* Por Pedro Waengertner
Um dos fenômenos interessantes de observarmos, à medida em que nosso ecossistema empreendedor evolui, é a aquisição de startups por outras maiores. Esta é uma prática bastante usual em mercados mais maduros, como o do Vale do Silício, e está se tornando cada vez mais comum no Brasil.
No fim do ano passado, tivemos a aquisição da Decorati, que trabalha com reformas completas em apartamentos, pela Loft, unicórnio especializado no setor imobiliário, cujo negócio principal atual é a compra, reforma e venda de imóveis. Ao efetuar a aquisição, a Loft trouxe uma nova linha de receita, mas também expertise em gerenciar centenas de obras simultaneamente e, o mais importante, novos executivos com espírito empreendedor.
Acredito que este último ponto é o mais importante deste processo. Trazer a bordo gente que pensa e executa como empreendedores. Para negócios em franco crescimento, onde mais importante do que estabilizar processos é descobrir como fazer melhor as diversas atividades da empresa e resolver problemas difíceis o dia todo, ter empreendedores em funções-chave é crítico para a continuidade do crescimento da empresa.
A maioria das aquisições trazem um produto novo a bordo, uma base de clientes, e competências que a startup precisa adquirir rapidamente. Mas mais do que isso, traz talentos. Se isso é verdade, por que as grandes corporações também não estão fazendo esta movimentação? Na verdade, estão, com experiências bastante variadas.
Quando uma grande corporação compra uma startup, há um choque cultural, uma tendência dos fundadores ficarem desmotivados com as rotinas de trabalho e aversão ao risco presentes nestes ambientes. Sendo assim, a maioria das aquisições de startups feitas por grandes empresas acabou focando na incorporação do produto e base de clientes. Algumas aquisições tiveram olhar estratégico e foram sábias ao isolar a startup adquirida, mantendo os empreendedores livres para operar o seu negócio e fornecendo toda a ajuda necessária para que cresçam.
Já a compra por parte de outra startup tem uma probabilidade muito maior de dar certo quando o tema é a integração dos negócios. São pessoas que falam o mesmo idioma, com semelhanças culturais claras. Uma empresa que já deixou de ser uma startup há alguns anos, mas continua fazendo isso e tomando o cuidado de colocar empreendedores em diversas posições-chave do negócio é a Stone, apresentando crescimento agressivo no setor de meios de pagamento, que vem sofrendo forte transformação. E acredito que o segredo está aí.
Se o objetivo é realmente transformar o negócio e olhar as novas oportunidades de mercado de maneira agressiva, ninguém melhor do que um time empreendedor para colocar o ritmo de crescimento necessário. Entendendo que estas pessoas se movem por razões muito além do dinheiro pode dar uma perspectiva interessante. Os empreendedores buscam realização e propósito, fazer coisas grandes. E quando uma empresa dá estas condições, existe uma alta probabilidade de retenção destes profissionais e resultados importantes no longo prazo.
* Pedro Waengertner é CEO e fundador da ACE, empresa de inovação que investe em startups e desenvolve projetos de consultoria para grandes empresas.