*Por Bernardo Teixeira
“Nossa, na minha época…” Quantas vezes a gente já não se pegou falando, ou pelo menos pensando isso, quando vemos algo que hoje é normal e antigamente, funcionava de forma completamente diferente ou sequer existia? Isso vale para praticamente tudo o que existe ao nosso redor, nas mais diferentes frentes.
Vou citar aqui alguns exemplos: nos carros, a direção hidráulica era um “luxo” desnecessário. Câmbio automático idem. Hoje, você imagina algum carro top de linha sem os dois equipamentos? Em alguns países nem existem mais carros manuais à venda. Já dentro das nossas casas era comum as famílias que tinham apenas uma televisão, sempre na sala. E o tamanho da tela? Quando grande, era de 24 polegadas. A chegada das telas de 29, ainda nos modelos de tubo, foi uma grande revolução. Hoje, uma TV de LED com 32 polegadas é considerada pequena. Quem tem mais de 30 ou 35 anos com certeza em algum momento da vida já gravou fitas no rádio. O processo era uma tarefa quase artesanal. A pessoa era obrigada a ficar ouvindo o rádio por algumas horas até começar uma música que merecia destaque na fita. Levantava correndo de onde estava, apertava o “REC” o mais rápido possível e desligava ao final da música. Discos de vinil, Fitas K7, CDs. Disquetes, DVDs, Blu Ray, Fita VHS, filme de câmera fotográfica, locadora de filmes. Tudo isso foi substituído pelo Spotify, Netflix e cia. Um smartphone básico de hoje tem 10, 100, 1.000x mais capacidade, memória e recursos do que equipamentos caríssimos e específicos de algumas décadas atrás.
Quando o assunto é dinheiro, a coisa também não é muito diferente. Lá atrás, antes das notas, cartões e PIX, o fluxo era inteiramente feito a partir de trocas. Duas facas por um arco e flecha, um bezerro por 50 quilos de café e assim por diante. A palavra salário, por exemplo, vem do SAL, pois os imperadores romanos costumavam pagar seus soldados com esta especiaria. À medida que as civilizações foram aumentando de tamanho e de complexidade esse tipo de operação passou a ser cada vez mais difícil. Imagina a dor de cabeça para vender um terreno, por exemplo, por 200 bois. E se o vendedor não quisesse 200 bois? Teria que achar alguém que quisesse, e em troca receberia digamos 100 toneladas de soja. Mais uma vez, o que fazer com 100 toneladas de soja? Em algum momento, as pessoas perceberam que precisavam de algum item mais simples de ser armazenado e que funcionasse como “coringa”.
Nasceram daí as primeiras moedas, feitas de metais preciosos. Ouro, prata, cobre. O valor que elas tinham estava diretamente ligado à escassez, pois não era simples achar esses metais na natureza. Então, na situação citada acima, para vender um terreno, em vez de trocar por 200 bois, a troca era feita por duas mil moedas de ouro, por exemplo. Com as moedas, a população passou a ter poder de escolha. Durante muito tempo, esse sistema fez sentido e isso permitiu que as sociedades seguissem evoluindo e crescendo.
Mas, novamente, chegou um ponto onde esse sistema deixou de ser prático. Como transportar quilos e mais quilos de ouro? E como proteger esse montante inteiro? Daí surgiram os primeiros bancos e com eles, o papel moeda. O banco nada mais era do que alguém que se responsabilizava pela custódia desses metais (ouro, prata) e em troca, emitia títulos/cartas que tinham o valor equivalente, possibilitando assim viajar agora com alguns papéis no bolso, as notas e não mais com quilos de moedas.
Quando o mundo começou a se digitalizar, a evolução chegou também ao dinheiro. Surgiram os cheques, que na prática representam uma nota de valor “aberto”, onde o portador pode escrever qualquer valor. Veio também o cartão de crédito, onde o banco dá um voto de confiança ao cliente e paga ao lojista, antecipadamente. Os próprios cartões também evoluíram muito, sendo bem diferentes hoje do que eram antes. As primeiras máquinas eram 100% analógicas, e era preciso folhas de carbono para copiar os dados do cartão para um recibo onde o comprador assinava. Depois a assinatura passou a ser no papel impresso pelas máquinas mais modernas. Aí veio o chip, que abandonou as assinaturas, trocando-as pelas senhas. E nos últimos anos, os pagamentos por aproximação onde você sequer precisa estar com o cartão físico, se tiver os dados no celular ou no smartwatch.
O Bitcoin é o próximo passo. E mais importante: ele não é apenas uma nova “versão” do dinheiro. O Bitcoin é uma revolução financeira. Pela primeira vez, uma pessoa não precisa de bancos para enviar dinheiro para um amigo, esteja ele na esquina ou do outro lado do mundo. Pela primeira vez, os Governos e Bancos Centrais não detém o poder na emissão de uma moeda.
Em 2020, acompanhamos os Bancos Centrais do mundo inteiro imprimindo bilhões de dólares, euros e reais sem que esse dinheiro tenha sido gerado em troca de algum bem, produto, serviço ou valor agregado. Sabemos o que isso vai gerar: inflação. O dinheiro impresso só tem valor se ele for conquistado e gerado em troca de algo que tenha também gerado algum valor de fato. Se não fosse assim, seria muito simples resolver todos os problemas de pobreza do mundo. Bastaria imprimir notas de dólar e distribuir livremente. Mas, uma vez que o mundo estivesse inundado de dólares (ou qualquer outra moeda), as pessoas passariam a comprar e consumir muito mais. Não haveria alimento, roupas e bens para todos e os fabricantes seriam obrigados a aumentar o preço. E é desta forma que nasce a inflação!
É por isso que o Bitcoin se difere das moedas fiduciárias. Sua emissão é 100% previsível, programada e reduzida com o passar do tempo. Hoje são criados, aproximadamente, 6 Bitcoins a cada dez minutos. Daqui a 3 anos, serão 3. Em 10 anos, menos de 1 e assim por diante. Isso torna o Bitcoin uma moeda deflacionária, que sempre tende a valer mais por conta da lei de oferta e demanda.
É impossível prever o futuro e para onde as coisas vão evoluir. Como serão os carros daqui a 50 anos? Teremos humanos vivendo em Marte até o final do século? A China passará os EUA como país dominante na economia nos próximos 20 anos? Ninguém sabe. Mas uma coisa é certa: o Bitcoin e as moedas digitais vieram para ficar. Isso não quer dizer que eles seguirão se valorizando eternamente. Mas quer dizer que cada vez mais as pessoas irão se acostumar com a ideia de que existe uma moeda digital, que não é emitida por Governo nenhum e que é 100% descentralizada. Seja por amor à tecnologia, seja por necessidade técnica ou por uma oportunidade de investimento, não faz mais sentido não ter um pouco do seu dinheiro guardado em Bitcoin.