* Por Marcelo Navarini
Devido ao avanço da variante Ômicron entre os meses de janeiro e fevereiro deste ano, os desfiles de carnaval do Rio Janeiro e de São Paulo foram adiados para abril, mês em que também é celebrado o feriado de Páscoa. Ambas as datas costumam ser bastante significativas para o comércio, o que por sua vez, nos proporciona um cenário atípico no mercado varejista brasileiro.
A Páscoa será comemorada no dia 17, e os desfiles começam no dia 21, (data em que também é celebrado o dia de Tiradentes). O fato é que essa mudança no calendário do comércio brasileiro já causou alguns impactos. No caso do carnaval, por conta da falta de blocos de rua, alguns prejuízos já foram percebidos. De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o setor de serviços deve deixar de lucrar cerca de R$ 3 bilhões. Em números absolutos, a CNC prevê um faturamento de R$ 6,45 bilhões, no entanto, antes da crise do coronavírus, a média era de R$ 9,5 bilhões no Carnaval.
Em vista disso, apesar do faturamento previsto para este ano ser 21,5% maior do que em 2021, ainda está 33,7% menor em relação a 2020 – ano do último evento celebrado antes da pandemia ser decretada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os fatores para esse prejuízo são muitos, já que sem os blocos há um movimento menor na rua, o turismo e o comércio de bebidas enfraquecem e há menos patrocinadores para eventos.
Por outro lado, o adiamento do Carnaval fez com que muitos comerciantes antecipassem a venda de produtos relacionados à Páscoa. Até o início de fevereiro, a venda de ovos de chocolate, por exemplo, já registrava um faturamento 48% maior do que o mesmo período do ano passado, 54% maior em relação a 2020 e 11% maior que o ano anterior.
Portanto, apesar do prejuízo no Carnaval, o mês de abril promete ser bastante movimentado para os comerciantes brasileiros, que graças ao avanço da vacinação, aos poucos estão voltando à sua normalidade. Os indicativos deste ano, tanto da Páscoa quanto do Carnaval, já são muito melhores do que os de 2021, percebemos que há fôlego para retomarmos o ritmo, ao qual estamos acostumados.
O setor de turismo pode receber um impulso importante, a combinação entre Carnaval e Páscoa trará uma janela para viagens de curta e média distância diferente para essa época do ano. Com essa janela em vista já notamos maior volume de viagens sendo planejadas, o que deve gerar um alento ao setor de turismo, um dos mais impactados durante o auge da pandemia, quando estávamos todos em casa, sem a possibilidade de realizar passeios ou viagens a trabalho.
A mistura de Carnaval e Páscoa pode ser uma boa oportunidade para avaliar como o nosso comércio, bem como os consumidores se comportarão frente a esta nova dinâmica. Além disso, fica a curiosidade de como o setor como um todo deve performar após essas datas comemorativas.
Tendo em vista nosso dito popular, de que o ano só começa após após o carnaval, o que deve acontecer? Nos meses seguintes, teremos datas sabidamente importantes para o comércio brasileiro – Dias das Mães e dos Namorados, mas certamente também iremos sentir mais fortemente os efeitos da política monetária mais restritiva através do aumento dos juros.
A projeção de crescimento para 2022, pelo relatório Focus do Banco Central, aponta para um crescimento baixo para o ano, mesmo que nas últimas semanas tenha ocorrido um ajuste marginal nas expectativas, de 0,3% para 0,5%. Ainda, o mercado vem reduzindo a projeção para 2023, o que denota a importância do varejo se preparar e aproveitar todas as oportunidades para gerar vendas.
Marcelo Navarini é COO do Bling, sistema de gestão do Grupo Locaweb. O executivo é Administrador e Mestre em Economia Internacional. Antes do Bling, Navarini atuou como Investment Officer na CRP Cia de Participações, em transações de Venture Capital e Private Equity, além de outras experiências em empresas do setor financeiro e de bens de consumo. Atualmente acumula, também, o cargo de Diretor de Operações da Pagcerto.