* Por Wataru Ueda
A balança comercial brasileira fechou o último mês com números bastante animadores. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia, foram US$ 7,3 bilhões de superávit.
Assim, nos primeiros sete meses do ano, o saldo acumulado está positivo em US$ 44,1 bilhões, um aumento de 48,6% sobre o mesmo período de 2020.
Muito desse saldo se deve à excelente safra agrícola e à grande alta no minério de ferro. Entretanto, não podemos apenas olhar para o potencial do Brasil em produzir commodities. Precisamos, de forma incessante, produzir, exportar e falar mais sobre tecnologia.
É inegável a força global da ciência nos tempos atuais e quanto às transformações que ela promove colocam os países em diferentes patamares. O poder de hoje está cada vez mais correlacionado à capacidade de evolução tecnologia e produção de inovações em larga escala. Trata-se de um debate inadiável.
Uma análise detalhada da Confederação Nacional da Indústria (CNI) publicada em junho aponta que as exportações de produtos de alta intensidade tecnológica cresceram 4% no primeiro trimestre de 2021, na comparação com o mesmo período do ano passado. O valor passou de US$ 1,29 bilhão para US$ 1,35 bilhão. Seria uma ótima notícia, mas apesar do crescimento, esse foi o segundo pior 1º trimestre desde o início da divulgação dos dados por intensidade tecnológica, em 2010.
No mesmo período, as importações de bens de alta tecnologia cresceram 18%, passando de US$ 6,8 bilhões para US$ 8,1 bilhões. Um exemplo emblemático: as aquisições de produtos chineses subiram 46%, de US$ 2,06 bilhões para US$ 3,0 bilhões. Foi a maior alta entre os países dos quais o Brasil compra esses bens. Isso reforça a posição da China como principal fornecedor de bens de tecnologia para o Brasil, com 38% do total.
Ora, vejamos a relevância do papel que a China exerce hoje na produção tecnológica global. Apenas em 2020, foram US$ 60 bilhões em celulares, US$ 140 bilhões exportados em computadores e US$ 231 bilhões em aparelhos de transmissão, como televisores, rádios, antenas e roteadores de wi-fi. É claro que a China ainda é o país mais populoso, com 1,4 bilhão de habitantes, além de ser a segunda maior economia do mundo. Mas a tecnologia ajuda a explicar essa dominância.
Do lado de cá, o ecossistema de inovação brasileiro precisa lutar para mostrar sua relevância não só hoje, mas para as próximas décadas. Dentro de várias áreas a tecnologia é essencial para expansão e competitividade. Mas poucas são tão afetadas quanto a indústria da saúde.
Hoje a indústria da saúde é global e interdependente, já que muitos países compram itens de vários países. Não há dúvidas de que há uma dominância chinesa e norte-americana no setor. Contudo, ter competidores brasileiros com a capacidade tecnológica de alto nível à disposição para atender outros mercados é algo valioso. E que tende a ser cada vez mais um fator-chave no progresso das economias. Isso ficou ainda mais claro com a pandemia, com a concentração dos grandes produtores de ingredientes farmacêuticos ativos (IFA) das vacinas, e de máscaras, por exemplo. Sem contar os ventiladores pulmonares, fundamentais no início da covid-19.
Sem dúvidas nossa produção de commodities é essencial – e também pode ganhar em competitividade com mais inovação aplicada à cadeia de desenvolvimento – mas temos a capacidade de criar e exportar cada vez mais produtos e serviços de base tecnológica. O país exportador aumenta sua produtividade por conta do aumento da escala de produção. A compensação do recolhimento dos impostos internos acarreta uma redução da carga tributária. Como precisam atender às normas e aos padrões internacionais, as empresas que exportam antecipam tendências do mercado interno. Outro ótimo efeito deste círculo virtuoso é o fortalecimento da empresa, que muitas vezes torna-se referência nacional para outras que pretendam prospectar no mercado externo.
Por outro lado, também há grandes desafios. Empresas inovadoras têm um tempo de retorno financeiro mais longo, já que as primeiras exportações podem não ser tão rentáveis quanto a empresa imaginava. As diferenças culturais demandam cuidados maiores com as transações e a expectativa dos clientes em relação à eficiência dos produtos. A empresa precisa contar com colaboradores com ótimo nível de proficiência em idiomas e culturas estrangeiras para fazer o comércio exterior fluir com desenvoltura.
Enfim, nenhuma das grandes potências tecnológicas contemporâneas chegou ao status atual sem querer. Países como Estados Unidos, China, Coréia do Sul e Japão elaboraram ao longo de décadas sofisticados planos de fomento à tecnologia e inovação, com grande ajuda governamental. Temos de pensar em políticas públicas e privadas de incentivo para que nossa reconhecida criatividade, perseverança e potencial sejam agentes transformadores do nosso Brasil.
* Wataru Ueda é CEO da Magnamed.