperação. Isso faz investidores ousarem mais na busca por ativos que oferecem retornos melhores.
Um investimento de alto risco antes era, por exemplo, comprar ações na bolsa de valores; hoje é possível comprar cotas de empresas por meio do crowdfunding. Com o financiamento coletivo, é possível comprar parte de uma startup e, lá na frente, quando o negócio se mostrar rentável, ela pode recuperar muito mais do que investiu, além de vantagens exclusivas aos novos sócios na distribuição dos produtos e serviços .
Com todos esses fatores combinados, espera-se um crescimento e amadurecimento do mercado de startups no país, permitindo que boas ideias não dependam exclusivamente de investidores de risco (VC) para saírem do papel ou expandirem seus negócios. Ou ainda: que investidores possam diversificar sua carteira, encontrando boas ofertas, que são exclusivas dos fundos maiores, que podem render muito mais no futuro. Agora chegou a vez dos empreendedores que desejam apenas trabalhar e oferecer ao seu segmento um produto ou serviço de qualidade com crescimento sustentável, algo que realmente pode mudar a vida das pessoas.
* Pablo Gomes Kiipper é Sócio Jurídico da Vesta Partners, boutique de assessoria financeira e consultoria para empresas que desejam construir, crescer e transformar seus negócios.