* Por Luiz Fialho
O Venture Capital (VC), tradicional modelo de investimento para empreendedores, tem sofrido pequenas disrupções. Durante os últimos anos no Brasil, novos formatos de VC se tornaram mais frequentes, impulsionados pela redução da taxa Selic, que levou os detentores de capital para novas alternativas de investimento.
Apesar de estarmos atrás de ecossistemas de startups mais evoluídos, como os EUA e a China, acredito que estamos evoluindo rápido e que alguns desses novos formatos devem crescer consideravelmente como opções de investimento para empreendedores em 2022.
Em nossos trabalhos na área de Corporate Venture Capital (CVC) na ACE Cortex, a consultoria de inovação corporativa da ACE, percebemos que quatro grandes modelos de VC devem crescer nos próximos anos: fundos bootstrap; financiamentos de receita previsível; rolling funds; e solo-capitalists.
Fundos Bootstrap
Alguns dos questionamentos sobre o modelo de VC tradicional são a alta diluição das participações dos empreendedores, assim como a falta de opção aos fundadores – em razão da pressão por um crescimento acelerado e a qualquer custo.
Por conta disso, o Venture Debt tem surgido como uma boa alternativa, já que atrela o retorno do fundo à participação nas receitas ou no lucro da startup. Isso gera uma opção para a equipe empreendedora, que preserva o seu equity por meio da rentabilidade do seu negócio. Para o investidor, há uma maior previsibilidade do retorno do capital.
O Indie.vc, que tem um modelo de pagamento do fundo com percentual da receita, o Earnest Capital – com o modelo de compartilhamento do lucro -, o TinySeed e o Boostlab do BTG Pactual são alguns dos principais exemplos da operação deste modelo.
Financiamento de Receita Previsível
Com as taxas de juros globais em baixa, o custo de capital para empreendedores vem reduzindo. Esse cenário, em conjunto ao modelo de recorrência do SaaS (Software-as-a-Service), propiciou o surgimento de um novo modelo de financiamento.
No formato de Financiamento de Receita Previsível, startups podem vender sua receita recorrente para investidores e, assim, investir no crescimento do seu negócio. Com isso, o empreendedor integra o faturamento de sua empresa ao financiador, possibilitando a escolha de quais faturas podem ser vendidas, recebendo crédito por isso instantaneamente.
A Pipe é uma empresa que está fazendo isso muito bem nos EUA e já levantou US$ 60 milhões da Tribe Capital. No Brasil, há algumas empresas construindo negócios similares para financiamento de fluxo de caixa de empresas SaaS, como a a55.
Rolling Funds (Fundos Rolantes)
A Angellist, plataforma que conecta stakeholders do ecossistema global de startups, lançou recentemente um novo formato de investimento em VC: os Rolling Funds (Fundos Rolantes). Como o nome diz, trata-se de uma operação “rolante”, ano a ano, ou seja, sem data para encerrar a captação.
Funciona da seguinte forma: um gestor ou empreendedor, com boa audiência e credibilidade, utiliza a plataforma da Angellist para estruturar operacionalmente seu fundo, evitando diversas burocracias, e levantar os recursos necessários. Os aportes pelos investidores são feitos por meio de um compromisso anual, com desembolsos trimestrais.
Um exemplo recente: Sahil Lavingia, fundador do Gumroad, plataforma para criadores de conteúdo, captou US$ 5 milhões utilizando apenas o Twitter e uma apresentação no Zoom. Ele aproveitou sua audiência nas redes sociais e a viralidade do tópico para fazer a captação. Neste link, ele apresenta o racional de como funcionam os aportes pelos investidores e sua tese de investimento.
Solo-Capitalist
Em grandes rodadas do mercado Early-Stage, também vem acontecendo outra tendência: pessoas físicas liderando rodadas. Os chamados “solo-capitalists” são ex-empreendedores ou executivos, com influência e experiência em segmentos específicos, que lideram aportes de VC.
O solo-capitalist, geralmente, é gestor de um fundo, ou possui um fundo próprio, com outros poucos investidores nele. Os recursos são alavancados pela marca pessoal dessa pessoa e, normalmente, esses investidores lideram rodadas Seed e Series A, com cheques maiores que US$ 5 milhões, competindo diretamente com fundos.
Por conta da empatia e proximidade dos solo-capitalists, empreendedores têm recorrido a eles, usufruindo de sua expertise e parceria. Alguns casos recentes nesse formato são: a rodada de Series-C da Front (contada nesse post da cofundadora); e a rodada de US$ 15 milhões na NexHealth.
* Luiz Fialho é Head de Corporate Venture Capital (CVC) na ACE Cortex.